“Crítico nº1” de reitor da UFPR, Sunye desiste de eleição, mas rejeita nomeação de derrotado

Segundo colocado em 2016, professor afirma que é preciso seguir tradição de nomear o mais votado

Desde a eleição de 2016, quando perdeu a Reitoria da UFPR por uma margem apertada, Marcos Sunye se tornou o maior crítico do atual reitor, Ricardo Marcelo Fonseca. Durante os quatro anos da gestão, todos imaginavam que haveria uma revanche em 2020. Sunye até a última hora parecia candidato, mas desistiu.

Não que tenha parado de criticar o oponente. Pelo contrário, continua batendo duro. “A administração da UFPR fez um plano diretor tão ruim que precisou ser revisado um ano depois. A Universidade tem quase 2.000 metros quadrados e equipamentos de última geração ociosos há 4 anos. Não conseguiu iniciar uma nova obra sequer. Não otimizou em nada seus procedimentos Não conseguiu nem ao menos concretizar um sistema de reformas de telhados que, de tão podres”, diz.

No entanto, Sunye diz que pandemia não é momento de fazer eleição. A tese dele, derrotada no Conselho Universitário, era de que a vice-reitora, que tem mandato até março, permanecesse depois da saída de Ricardo Marcelo, para que a eleição fosse feita só em 2021. (Do outro lado, a proposta é vista como impossível, e a resposta dada à UTFPR em situação semelhante é de que nesse caso o governo federal nomearia um interino.)

Como não estava satisfeito com a situação, Sunye passou a ser o defensor da tese de afastamento do processo. Apesar de tudo, defende que quem for escolhido na consulta deva ser nomeado, como sempre ocorreu, e rejeita a possibilidade de o segundo colocado insistir em manter seu nome na lista tríplice na esperança de ser nomeado por Jair Bolsonaro com base em compatibilidade ideológica.

Veja a seguir a entrevista concedida ao Plural:

Por que o sr acha que a eleição deveria ser adiada?

Porque iremos fazer a eleição exatamente no auge da pandemia no Paraná- que são os meses de julho e agosto. Isso inviabiliza a campanha, as visitas aos campi e aos laboratórios, e compromete a participação de aproximadamente 5 mil pessoas envolvidas no trabalho dos nossos hospitais, cuja preocupação central é, e deve ser, o combate à Pandemia. A eleição é o principal momento de debate político na Universidade. É quando acontecem conversas com cada departamento, cada laboratório. Um aprendizado imprescindível para qualquer candidato a reitoria. E o período de interação, de troca de ideias, de sugestões e críticas, está sendo reduzido pela metade. Uma eleição sem esse diálogo acaba sendo apenas pelo resultado da votação e não pelo processo.

Essa posição foi derrotada no Conselho Universitário, e seus opositores dizem que a resposta dada ao MEC para a UTFPR, que fez uma consulta quanto a isso, mostra a impossibilidade do adiamento, e dizem que seria apontado um reitor pró-tempore. Como o sr vê isso?

Nós votamos contra e não concordamos com a decisão do conselho por várias razões. Em primeiro lugar, a resposta dada ao MEC para a UTFPR se enquadra na MP 914 que prevê a desincompatibilização do reitor durante o período eleitoral e também que a eleição seja eletrônica.
A legislação válida para UFPR é lei 9192/95 que determina que a votação é uninominal, ou seja, escolhemos um nome para reitor e um nome para vice-reitor, equiparando e separando as eleições. Isso é o que permite que os mandatos de reitor e vice não sejam coincidentes. O mandato da vice-reitora da UFPR tem validade até março de 2021. Como a súmula 47 do STF atesta que o reitor não é livremente demissível durante o prazo de sua investidura, por equivalência, temos que o mandato da vice-reitora não pode ser cassado nem pelo presidente da república.

Além disso, há o artigo 6o do decreto 1916/96 que prevê 60 dias para realização da eleição após a vacância dos cargos de reitor ou vice-reitor. Como o mandato do atual reitor termina em 19 de dezembro, temos até o início de 2021 para convocar as eleições. Não precisávamos nem ir tão longe, se a eleição acontecesse em dezembro já teríamos uma situação muito melhor, principalmente para os nossos hospitais.
Mas, o mais decepcionante, é a UFPR sequer fazer essa consulta ao MEC, como fez a UTFPR, para dirimir qualquer dúvida e tentar, então, encontrar a melhor data. O resultado é uma eleição atropelada e estruturada em uma argumentação de medo de intervenção. Tudo o que nós não queríamos era que esse discurso do medo se alastrasse, ninguém toma boas decisões nessas condições.

Há quem diga que o prof. Horácio Tertuliano Filho pode estar apostando não em vencer a consulta, mas sim em ser nomeado pela proximidade ideológica maior em relação ao atual governo. Como o sr vê essa questão?
Nós perdemos a eleição em 2016 e, embora a margem de votos tenha sido minúscula, nunca nos ocorreu romper com a tradição de deixar o vencedor compor a lista tríplice, como tem sido feito desde os anos 80. Acreditamos que a Universidade precisa de uma liderança com legitimidade para enfrentar os próximos anos de incertezas. Foi com essa convicção que defendemos, até onde pudemos, o adiamento da eleição. No Conselho Universitário, defendemos que a Universidade deveria afirmar sua autonomia e fazer uma eleição na melhor época e da melhor maneira. Infelizmente o Conselho entendeu de maneira diferente.

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