Curitiba deve descentralizar vacinas, diz MP

Exigência de cadastro prévio, pelo aplicativo, também não pode existir

Ao centralizar a vacinação contra a Covid-19 no pavilhão do Parque Barigui, e exigir o cadastro prévio pelo aplicativo ‘Saúde Já’, a Prefeitura de Curitiba pretende agilizar o processo. O trabalho, porém, vem causando problemas aos profissionais de saúde, que precisam se deslocar, em massa, de seus locais de trabalho e enfrentam muito tempo na fila e aglomerações, deixando equipes e pacientes desassistidos. A forma de aplicação do imunizante também foi desmotivada por cinco entidades do sistema de justiça, que recomendam descentralizar a vacinação na Capital e em todo o Estado.

O documento foi assinado pelo Ministério Público do Paraná, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública do Paraná e Defensoria Pública da União. Nele, destaca-se que “a população deve receber as vacinas sem a exigência irrestrita da realização de cadastro prévio em aplicativo ou outra plataforma, na medida em que tal condicionamento fere a universalidade, a gratuidade e o amplo acesso aos serviços de saúde, não se impedindo, com isso, que ocorra uma identificação rigorosa no momento da imunização e que haja orientações no sentido de que o processo pode ser facilitado caso a população utilize as tecnologias já existentes e disponibilizadas”.

As instituições pedem a descentralização dos locais de vacinação, para que se tenham “condições adequadas de higiene, ventilação e distanciamento entre pessoas, com a fiscalização para correção das aplicações, evitando-se aglomerações e, em especial, para que a população tenha maior facilidade de acesso à vacinação”.

Profissionais de saúde

A dificuldade de acesso já está sendo sentida pelos profissionais de saúde. “Hoje faltaram funcionários que trabalham na área Covid porque foram se vacinar. Se eles tivessem feito essa vacinação no hospital, que é a coisa mais lógica a fazer, iam poupar uma série de problemas”, diz um trabalhador do Hospital de Clínicas. “O pessoal não está indo trabalhar no horário porque tem vacinação, daí tem que ficar pedindo para outro substituir. Tem que ficar manejando escala porque a Prefeitura inventou essa palhaçada para vacinar as pessoas desse jeito.”

De acordo com a escala da Prefeitura, o Hospital de Clínicas (HC) deve enviar 1.221 profissionais de saúde para se vacinar em apenas 18 horas, divididos em três turnos.

“O objetivo da vacinação é a descentralização, porque você não quer que as pessoas se contaminem. Agora, você pega e coloca lá mil profissionais de saúde dentro de um mesmo lugar, você está pedindo para as pessoas se contaminarem. Eu não consigo entender porque a Prefeitura fez isso”, questiona uma funcionária do HC, que prefere não se identificar.

“Levei duas horas no Barigui para me vacinar hoje. Havia pessoas de Curitiba inteira lá. A fila estava no meio do pátio”, diz outra profissional de saúde do HC, que foi procurado pelo Plural mas não se manifestou até o fechamento desta reportagem. A instituição é federal, ligada ao Ministério da Saúde, mas mesmo assim não recebeu as doses diretamente.

No Hospital do Trabalhador (HT), gerido pela Secretaria Estadual de Saúde, a situação não foi diferente. “O hospital está cheio e está sendo difícil para organização das escalas de trabalho, já que estão tendo setores que todos foram convocados para hoje. Sem falar do deslocamento, que é por conta de cada profissional. Foi caótico, porque vários profissionais da mesma equipe tiveram que se deslocar pro Barigui, dificultando a organização dos setores.”

Enfermagem

O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren/PR) reforça a recomendação feita pelos órgãos de justiça e endossa o pedido da descentralização da vacina aos profissionais de saúde de Curitiba. “Apesar do Coren/PR entender que centralizar a vacinação está relacionada à logística de segurança do imunizante, o agendamento de vários profissionais da mesma unidade de saúde é incompatível com bom funcionamento das Unidades Básicas de Saúde, Pronto Atendimentos, Clínicas e Hospitais”, explica Rita Franz, presidente da entidade.

Logística e segurança

A Secretaria de Saúde de Curitiba informou que o pavilhão “da cura”, como é chamado pelo prefeito Rafael Greca (DEM), conta com infraestrutura elétrica, hidráulica e de equipamentos, o que permitiu a rápida implantação de organização do processo de trabalho, com áreas de espera no pré-vacina e de estabilização no pós-vacina.

“O espaço possibilita maior celeridade na vacinação, condições para o distanciamento e ventilação adequada, o que favorece a segurança do público e dos profissionais encarregados da vacinação. A centralização também facilita a logística e o controle adequado das doses aplicadas, evitando que haja desvios e imunização de pessoas que não fazem parte do público elencado nos planos de imunização.”

Segundo a Prefeitura, não há registro de demora no atendimento. “Nos horários de maior fluxo, o tempo máximo de espera ficou entre 15 e 30 minutos. Além disso, o local possui acessibilidade para cadeirantes, amplo estacionamento sem custo, a Prefeitura também disponibilizou uma linha de ônibus exclusiva.”

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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1 comentário em “Curitiba deve descentralizar vacinas, diz MP”

  1. Uma palhaçada,
    No hospital onde trabalho ninguém foi chamado para se vacinar ainda. Muito mais prático e lógico se vacinar na própria instituição, como já acontece com a vacina da gripe desde sempre.

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