Rádios, plágio e costuras políticas: o caminho de Fachinello até presidir a Câmara

Vereador conseguiu a proeza de chegar à presidência da Câmara ainda no primeiro mandato. Para isso, teve apoios importantes na prefeitura e na Assembleia

Quando Marcelo Fachinello (PSC) apareceu como favorito à presidência da Câmara de Curitiba quase todo mundo estranhou. Em geral, a disputa fica entre os vereadores mais velhos, que têm vários mandatos e já tiveram tempo de dominar os botões que precisam ser apertados nesse tipo de situação. Fachinello era só um iniciante no jogo, no meio do primeiro mandato – e mesmo assim, estranhamente, conseguiu ser eleito com certa facilidade.

Fachinello se tornou o primeiro presidente da Câmara eleito em primeiro mandato desde Iris Simões, no finzinho do século passado. E as coisas começaram a ficar um pouco mais claras nos dias seguintes, quando Eduardo Pimentel (PSD), o vice de Rafael Greca (PSD), anunciou que estava aceitando uma secretaria no governo de Ratinho Jr (PSD) – e desse modo nem sempre poderia cumprir suas funções.

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Pimentel e Greca tinham atuado nos bastidores para garantir que alguém “confiável” assumisse a prefeitura quando necessário. Fachinello fez a lição de casa se aproximado do vice-prefeito. Com seu jeito discreto, de quem não parece ambicioso demais, convenceu a dupla de que não causaria problemas se viesse a ficar como interino no posto de Greca.

Além disso, conseguiu um apoio fundamental, que já vinha cavando fazia tempo: Alexandre Curi (PSD), o deputado estadual mais votado do Paraná, acolheu Fachinello como seu vereador depois de ter brigado com Pier Petruzziello (PP). E aparentemente Curi sentiu um certo gostinho em ver Pier derrotado – ainda mais numa eleição que deixaria alguém às portas da prefeitura de Curitiba.

Ilustre desconhecido

A eleição, porém, deixou num dos cargos mais importantes para a cidade um sujeito pouco conhecido. Fachinello só disputou duas eleições até hoje. Na primeira, em 2016, até que foi bem, mas acabou como suplente. Em 2020, já com apoio de Curi, entrou com 5.326 votos.

Em entrevista para o Plural, Fachinello diz dever seus votos principalmente ao trabalho como radialista. Aos 42 anos, dedicou 23 para a latinha. Trabalhou para a CBN, para a Educativa, mas principalmente se fixou na Transamérica. Segundo ele, além da “conversa com o ouvinte”, que sempre rende votos (o próprio Iris Simões sendo talvez o melhor exemplo), o pessoal do esporte comprou a ideia de ter alguém para defender suas pautas.

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Nascido em Realeza, no Sudoeste, Fachinello diz que sempre se interessou pela política. Em Curitiba, porém, resolveu que devia estudar jornalismo. Começou o curso no antigo UnicenP (que mais tarde se tornaria a Universidade Positivo). Logo no começo da faculdade, porém, um episódio marcou a carreira acadêmica de Marcelo.

Plágio

Na época com 19 anos, ele ficou encarregado de uma das reportagens do jornal laboratório do curso, o Lona. A pauta que ele apresentou era sobre as raves que vinham tomando conta das grandes cidades brasileiras. A reportagem, assinada com o nome “Marcelo Tschá” saiu na página 13, com destaque. Mas logo se descobriu que a matéria era um plágio.

Reportagem publicada no Laboratório da Notícia de julho de 1999.

O Plural falou com quatro ex-professores do curso, e todos confirmaram que isso abalou a credibilidade não só do aluno como de todo o curso – o jornal era na época o cartão de visitas da instituição. Na edição seguinte, uma errata anunciava que diversos trechos tinham sido copiados de uma reportagem da revista Playboy – e uma citação de um DJ do eixo Rio-São Paulo havia sido colocada como se fosse do curitibano DJ Leozinho.

Errata publicada na edição seguinte do Lona.

Os professores que conversaram com o Plural são unânimes em lembrar que isso acabou com o clima para que Marcelo continuasse no UnicenP. De fato, Fachinello trocou em seguida o curso para a Tuiuti – e, aliás, nunca chegou ao diploma. Mas a versão dele é diferente.

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O hoje vereador diz que saiu da Positivo porque, na época, já trabalhava com reportagem e locução, e os horários dos jogos e do trabalho estavam impedindo uma conciliação. Curiosamente, Fachinello só teria um diploma mais de 20 anos depois, quando, já candidato, foi estudar Gestão Pública na Estácio de Sá.

Filhos e mandato

No caminho, Fachinello foi também cuidando da vida pessoal. Teve um filho de um primeiro relacionamento que hoje já é adulto – acaba de passar na Universidade Federal do Paraná. Mais recentemente, casou de novo com Milena, que agora está grávida de um bebê que deve se chamar Maitê.

A “mosca azul” da política teria surgido como uma sequência mais ou menos natural de quem já gostava do assunto no interior e começou a conviver com os poderosos na capital. A proximidade com Alexandre Curi, por exemplo, teria começando quando o deputado foi vice-presidente do Athlético Paranaense – Fachinello, como radialista, entrevistou o político e passou a tê-lo como fonte.

Greca e Eduardo Pimentel | Foto: Pedro Ribas/SMCS

Hoje, o vereador diz fazer parte de um grupo político em que Curi é importante – assim como o vice-prefeito Eduardo Pimentel, que provavelmente será candidato à sucessão de Greca daqui a um ano e meio. E aparentemente esse grupo só cresceu com a candidatura interna na Câmara.

Para chegar ao posto, Fachinello precisou montar uma articulação em que fosse o cabeça do maior bloco da Câmara. Para isso, teve de convencer gente como Sabino Picolo, Osias Moraes e outros, todos experientes e com grande cacife político, a abrir caminho para ele. O truque de mágica deu certo.

Hoje, já no cargo, Fachinello diz ter orgulho por ter conseguido votos também de quem estava em outras áreas do espectro ideológico – a oposição, ao ver que ele seria eleito, acabou aderindo, até para poder ter cargos na Mesa Diretora.

Independente dos meios, Fachinello mostrou um poder de articulação inusitado. E com sua eleição, passa a ser peça importante não só na Câmara como na disputa pela prefeitura em 2024 – além de pautar os projetos essenciais para Greca, ele certamente terá interinidades como prefeito daqui até o período eleitoral.

Prédio e carros

Como presidente da Câmara, Fachinello tem uma tarefa herdada de Tico Kuzma (Pros), que é levar adiante a construção de um novo prédio para a Câmara. O discurso de que o atual espaço é pequeno e está maltratado é repetido pela maior parte dos vereadores – e o Ippuc até já cedeu um projeto arquitetônico para transformar um dos anexos da Câmara em algo muito maior, prevendo a construção também de um novo plenário, muito maior.

O design do prédio foi amplamente criticado na cidade, mas em entrevista ao Plural Fachinello se mostrou mais preocupado com questões internas – como o tamanho dos gabinetes, por exemplo. Segundo ele, o projeto levado aos vereadores passará por ajustes, mas a previsão é logo licitar o projeto executivo. Fachinello diz que o custo dessa fase inicial está estimado em R$ 4 milhões, mas ninguém sabe ainda o valor total do prédio.

Projetos do Ippuc
Projeto do novo prédio da Câmara Municipal.

A obra deve ficar pronta só na próxima legislatura, mas o atual presidente diz que deseja pelo menos começar. Enquanto isso, se preocupa também com outra questão: o plenário novo (uma edificação à parte, com estilo chamativo, e que foi a parte mais criticada do projeto) teria lugar para quinhentas pessoas na galeria. “Será que precisamos de tudo isso? Claro que precisamos de galerias maiores do que temos hoje, mas se for para diminuir isso, talvez tenha que diminuir o plenário todo”, diz ele.

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Outra polêmica do mandato. Fachinello teria, nos bastidores, falado aos vereadores que levaria para frente a ideia de retirar os adesivos que hoje identificam os carros da Câmara. Embora não use o carro oficial, o novo presidente admite a demanda. Mas diz que se deve à “violência política” na cidade, que leva os vereadores a correrem riscos quando são identificados nos veículos oficiais.

Fora isso, Fachinello diz não ter planos políticos prontos para o futuro. Só sabe que deve tentar se reeleger vereador daqui a dois anos. O resto, o futuro e seu novo grupo político dirão.

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3 comentários em “Rádios, plágio e costuras políticas: o caminho de Fachinello até presidir a Câmara”

  1. Luiz Alberto Bonin

    Mais um despachante do atual prefeito, do mesmo quilate de piers, kuzmas e afins. E claro que também está com os binóculos apontados para 2024, na cadeira do chefe….do Executivo, claro!

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