A jornalista Evelyn Bueno, 32, uniu as habilidades em comunicação com a destreza de quem borda desde criança e se tornou um fenômeno no Youtube. Atualmente o canal “Linhas de Amor” tem mais de 88 mil seguidores que aguardam ansiosamente o vídeo semanal sobre borbados.
Boa praça, Evelyn é athleticana, mãe de pet, casada e ‘tia da van’ – trabalho de transporte escolar que faz em família, junto com o pai. Entre 2009 e 2012 estudou jornalismo na Universidade Positivo (UP), em Curitiba.
Na infância aprendeu com a mãe a bordar, habilidade que em tempos modernos muitas vezes é subestimada, mas que no ápice da pandemia da Covid-19 se tornou alento tanto para a produtora de conteúdo quanto para expectadores.
Evelyn chegou a fazer encomendas de bordados antes de entrar em um hiato e passar anos sem pegar em uma agulha. “Mas, amiga, isso é como andar de bicicleta. A gente não esquece”, pondera.
Lockdown
Durante o lockdown para conter o alastramento do coronavírus, Evelyn não pôde trabalhar – as escolas estavam fechadas, portanto as crianças não precisavam do transporte.
Ela e o marido André de Andrade ficavam o dia todo em casa, já que ele trabalha de forma remota. De começo foram livros, depois séries – e o cuidado com o cachorro Dustin. No entanto, com o tempo, as possibilidades de entretenimento foram se esgotando. Foi aí que o borbado retornou.
“Eu voltei a bordar durante a pandemia, peguei umas encomendas para família e amigos e aí surgiram mais. Só que me dava um trabalho danado mandar todas as fotos para cada pessoa, então decidi criar um Instagram”, relembra.
Nesta página surgiram os primeiros pedidos para que ela ensinasse as pessoas a fazerem os bordados. André incentivou a ideia e sugeriu um canal no Youtube.
Medo do flop
Todo produtor de conteúdo é atormentado pelo medo de flopar. O termo é usado quando o conteúdo não performa bem, quando fracassa. Evelyn não passou incólume a esse medo. “Só dá para fazer conteúdo na internet se você se garante mesmo sobre o assunto. Eu tinha medo de flopar, mas estava confiante e sabia do que estava falando porque é algo que eu amo fazer”.
Os vídeos foram gravados em formatos de aulas, bem detalhados – alguns têm mais de uma hora – e são editados por André. De jornalista e ‘tia da van’, Evelyn virou professora de borbado.
E quem procura informações sobre esse assunto na internet geralmente são mulheres mais idosas. As métricas do canal demonstram que o público que mais interage é 65+.
O vídeo de apresentação foi postado há três anos e tem 6,2 mil visualizações. O vídeo que tem a primeira aula ensina o expectador a fazer um ponto conhecido como vagonite. Este conteúdo foi produzido mais de 26 mil vezes.
O medo do flop se transformou em uma oportunidade de ensinar e interagir com outras borbadeiras de todo Brasil e do exterior.
Linhas de Amor
Quem olha os comentários dos vídeos no canal pode achar curiosa a existência de avatares do Minecraft ou de personagens de anime. Isso acontece porque muitas das pessoas que estão inscritas no canal não têm conta no Google e usam os e-mails dos netos ou filhos.
Já nas outras redes sociais – como Facebook e Instagram – onde há outras milhares de pessoas interessadas em borbado nos perfis do Linhas de Amor as fãs reclamam que não conseguem comentar no Youtube porque a plataforma “pede um tal de login”.
“E apesar disso, por causa do volume de comentários e mensagens eu não consigo responder todas. No começo eu olhava uma por uma, agora eu, infelizmente, não dá”, lamenta a youtuber.
O fato de as pessoas ficarem em casa durante a pandemia – sobretudo a população idosa, mais vulnerável – aumentou o tempo médio de permanência online das pessoas.
Conforme levantamento da Talkshoppe, feito a pedido do Google, a média de visualizações diárias de conteúdo no Youtube subiu mais de 40% no Brasil desde 15 de março de 2020, dias após a decretação do estado de pandemia.
No Brasil usuários aumentaram o tempo de uso do Youtube em 91% em julho de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da ComSchore VideoMetrix.
O Linhas de Amor foi uma maneira de muita gente cuidar da saúde mental durante o período agudo da pandemia e ainda é assim. “Muita gente que ficou mal com o isolamento me diz que os vídeos ajudaram a se distrair. E até hoje tem senhorinhas que me contam que estavam lutando contra a depressão e que o borbado ajudou”, conta Evelyn.
“Eu estou de luto em novembro perdi meu bebê com 8 meses. Ele nasceu sem vida e há 40 dias perdi o grande amor da minha vida, minha filha única, minha menina ,minha princesa com 23 anos de idade e eu tenho tentado permanecer viva (…) eu quis contar isso aqui para que você e as demais artesãs saibam o tamanho da importância dos seus trabalhos nas nossas vidas”, publicou uma inscrita.
Negócios
A projeção é de que o canal atinja a marca de 100 mil inscritos ainda neste ano. Além da audiência isso garante renda para Evelyn e André, que estão prestes a ter o primeiro filho ou filha.
A produção dos vídeos teve de ser inserida na rotina do casal – primeiro para não decepcionar a audiência que aguarda todo sábado, 18h, uma nova aula – segundo porque a expansão garantiu remuneração do Youtube para a produtora de conteúdo.
“É algo que eu amo fazer, mas também é trabalho. Os vídeos têm uma hora ou mais e diferente da maioria das professoras, eu costumo colocar o borbado inteiro terminado. Para isso tenho que decidir o tema, ver o que elas sugeriram, comprar o material, bordar durante a semana e gravar tudo de maneira com que a pessoa faça e fique igual ao meu. Aí o André edita e colocamos no ar”.
Do outro lado da tela, quem assiste às aulas também consegue fazer com que o hobby se torne complemento de renda em casa. “Hoje bordo para um Bazar beneficente. Bordei muitos jogos e vendemos para ajudar a comprar cesta básica”, diz um comentário em um dos vídeos.
Evelyn também já foi procurada por marcas de insumos para artesãs. Chegou a ser embaixadora da Karsten, uma das marcas de toalhas mais famosas do Brasil.
Hoje ela ensina oito tipos de pontos diferente e alguns dos vídeos têm mais de 255 mil visualizações no Youtube, fora o que é produzido para os 18 mil seguidores no Instagram e 8 mil no Facebook.
“O segredo nesse mundo de internet é nunca ter vaidade. Não pode ser uma massagem de ego. Eu ensino porque gosto de bordar e ensinar e recebo de volta muito carinho das pessoas que bordam comigo”.
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