Uma (outra) casa abandonada preocupa o Boqueirão

Nem de dia moradores se arriscam a passar perto de imóvel, que está vazio há 10 anos

Moradores do bairro Alto Boqueirão querem informações da Prefeitura de Curitiba sobre a situação do imóvel que foi sede da Associação de Moradores Saturnino de Brito. Durante mais de 10 anos, o local esteve abandonado e recentemente algumas pessoas informaram que o espaço foi vendido para proprietários de uma escola particular. Segundo os moradores, é inaceitável que o local, antes caracterizado por atividades à serviço da comunidade, esteja inutilizado e funcionando como ponto de drogas.

De acordo com informações de moradores e da mídia, há dois anos, o imóvel se encontrava em situação precária. A comunidade da região estava muito insegura por causa do matagal que ficava no terreno e dos ratos que frequentemente apareciam devido à falta de higiene.

As pessoas que residem ou residiram na região por muitos anos afirmam que a Associação passou por diferentes gestões, mas depois o lugar ficou sob a responsabilidade da antiga presidenta. Os vizinhos dizem que depois da morte da mulher, a situação ficou precária a ponto de ninguém ter coragem de passar pelo local mesmo durante o dia.

Associação

A Associação de Moradores do Conjunto Saturnino de Brito foi fundada em 17 de agosto de 1982 e, por mais de 20 anos, foi um espaço destinado às atividades culturais, educacionais, de entretenimento e de assistência social. Nas suas reuniões, eram levados os problemas referentes ao conjunto, funcionando, assim, como um meio de as pessoas reivindicarem as melhorias na região e os seus direitos. O local também é lembrado pelas realizações de atividades com jovens e confraternizações.

Porém, o local funcionou por algum tempo como capela mortuária. Maurício Gonçalves, servidor público, que fez parte da diretoria da última
gestão atuante, afirma que residiu no bairro por 28 anos. Nesse tempo, lembra de algumas atividades em prol da comunidade que foram realizadas pela Associação quando ainda não estava na diretoria. Ele cita a criação da sede, na qual eram realizadas festas de aniversário, reuniões de grupos de jovens e a construção da quadra de esportes.

Maurício foi membro da Associação por 2 anos, de 2005 a 2007. Ele destaca algumas atividades relevantes realizadas durante a gestão na qual
participou. “Na época houve parceria com o governo do estado para adquirir computadores para a sede, onde moradores teriam cursos de informática básica. Também foi construída a cancha de bocha”, diz.

Segundo ele, depois do término da gestão de que ele participou, ocorreram novas eleições, mas a chapa eleita não deu continuidade aos projetos. Maurício afirma que desconhece a atual situação da sede comunitária, contudo, questionado sobre sugestões para utilização do espaço, afirma: “Transformar em espaço cultural com aulas de música, cursos básicos para os moradores, cobrando uma pequena taxa para ser sustentável”.

Descaso

Para a população da região, é inaceitável a inutilização do imóvel, pois o
espaço poderia ser reutilizado para ações de interesse da comunidade. Também há críticas por parte de pessoas da comunidade, as quais afirmam que houve descaso da Prefeitura, por diante das reclamações, apenas orientar quanto ao processo de denúncia sobre “invasões” no local.

Os moradores ficam indignados com o fato de o imóvel ter sido vendido para proprietários de uma escola particular, pois se trata de um bem municipal. A casa foi demolida, mas até o presente momento, o espaço continua sem uso.

Novos moradores

É importante ressaltar a visão de quem passou a morar na região depois que já não havia a Associação de Moradores, caso de Gizele Carneiro, professora, que reside no bairro há 7 anos. Segundo Gizele, desde que mora no bairro nunca soube de alguma Associação de Moradores próxima.

Sobre a possível venda do imóvel, a moradora tem um posicionamento bem direto. “A apropriação pela iniciativa privada de um imóvel coletivo e público, que cumpria a função social de organizar as moradoras e os moradores da região, é um desrespeito com o grupo que viabilizou o espaço. E isso torna ainda mais difícil o desenvolvimento de atividades para promover reflexões e ações políticas para a comunidade”, afirma.

Entre as propostas para solucionar o problema que foram citadas por alguns moradores estão as de que o imóvel poderia ser reutilizado como espaço cultural ou como ONG para acolhimento para pessoas em situação de rua.

Recentemente ocorreu o Fala Curitiba, um programa de consultas públicas no qual as pessoas podem apontar as prioridades para região que residem. Para Gizele Carneiro, se a Associação estivesse ativa, a participação da população do bairro seria maior. Segundo a moradora, um espaço próximo à região no qual se possa colher ações da Prefeitura, contribuiria para uma maior participação da comunidade.

Gizele destaca, inclusive, a mobilidade das pessoas, que tem se tornado mais difícil com o passar dos tempos. A moradora acrescenta, fazendo sugestões para a reutilização do espaço. “Sugiro que o espaço seja utilizado para realizar ações educativas e políticas que atendam as demandas próprias da região. Poderia ser algo na área de educação para a saúde, educação no campo da cultura e lazer, cursos preparatórios, educação literária, entre outras”, diz.

Situação cadastral

A Prefeitura informa que a venda de bem público pode ser realizada por licitação. Os dados relacionados aos bens podem ser visualizados no Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Curitiba. No Portal, porém, não foi encontrada nenhuma informação sobre cessão, doação, permissão ou permuta referente ao imóvel. Em buscas na Internet, o endereço ainda indica o nome da Associação.

Verificando os dados cadastrais da Associação de Moradores do Conjunto Saturnino de Brito, consta que sua situação cadastral está inapta desde 2018 por omissão de declarações.

Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, que convida seis jovens de Curitiba e região a falar de suas vidas e suas comunidades. O projeto foi construído em parceria com a Ajor e o ICFJ e tem financiamento do Meta.

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