Pré-candidatos de oposição aumentam presença nas redes para enfrentar Bolsonaro

Enquanto Lula lança site com vídeos e imagens para compartilhamento, Ciro Gomes e Sérgio Moro tentam atrair eleitores com canais no YouTube. Especialista em Direito Eleitoral não vê desrespeito à lei

Os três principais nomes que deverão enfrentar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de outubro vêm aumentando a presença no mundo virtual e procuram cada vez mais adotar a linguagem das redes sociais para tentar atrair o público jovem. Se em 2018 Bolsonaro foi eleito com uma forte presença na internet e pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão, neste ano os oposicionistas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Moro (Podemos) apostam em podcasts, canais no YouTube, stories e figurinhas para o WhatsApp.

O investimento nessas formas de comunicação com os eleitores, mesmo antes do início oficial da campanha, em 16 de agosto, é possibilitada pela reforma eleitoral de 2015, que flexibilizou as regras. Os pré-candidatos não podem pedir votos ou dizer seu número de urna, mas desde as eleições de 2015 estão liberados para dar entrevistas, participar de programas, fazer críticas de caráter político, apresentar propostas ou mesmo dizer que pretendem disputar as eleições.

Dos três pré-candidatos, Ciro Gomes parece ter largado na frente quando o assunto é internet, até pelo fato de ter definido sua candidatura há mais tempo. Em um cenário típico de podcasts do YouTube, o ex-governador do Ceará faz transmissões ao vivo, chamadas de “Ciro Games”, com convidados, como o músico Tico Santa Cruz e o também ex-governador do Ceará Tasso Jereissati. O canal ainda tem comentários do “Cirão das Massas” sobre economia e a “React do Cirão”, em que o pré-candidato reage a declarações de seus adversários – não à toa, Lula, Moro e Bolsonaro são seus principais alvos.

Ciro Gomes em seu canal no YouTube (Reprodução)

Lula lançou o site Lulaverso (lulaverso.com), que oferece materiais para compartilhamento nas redes sociais. O site tem vídeos, gifs animados, stories, stickers para WhatsApp e vídeos feitos especialmente para compartilhamento na rede Tik Tok. O Lulaverso ainda compartilha prints de postagens favoráveis ao ex-presidente nas redes sociais. Lula também possui um podcast, o Lulacast, em seu site oficial.

O canal do ex-presidente no YouTube tem aproximadamente 399 mil inscritos, mas menos visualizações que o de Ciro Gomes. Diariamente são publicados vídeos com comentários de Lula a respeito de temas variados e trechos de entrevistas, mas sem a espontaneidade que caracteriza os podcasts de Ciro Gomes. Na última semana, os vídeos de Lula mais assistidos foram sobre aumento do preço da gasolina, um com 80 mil e outro com 87 mil visualizações. Os demais dificilmente passam de 20 mil. O pico de audiência de Lula em uma semana é atingido em praticamente todas as transmissões ao vivo de Ciro. O bate-papo com Tasso Jereissati, por exemplo, teve 101 mil visualizações.

O Lulaverso (Reprodução)

Pré-candidato do Podemos à Presidência, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro lançou no dia 28 de fevereiro seu podcast, o DeMorô. Por enquanto, só uma edição foi ar, mas Moro publica trechos de suas entrevistas e vídeos diários falando sobre propostas e problemas do país. No último deles, publicado nesta quarta-feira (16), o ex-juiz reclama que “não tem ninguém sendo preso no Brasil”. “Quem foi preso por corrupção nos últimos anos?”, questiona o título. O canal tem 17 mil inscritos.

O primeiro podcast (que também está disponível no Spotify) teve as participações do médico Denizar Vianna e da mulher de Moro, a advogada Rosângela Wolff Moro, e foi visto por cerca de 13 mil pessoas. O tema foi o Dia Mundial de Doenças Raras e Moro atuou como entrevistador. No Instagram, a propaganda do podcast dizia que o programa é “Para escutar em qualquer lugar, menos no sítio ou no triplex”, em referência aos processos em que Lula foi condenado (eles foram anulados posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal). Moro também tem participado de lives e podcasts no YouTube.

O podcast de Sérgio Moro (Reprodução)

A advogada Juliana Bertholdi, mestre em Direito e especialista em Direito Eleitoral, avalia que as condutas não ferem a lei. “O candidato pode usar lives do Facebook ou do Instagram para mencionar suas qualidades pessoais e o seu currículo. Ele não pode pedir votos, fazer menção ao número ou produzir materiais de campanha, nem propaganda negativa de outro candidato. Isso não significa que está proibido de fazer críticas, mas não pode extrapolar e entrar no campo da crítica pessoal.”

De olhos nos indecisos

O cientista político e professor universitário Doacir Quadros avalia que as ações na internet são essenciais para buscar o voto dos eleitores indecisos. “A internet tem sido uma maneira eficiente para captar a adesão do voto do eleitor indeciso. Observa-se que, sobretudo nas grandes cidades, o eleitor está retardando o máximo possível essa decisão” disse. “As pesquisas mostram que o brasileiro se informa significativamente na internet, cerca de 31% dos entrevistados. Isso corrobora a preocupação dos aspirantes a cargos do Executivo com a internet.”

Quadros vê como positiva a utilização dos podcasts, que permitem aprofundar as discussões. “Há um avanço no uso dessa ferramenta, que permite que se aprofundem algumas questões que por vezes não recebem espaço no programa eleitoral. A internet permite que a campanha não fique restrita à pauta dos meios de com comunicação tradicionais”, afirmou o cientista político. “Esses conteúdos podem ser migrados, a internet permite a divulgação de materiais para os seguidores que são militantes, que fazem o trabalho de formiguinha no intuito de divulgar a campanha.”

As ações na rede, no entanto, devem ser calculadas, alerta Quadros. “A internet deve ser utilizada de maneira estratégica para não trazer problemas para a campanha. Tem que saber como divulgar e quando divulgar.” O cientista político lembrou os casos de Marina Silva e José Serra, que tinham dificuldades de comunicação em suas campanhas à Presidência. “Para estar à frente das câmeras o candidato tem que estar à vontade. Talvez não seja o fiel da balança, mas observa-se que é importante ser um bom comunicador.”

Viagens

Os três presidenciáveis e o presidente Jair Bolsonaro também têm viajado pelo país. Lula estará nesta sexta-feira (18) em Curitiba, para participar do ato de filiação do ex-governador do Paraná Roberto Requião ao PT. Em seguida, seguirá para Londrina. Moro esteve no Nordeste em janeiro.

Bolsonaro tem focado nas regiões Norte e Nordeste e esteve em Petrópolis (RJ) no mês passado, para acompanhar os trabalhos na cidade atingida pelas fortes chuvas. Nesta sexta-feira (18) estará no Acre, para a entrega de títulos de terras pelo Incra. Na próxima semana, o presidente visitará Parnamirim (RN), para uma cerimônia de inauguração do sistema de trens urbanos (o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Nacional, deverá se candidatar ao governo do estado). Bolsonaro ainda deverá visitar Baixa Grande no Ribeiro (PI) e Belo Horizonte (MG) nas próximas semanas.

O presidente Jair Bolsonaro em viagem a Petrópolis, no mês passado (Clauber Cléber Caetano/Presidência da República)

Candidato à reeleição, Bolsonaro será obrigado a colocar um fim em seu roteiro de viagens no máximo até o dia 2 de julho, explica Juliana Bertholdi. “Não é necessária a desincompatibilização para a disputa do mesmo cargo, mas existe um período de condutas vedadas, que começará no dia 2 de julho. Pela legislação, o presidente não poderá comparecer a inaugurações de obras públicas, nem nomear ninguém para novos cargos.”

Condutas permitidas

A reforma eleitoral de 2015 alterou a redação do artigo 36 da Lei 9.504, de 1997. Com isso, pré-candidatos podem participar de entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos. Eles também podem participar de encontros, seminários ou congressos para tratar da organização para as eleições, discutir políticas públicas, planos de governo e alianças partidárias. Também é permitido que eles exponham seus posicionamentos pessoais a respeito de questões políticas, inclusive nas redes sociais.

Juliana Bertholdi avalia que uma das causas da flexibilização nas regras foi a redução do tempo de campanha eleitoral, de 90 para 45 dias. “Em 2015 a propaganda eleitoral foi reduzida e muitos consideraram impossível fazer campanha. Por isso as regras foram flexibilizadas, várias condutas que antes eram vedadas agora são permitidas. Eles foram autorizados a divulgar suas posições, inclusive nas redes sociais, o que permite a existência dos podcasts e as manifestações no YouTube.”

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