Uma livraria diferente vem ao mundo

Dona Plácida nasce para para dar vez às vozes femininas da América latina e aos títulos marginais

No mês março, perfis literários espalharam nas redes sociais a pergunta “você lê mulheres?” E lançaram um desafio: deixar na estante, por um dia, apenas os livros escritos por elas. As respostas foram fotos de prateleiras praticamente vazias. E se a pergunta fosse “quantas mulheres latino-americanas você lê?”, restaria alguma obra na sua estante?

Foi pensando nisso que a publicitária Rafaela Manicka colocou no mundo uma livraria diferente. A proposta é aproximar as pessoas das vozes femininas da América Latina e dar espaço à literatura que existe e resiste às margens do mercado editorial norte-americano e britânico. De acordo com a proprietária, não é fácil encontrar esses títulos, e é aí que entra seu trabalho. “Me coloco muito no lugar do cliente. Vou pesquisar, vou atrás, porque talvez tenha outra pessoa que também queira saber. Foi esse movimento que eu fiz, porque quando eu jogava “literatura contemporânea latino-americana” no Google, não aparecia nada. Minha vontade é de mostrar que tem lugar que a pessoa pode encontrar esses livros”, diz a publicitária. 

Por enquanto, a iniciativa é inteiramente on-line e foi batizada de Dona Plácida. Hoje, conta com um estoque de 50 exemplares únicos, escolhidos a dedo nos sebos e higienizados pelas mãos de Rafaela. A ideia é, em breve, estabelecer parcerias com editoras e oferecer ao público também livros novos. Ela não descarta a possibilidade de, futuramente, abrir também um espaço físico. “É um sonho. Ainda não dá para dizer que tenho planos para daqui a um certo tempo, mas é uma vontade que eu tenho e eu vou trabalhar para isso.”

A livraria faz parte de um movimento recente de criação de empreendimentos pequenos e otimistas, focados em nichos específicos e mantidos por leitores fiéis que não abrem mão do cheirinho de papel e fazem questão de comprar de “gente de verdade”. Dentre as inspirações da proprietária, estão o sebo curitibano Fígaro, um dos mais antigos da cidade, a livraria Joaquim e a carioca Alecrim: “Eu gosto muito da comunicação deles [Alecrim], do jeito que eles tratam o envio dos livros. É tudo feito com muito carinho. É meio que um estudo de caso para mim.”

Quem é Dona Plácida?

A gestação do nome começou no banho. Rafaela sabia que queria algo com “Dona”: “Eu acho Dona muito ‘da gente’. É um jeito meio informal de chamar as pessoas, mas que passa um ar de seriedade.” E “plácida” veio dos versos iniciais do Hino Nacional. O significado – tranquila, serena – tinha tudo a ver com a proposta de uma livraria. Soou bem, mas foi ao revisitar Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que teve certeza. A personagem Dona Plácida é uma mulher que sempre trabalhou para colocar comida na mesa. Sustentava a mãe e a filha, cozinhava, costurava, fazia de tudo. “Pensei ‘nossa, isso é muito brasileiro’. No texto, ele não fala se é uma pessoa negra, mas supõe-se sim, devido à época em que foi escrita a história. Ela é a única personagem mulher que trabalha no enredo. É um rompimento em várias coisas, achei muito forte”, conta Rafaela.

Um alento na pandemia

Tudo na vida de Rafaela é envolto pela escrita. Além de publicitária, é estudante de letras. Em criança, já era uma leitora voraz. Durante a pandemia, a futura Bacharel em Letras começou a pensar no que faria com a nova carreira e concluiu que sua grande paixão era mesmo os livros. Resolveu ter uma livraria. “A Dona Plácida está sendo um alento para mim. Tem tanta coisa ruim acontecendo e, por mais que esteja um clima péssimo para ler, eu sei que muita gente está se escorando nos livros para passar por tudo isso. Eu queria fazer parte disso”, diz Rafaela. 

Serviço:

Site da livraria: https://www.donaplacida.com.br/
Facebook: www.facebook.com/donaplacida
Instagram: www.instagram.com/donaplacida

Colaborou: Rafaela Moura

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