O evento de entrega de novas armas à Guarda Municipal de Curitiba, na última terça-feira (18), repercutiu. E não foi apenas pelo recado simbólico do arsenal: além de fuzis semiautomáticos e carabinas, os revólveres calibre 380 serão substituídos por pistolas calibre 9 mm, que até 2017 eram de uso exclusivo das Forças Armadas.
Mas nas redes sociais, a causa de inquietação tem sido uma foto dos equipamentos sendo submetidos a uma “bênção” – retirada do ar no meio da tarde desta quinta (20) pela gestão do prefeito Rafael Greca (União Brasil).
A desvinculação da foto dos arquivos online da prefeitura foi constatada logo após o conteúdo ter sido compartilhado em tons de crítica pelo padre da pastoral do Povo de Rua de São Paulo, Julio Lancellotti. Ele se notabilizou e ganhou ainda mais alcance no Brasil por conduzir políticas autônomas de proteção aos moradores em situação de rua durante a pandemia da Covid-19.
“Pensei que isso só acontecesse na Idade Média e em regimes totalitários que manipularam as religiões”, legendou o padre, ganhador do prêmio Zilda Arns de Direitos Humanos no ano passado.
No evento da Guarda Municipal, ao falar sobre a nova aquisição do município, Greca incorporou ao discurso a busca do “melhor para defender as famílias de Curitiba”.
Na foto polêmica, além do prefeito, o vice-prefeito, Eduardo Pimentel, e o secretário municipal de Defesa Social e Trânsito, Coronel Péricles de Matos, também aparecem em primeiro plano, todos ao redor do diácono condutor da parte cristã da cerimônia de entrega de armas.
O capelão é Marcos Daniel de Camargo, guarda municipal concursado desde 1988. Ele tem autorização da arquidiocese de Curitiba para trabalhar como diácono na capelania da Guarda desde 2015, segundo informa publicação antiga da prefeitura.
Na imagem, o religioso aparece com a mão direita levantada e em direção à mesa repleta de armas e seus estojos, enquanto profere palavras, ao que indica, lidas em um livreto.
A Arquidiocese de Curitiba não quis se manifestar. A Secretaria de Defesa Social e Trânsito não rebateu as polêmicas e disse que o evento foi organizado pela própria Guarda e que o diácono “participa das mais diversas atividades e eventos, abençoando servidores e equipamentos da instituição”. Outras imagens de arquivo mostram realmente a participação do religioso em outras bênçãos, como a da reinauguração da sede da Guarda, em em junho do ano passado.
A pasta não se posicionou sobre ter retirado a imagem do ritual com as armas do ar. À galeria que acompanha a reportagem no site de notícias do município foram incorporadas outras fotos, mas nenhuma da bênção em si. As novas mostram detalhes das novas pistolas e dos profissionais em treinamento.
A nova polêmica da Guarda Municipal vem à tona exatamente três meses após a Procuradoria-Geral do Município (PGM) ter oficializado a abertura de processo para exonerar um guarda envolvido na morte de um jovem de 22 anos durante uma ação no Largo da Ordem, no centro da cidade.
Mateus Noga saiu comemorar a carteira de motorista com os amigos e levou um tiro do agente. Apesar de o disparo ter sido confessado, a vítima é que foi colocada como autor do crime no Boletim de Ocorrência.
O prazo do processo da PGM era de 90 dias – que se completam exatamente nesta quinta-feira.
Mas segundo a PGM, a publicação de abertura feita no Diário Oficial foi uma “formalidade legalmente exigida para a instauração do processo”, e que não, necessariamente, os trabalhos foram iniciados no mesmo dia. A pasta não informou, contudo, a data exata em que os trâmites oficialmente começaram. De acordo com a procuradoria, as oitivas já terminaram e o relatório final está sendo elaborado.
No âmbito criminal, a Polícia Civil ainda não finalizou o inquérito. Em resposta, disse que “aguarda laudos para formalizar o indiciamento”.
Sobre o/a autor/a
A foto da dita “benção “ é uma das coisas mais macabras dos últimos tempos e olha que o páreo anda duro. É a “república de curitiba” em ação.
Deveria, Sr Greca, no lugar de comemorar e abençoar uma mesa cheia de armas … substituir por alimentos para moradores de rua…. para as familias de recicladores famintos … as ruas de Curitiba, NUNCA tiveram tantos moradores de rua… pessoas pedintes e ambulantes …
Há os contra e os prós, sou e sempre serei um defensor das armas como defesa, não só pessoal como patrimonial.
Se vagabundo se arma mata e logo é solto, não interessa se é por conta do sistema.
Eu como cidadão tenho direito de ter uma arma para me defender , e muito mais tem a polícia seja municipal, estadual e federal e devem sim serem abençoadas para o bem dos cidadãos.
Natalício, o Brasil tem uma das mais altas taxas de encarceramento do mundo. Acho que você deveria olhar mais de perto os dados relativos a essa sua afirmação de que quem é preso com arma é solto em seguida. Porque os fatos contradizem isso. Abraço, Rosiane
Lorena Aubrift Klenk quer saber do treinamento que os guardas estão fazendo para usar estas armas de grosso calibre, arsenal de guerra.
Posso adiantar que os instrutores não são credenciados junto a Policia Federal, como exige a lei do desarmamento.
Se houver dúvidas quanto há isto, basta pedir o número da portaria de credenciamento dos instrutores e conferir com a PF.
Por atenção aos inocentes, que vão se ferir com estas armas em mãos despreparadas, investiguem isto!
É como Jeus nos ensinou: armai-vos uns aos outros!
Não, né!!! Chega de armas. Chega de forças de repressão que só fazem criar um clima ainda maior de conflito. Não, não precisamos de armas nem de violência.
Só lembrando que Jesus acabou morto, condenado pelo povo. E pelo visto continuamos iguais.