Curitibano passa três dias preso em aeroporto nos EUA sem saber o motivo

Thiago Busse recebeu pouca comida e conseguiu falar com a família por poucos segundos

“Desde sábado à noite até terça de manhã eu vivi os piores dias da minha vida”, relata Thiago Nascimento Busse, 38, após passar três dias preso sem justificativa nos aeroportos de Los Angeles e de Miami, nos Estados Unidos. “Foi desesperador, um sentimento de impotência muito grande. Agora eu fico preocupado com as pessoas que permaneceram sem assistência por lá”, diz.

Os casos de violência e abuso de poder por parte da Imigiação dos aeroportos dos Estados Unidos não são novidade. No entanto, o relato de Thiago chama atenção pela falta de justificativa para a apreensão e a riqueza de detalhes.

Na noite do último sábado (19), Thiago Busse embarcou da Cidade do México para o aeroporto de Los Angeles. “Eu estava indo visitar a minha irmã que mora em Portland, já havia feito essa viagem várias vezes, sempre vou com toda a documentação correta para que não haja problemas. Inclusive, já realizei essa viagem várias vezes e nunca tive dificuldade”, conta o cineasta curitibano.

Contudo, ao chegar em Los Angeles e passar pelo controle da imigração, Thiago foi detido pelos agentes. “Começaram a me fazer perguntas e me encaminharam para uma das salas da imigração, depois disso recolheram o meu celular e eu permaneci horas esperando sem sequer saber o motivo de ter sido apreendido”, relata. “Os policiais me olhavam com uma cara de ódio, eram extremamente agressivos, naquele momento eu compreendi que já havia sido condenado”.

Thiago permaneceu horas sob custódia dos agentes da imigração no aeroporto de Los Angeles. Sem acesso ao celular, não conseguia avisar a família e muito menos receber informações sobre o motivo de ter sido impedido de completar a viagem. 

“As coisas foram escalonando e piorando de uma forma muito bizarra. Eles (agentes) me encaminharam para uma sala onde havia muitas pessoas dormindo no chão, assustadas e retraídas. Eram cerca de 40 pessoas e a grande maioria era de latinos”, desabafa em áudio encaminhado para a família após chegar em São Paulo.

O curitibano relata que as cenas vivenciadas dentro dessa sala do aeroporto foram chocantes e lastimáveis: as pessoas eram tratadas com extrema violência, arrogância e racismo. Além da falta de empatia, precisavam enfrentar também a fome. “Eu fiquei nessa sala durante dias e eles me deram dois cup noodles, bolachas e água, apenas isso”, relembra.

“Depois de muita insistência eu consegui ter acesso ao meu celular e realizei uma ligação para a minha irmã, que estava esperando que eu desembarcasse em Portland. Consegui falar apenas dez segundos, falei ‘olha, eu cheguei no aeroporto, estou vivo, mas estou preso e os policiais estão me tratando como lixo’. Neste momento, o policial tirou o celular da minha mão e desligou”, conta emocionado.

Diogo Busse, irmão de Thiago, compartilhou em suas redes sociais que a família passou dias de desespero. O cineasta relembra ainda que a irmã tentou tomar todas as providências possíveis, mas como ele conseguiu entrar em contato apenas no domingo, pouco poderia ser feito.

Humilhação em Miami

No domingo (20), Thiago Busse embarcou para Miami, escoltado pelos agentes da imigração, imaginando que finalmente conseguiria retornar para casa, em Curitiba. “Mas foi lá que eu passei a maior humilhação da minha vida, eles me algemaram na frente de todos os passageiros e foram me empurrando pelo aeroporto”, relata.

Após chegar a Miami foi imediatamente conduzido a uma cela onde havia outras seis pessoas. Os imigrantes eram mantidos em situações precárias, com acesso restrito à alimentação e informação. As nacionalidades eram variadas, mas a humilhação e o descaso com o básico dos Direitos Humanos era o mesmo.

“Fiquei nesse ambiente cerca de 12 horas, sem saber o que estava acontecendo e o porquê de estar ali. A todo tempo eu pedia informações, pedia para ligar para casa, mas em nenhum momento foi permitido. Nem a embaixada brasileira teve contato comigo”, conta o curitibano.

Retorno ao Brasil

Thiago no voo de volta ao Brasil

Na terça-feira (22) de tarde, Thiago finalmente desembarcou em Guarulhos, São Paulo, de lá embarcou para Curitiba na ansiedade de reencontrar a família. “Eu vivi os três piores dias da minha vida, não imaginava que tinha essa fortaleza emocional para aguentar tudo isso. Foi horrível, mas eu permaneço muito preocupado com as pessoas que continuam naquelas situações”, desabafa Thiago.

Até o momento, não existe nenhuma justificativa para o cárcere autoritário ao qual o curitibano foi submetido. Os advogados de Thiago Busse estão avaliando a situação e não há nenhuma decisão tomada no âmbito jurídico. Em entrevista ao Plural, Thiago comentou que houve a tentativa de contato com a embaixada brasileira, mas ainda não tiveram retorno.

“Eu acredito que existe um modus operandi na maneira de oprimir, humilhar e torturar as pessoas barradas na imigração. Minha denúncia é para que talvez consigamos ajudar as pessoas que continuam sem assistência por lá”, declara Thiago Busse.

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6 comentários em “Curitibano passa três dias preso em aeroporto nos EUA sem saber o motivo”

  1. O motivo está escrito no visto cancelado: “22 CFR 41.122 (e) (7)”, que significa “visto cancelado por ter sido usado por terceiro”. O agente de imigração não achou que a pessoa que estava tentando entrar nos EUA era a mesma do visto.

    1. Esse foi o melhor comentário… Coitado! a realidade caiu na cabeça dele como uma bigorna da ACME nos desenhos do pernalonga…não consigo parar de rir…mas é com respeito!!!!

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