“Em busca de mim”, de Viola Davis, é um livro bastante incômodo. A autobiografia da atriz é um relato honesto e dolorido da sua trajetória rumo ao improvável estrelato.
Viola Davis é vencedora do Oscar, do Emmy e do Tony Awards, os maiores prêmios do cinema e do teatro. É também uma das pessoas mais influentes do mundo.
Claro, você já viu algum trabalho de Viola Davis: “How to Get Away With Murder”, “Um limite entre nós”, “Dúvida”, “Histórias cruzadas”, “Esquadrão Suicida“, “A voz suprema do blues”.
Mas antes de chegar a Hollywood, a atriz teve uma vida marcada pela pobreza, pelo racismo e pela violência. É quase inacreditável que tenha superado tantas dificuldades.
O início
Quase como um diário, Viola relembra da infância, da convivência com o pai alcoólatra, que espancava a mãe. Dos ratos na casa onde vivia e da bronca que levou da professora porque cheirava mal. O fedor de quem não tomava banho por falta de condições.
Sendo uma mulher negra retinta, as dificuldades na vida de Viola foram potencializadas pelo colorismo – é negra demais.
“Minha colega de quarto era uma pessoa muito gentil, amiga de uma amiga. E o apartamento era lindo. No entanto, a senhoria era uma racista raivosa. Nunca conheci ninguém como ela. Era brasileira e ficou horrorizada quando me mudei, pois pensou que eu fosse prostituta ao me ver esperando o ônibus”, escreve a atriz.
Esse episódio em específico me chamou atenção porque me remete ao podcast “A mulher da casa abandonada“. Uma figura gentil, brasileira, que vive nos Estados Unidos e que lá se esquece de que é latina.
Viola também fala da sua formação artística, do casamento, de aborto, da criação da filha e do encontro dos trabalhos para teatro, TV em cinema.
Especialmente em “How to Get Away With Murder”, ela chama atenção para Analise Keating, uma advogada bem-sucedida, bonita, poderosa e possivelmente sociopata.
Não há como imaginar outra pessoa dando vida a Keating senão Viola Davis, mas a atriz lembra da insegurança que sentiu ao assumir o trabalho, uma protagonista retinta para a TV.
“Em busca de mim” te aproxima e te apaixona de Viola Davis, quase como se lêssemos um diário. O livro traz ainda fotos de arquivo pessoal da atriz, como um álbum de família.
É quase como se o livro tivesse sido escrito num fôlego só e com a leitura não é diferente. Cada página virada é como se ficássemos mais e mais próximos da Viola Davis que conhecemos, soberana, e ao fim a lição que fica é da superação das dificuldades sem meritocracia, muito consciente dos papéis da pobreza, do machismo e do racismo nesse processo.
Livro
“Em busca de mim”, de Viola Davis. Tradução de Karine Ribeiro. Editora Best Seller, 266 páginas, R$ 49,90. Autobiografia.