Caravana de Curitiba pró-Bolsonaro tem apoio de militares do Exército e da PM, diz organizadora

Grupo vai a Brasília se manifestar no Sete de Setembro contra o STF e a favor de Bolsonaro

Um movimento de Curitiba que se organiza para viajar a Brasília e participar dos atos de 7 de setembro a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) afirma estar recebendo apoio de integrantes de militares do Exército de Curitiba e de policiais militares do Paraná.

Representantes das duas instituições, principalmente da reserva, acompanharão o grupo até a capital federal, afirmou ao Plural a empresária Elisabeth Frank, conhecida como Bethy Frank, líder da organização das caravanas que deixarão a capital paranaense rumo a Brasília no próximo dia 5 de setembro. Procurados, nenhum dos órgãos havia se manifestado a respeito até o fechamento desta matéria.  

“Eu estou com um ônibus, a gente está se unindo mais com outros, da reserva [militares] e tudo mais. Vamos sair em comboio, vai ser seis ou sete ônibus ou mais até. A gente não sabe, não está definido tudo ainda. Temos tempo, o povo agora está realmente com sede, querendo ir para Brasília mesmo, então está tomando volume isso tudo ainda. A gente sabe que tudo acontece na última semana. A gente está agora organizando, a gente está com o pessoal do Exército também”, disse a empresária.

Questionada diretamente sobre a participação do Exército e da Polícia Militar do estado, Frank reafirmou o apoio. “Eles vão junto, principalmente da reserva”, disse, embora, segundo ela, ainda nada esteja fechado. A expectativa é de que cerca de 280 pessoas se juntem à caravana de Curitiba, mas organizações semelhantes já estariam também sendo desenhadas em cidades como Ponta Grossa, Guarapuava e Maringá.

A viagem vem sendo discutida há pelo menos uma semana. No último dia 22, Frank divulgou vídeos nas suas contas no Twitter e no Instagram convocando a população para se juntar ao ato.

Nas postagens, ela aparece ao lado dos catarinenses Marcos Gomes, caminhoneiro conhecido como Zé Trovão, e Turíbio Torres – ambos alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos sob autorização do STF no dia 20 de agosto, na mesma operação que se dirigiu a endereços do cantor Sergio Reis. Os vídeos foram gravados um dia antes das buscas, que derivaram de inquérito aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e foram executadas pela Polícia Federa (PF). A PF justificou o uso das medidas para “apurar o eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes”.

Como Sergio Reis, todos os alvos da operação cumprida pela PF passaram a ser investigados por pressionarem o Senado Federal pelo afastamento de ministros do STF. Os episódios vieram à tona no dia 14 de agosto, quando, em vídeo, o cantor afirmou que estava à frente de uma paralisação com agricultores e caminhoneiros na semana das comemorações da Independência do Brasil para defender os interesses de Jair Bolsonaro e endossar atos pela destituição de ministros da Corte Suprema.

“Bethy Frank, de Curitiba, montando caravana. Tô aqui com Zé Trovão, com Turíbio”, diz a empresária em um dos vídeos. Apesar de se apresentar como de Curitiba, Frank é de Campo Magro, na região metropolitana, onde chegou a ser candidata a prefeita pelo PP, em 2020.

“Eu quero deixar um recado especial para cada empresário de Curitiba. Tá muito bacana o seu sofá confortável, a sua Mercedes cara, o teu rolezinho de barco final de semana, aquele marisco que você não se importa de pagar 300, 400 pila num pratinho qualquer. Parabéns! O senhor merece. Trabalhou, e se trabalhou, tem que ter. Agora eu vou dizer uma coisa para ti: tu tá um a um fio de perder tudo o que tu tem aí, tudo o que o senhor tem, o senhor tá a um fio perder. E para o senhor não perder, está na hora do senhor chegar junto com esse movimento, ajudar essa mulher a levar as caravanas até Brasília porque é o nosso último grito. Nós precisamos dos senhores. Senhores e senhoras empresários, por favor, atendam o chamado brasileiro. Está na hora!”, continua o caminhoneiro Zé Trovão.

À reportagem, Frank afirmou que o grupo está em conversas com empresários de Curitiba para viabilizar as caravanas. Um deles seria o dono da rede de supermercados Condor, Joanir Zonta. A assessoria da rede não quis se pronunciar oficialmente, mas rechaçou aportes feitos pela empresa.

Atos sob tensão

Os  atos organizados para ocorrer em Brasília nos próximos dias vêm sendo tratados com preocupação pelas cúpulas do Judiciário e do Legislativo nacional. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, tanto o Congresso quanto o STF cobraram do governo do Distrito Federal reforço no esquema de segurança planejado para os atos pró-governo, inflamados pela possibilidade de contar com uma grande massa de policiais militares. A preocupação também gira em torno do caráter antidemocrático das demandas.

“Assim como está sendo amplamente divulgado, [a nossa principal pauta] é a destituição dos ministros do STF”, respondeu a organizadora das caravanas de Curitiba.

Ataques ao STF têm se tornados comuns diante do desgaste na relação entre o governo federal e os ministros. No dia 20 de agosto – mesmo dia em que a PF saiu às ruas para colher provas de movimentos contra a Corte – o presidente Jair Bolsonaro protocolou pedido de impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Mesmo tendo sido rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a medida esfarelou as já frágeis tentativas de reaproximação que vinham sendo ensaiadas entre os poderes, e a animosidade criada incendiou a base de defesa de Bolsonaro, principalmente entre os militares.

Na semana passada, um coronel da ativa da Polícia Militar de São Paulo usou suas redes sociais para convocar “amigos” para as manifestações pró-presidente do dia 7 de setembro, conforme revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Ele foi afasto por indisciplina. No mesmo dia, um coronel da reserva do Ceará fez um chamado para que a população invadisse o STF. No último dia 24, a agência de notícias Reuters informou que as manifestações levaram a Promotoria da Justiça Militar a pedir informações sobre participação de PMs em atos de 7 de setembro.

O Regulamento Disciplinar do Exército proíbe integrantes de participar de atos políticos, “com exceção das demonstrações íntimas de boa e sã camaradagem e com consentimento do homenageado”, em regulamento válido para militares do Exército na ativa, na reserva remunerada e os reformados.

O Regulamento de Ética Profissional dos Militares Estaduais, integrantes da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Paraná também determina a abstenção, mesmo se inativo, de “atividade político-partidária” a não ser quando candidato.

Sobre o/a autor/a

6 comentários em “Caravana de Curitiba pró-Bolsonaro tem apoio de militares do Exército e da PM, diz organizadora”

  1. Enquanto uns lutam pelo povo ter o que comer, outros lutam para manter a “Mercedes cara, o rolezinho de barco final de semana, aquele marisco de 300, 400 pila.”

    Eu já escolhi o meu lado nessa história. E vc?

    1. JOSÉ PETRUCIO DO NASCIMENTO

      Sou de Maceió AL, estou vibrando com este volume de cidadãos quê irão a Brasília, espero que a nossa classe política e judiciária se corrigam com mossa indignação sobre eles!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima