Retrospectiva 2019: Ratinho é figura política do ano por WO

Para quem começou o mandato falando numa até Antofagasta, é desanimador terminar o primeiro ano de gestão com esse balanço

Ratinho Jr. (PSD) foi a principal figura da política paranaense por um único motivo: foi a única. Venceu não por méritos próprios, mas por WO. Seus adversários estão todos encolhidos, sumidos ou patinando na própria inação.

Sempre se deve duvidar quando dizem que alguém tem sorte, mas Ratinho teve uma estrela impressionante. Osmar Dias assinou sua sentença de ostracismo ao desistir da campanha; Beto Richa, no mês que não vai preso, é denunciado; Roberto Requião perdeu a eleição; Alvaro teve uma eleição desastrosa em 2018; Gleisi teve sua ascensão interrompida por acusações. Sobrou quem?

A oposição ao governador na Assembleia é aquilo que sempre foi, em qualquer governo. Meia dúzia de deputados que decidiram ficar de fora do esquema mas que nada podem contra a máquina. Dos 54, porém, 40 chafurdam em cargos e corporativismo, aprovando o que lhes for determinado.

Se Ratinho tivesse mandado projeto trocando o idioma do Paraná para o sueco, Traiano colocaria na pauta em regime de urgência, Francischini faria aprovar na CCJ e Hussein Bakri defenderia da tribuna que estava mais do que na hora de um governante corajoso fazer isso. No plenário, o resultado seria 42 x 8, com três abstenções.

O governador aprovou o que quis – mas quis pouco. Para quem começou o mandato falando em transpor as Américas com uma ferrovia entre Paranaguá e Antofagasta (uma obra digna de Aníbal, transpondo os Andes ao invés dos Alpes), é desanimador terminar o primeiro ano de gestão com esse balanço.

Os grandes avanços anunciados na retrospectiva do próprio governo são os investimentos (da iniciativa privada), os empregos (que não foram gerados pelo governo, e os voos entre as cidades do estado (que são de uma companhia privada).

Iniciativas do estado mesmo foram os novos cortes de benefícios e direitos dos trabalhadores. Seguindo na balada de Beto Richa (PSDB), mandou cortar tudo o que pôde e arrochar a Previdência. Com os sindicatos em estado cada vez maior de fragilidade, nem foi preciso enfiar os deputados num camburão.

No único momento de aperto, o governo e a base apelaram para a solução criada por Rafael Greca: transformaram a Ópera de Arame num palco de uma triste cerimônia de sepultamento da democracia popular. O lema de nossos governos tem sido esse: Se o povo é contra, elimine-se o povo da equação.

O governo se restringiu a isso: iniciativas tímidas de melhoria de vida para a população, iniciativas ousadas para cortar direitos do funcionalismo. Embora se recuse a ser visto como um terceiro governo Richa, Ratinho deu todos os motivos para isso. Seu governo parece um cosplay de Mauro Ricardo Costa. O que não existe até agora são denúncias de corrupção. Só isso.

Em 2019, Ratinho governou sobretudo a golpes de marketing. Cortou as aposentadorias de ex-governadores (sabendo que o STF faria isso de qualquer maneira); devolveu o avião alugado (e usou aviões públicos mesmo assim); fez uma reforma administrativa, mas manteve apaniguados de dezenas de deputados.

Falou-se em modernidade, enxugamento, em governo 5.0 (que ninguém até agora soube dizer direito o que seja, além de uma mitificação). Mas o que se viu na prática foi um funcionalismo empobrecido e que continua tendo de dar conta de atender a população (na saúde, na educação e em tudo mais) com cada vez menos incentivos.

Ou, na linguagem do governo, com menos privilégios. Porque privilégio, no mundo de Richa, Mauro Ricardo e Ratinho é o que os bagrinhos têm; os peixes grandes do governo, da Assembleia e do Judiciário, esses continuam com todos os seus direitos. E, sem dúvida, seguirão assim em 2020, 2021, 2022…

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