Crianças menores podem voltar antes para a aula sem riscos. Veja por quê

Estudos mostram que crianças pequenas não são vetores importantes da Covid-19

Em quase um ano de pandemia de coronavírus, uma mudança importante na opinião de cientistas tem se concretizado nas últimas semanas. A de que as escolas podem retomar as atividades, principalmente o ensino infantil e de crianças no início do ensino fundamental. Um marco desta mudança foi a determinação, pelo prefeito Bill de Blasio, da cidade de Nova Iorque, de reabertura das pré-escolas.

A decisão de de Blasio acontece em meio a uma grande onda de contaminação nos Estados Unidos e retomada do crescimento dos casos em Nova Iorque, uma cidade que já registrou uma situação dramática na pandemia no primeiro semestre.

Se por um lado a decisão de reabrir escolas tem um forte fundo econômico, uma vez que ter quem cuide das crianças é essencial para que parte da população retome ou aumente sua atuação econômica. Por outro, uma nova leva de análises científicas têm consolidado a compreensão de que crianças pequenas podem ser menos capazes de transmitir o vírus.

O professor de Epidemiologia e Bioestatística no Karolinska Institutet, na Suécia,  Jonas F. Ludvigsson, revisou 47 artigos sobre o tema e chegou a seguinte conclusão: “é improvável que as crianças sejam a fonte principal de contaminação da pandemia. Abrir escolas e pré-escolas não deve impactar a mortalidade de adultos”.

Os resultados analisados por Ludvigsson apontam que raramente as crianças são o primeiro caso de contaminação domiciliar e que crianças com a doença raramente causam surtos de casos.

Ao New York Times, a pesquisadora de modelos de expansão de doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, Brooke Nichols, disse: “Quanto mais dados vejo, mais confortável fico com o fato de as crianças não estarem, de fato, causando a transmissão, especialmente em ambientes escolares”.

O Center for Disease Control and Prevention (CDC), órgão americano responsável pelas políticas de saúde nos EUA, atualizou recentemente os dados sobre tendências da Covid-19 entre crianças e adolescentes. Adolescentes entre 12 e 17 anos tem o dobro da incidência da doença do que crianças entre 5 e 11 anos.

A conclusão, muito embora tenha limitações, é de que o ensino presencial pode ser seguro em comunidades com baixo índice de transmissão (mas pode, porém, potencializar o risco naquelas em que a transmissão está em alta).

Uma explicação ainda não definitiva para a maior incidência da doença em crianças maiores e adolescentes é a maior mobilidade desse público, o que amplia sua exposição.

Riscos x vantagens

Esses dados não querem dizer que crianças não transmitam. Também não indicam que só as crianças devam ser consideradas na reabertura das escolas. Mas é um indicador importante, principalmente quando se coloca na balança outro fator relevante, a importância do ensino pré-escolar no desenvolvimento intelectual e social da criança.

O escritor Elliot Haspel, especialista em ensino pré-escolar, aponta que a pandemia causou duas crises subjacentes ao setor: o fechamento de inúmeras unidades escolares que não conseguiram (ou não vão conseguir) se manter sem as mensalidades dos pais e um aumento enorme no número de famílias que optaram por manter as crianças em casa ou com familiares.

Muito embora Haspel esteja falando da situação nos EUA, a crise que ele descreve também pode ser vista no Brasil e, mais especificamente, em Curitiba.

Não é só uma crise econômica. Ambientes de cuidado, com relacionamentos carinhosos e atentos entre a criança e o cuidador são essenciais para o desenvolvimento da linguagem, coordenação motora e, mais profundamente, a arquitetura cerebral.

A avaliação de Haspel vai ao encontro de outros especialistas que veem a primeira infância como o grupo de crianças mais prejudicado pela suspensão das aulas durante a pandemia. Em especial aquelas crianças cujas famílias têm menos condições de garantir um ambiente de cuidado e desafio adequado em casa neste período.

Na prática, essas questões apontam para a necessidade de se reinstituir o ensino presencial, com prioridade para as crianças menores e aquelas correm mais riscos de ter prejuízo no desenvolvimento fora da sala de aula.

Não que as escolas privadas não tenham alunos em situação de risco. Mas o ensino público encerra problemas não só de desenvolvimento cognitivo. Em reportagem do Guardian em abril os educadores ingleses chamavam a atenção para o papel das escolas como local seguro para os estudantes. Não é diferente por aqui.

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1 comentário em “Crianças menores podem voltar antes para a aula sem riscos. Veja por quê”

  1. Marilia P M de Souza

    Senti uma forte emoção ao ver a fotografia por vocês publicada. Crianças obedientemente em fila, mãos para trás, retornando, por certo, à escola. Vamos salvar essa geração !!!!

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