Meu problema com o futebol

Depois de ver o Brasil perder na Copa, entendi que o futebol é com frequência um esporte injusto e precário

Ver a Copa do Mundo é legal. Por causa de histórias como a do Marrocos que se classificou para as quartas-de-final ganhando da Espanha (uma das favoritas) e levando consigo o mundo árabe e o africano. Ou quando rivalidades históricas e políticas podem ser exercitadas de maneira mais ou menos pacífica dentro de campo de futebol – como quando a França jogar contra a Inglaterra, no sábado (10), às 16 horas.

Mas depois de ver o Brasil perder para a Croácia, entendi que o futebol é um esporte injusto e insatisfatório. Precário mesmo.

Por exemplo: uma das jogadas mais comuns, a da bola cruzada na área para alguém cabecear ou chutar, é um negócio feio de ver até quando dá certo (e foi assim que a Croácia empatou). E é um esporte injusto porque premia o antijogo. Num lance de falta, ver um jogador fingindo que está morrendo de dor com as mãos cobrindo o rosto enquanto rola na grama, para depois levantar e correr serelepe porque o árbitro não foi na onda dele, é uma das coisas mais irritantes do jogo.

“A beleza”

Na verdade, ele é tão precário que acho estranho que isso não seja discutido com mais frequência. Talvez todo mundo saiba da precariedade do futebol e não se importe. Talvez essa precariedade seja “a beleza” do esporte, o que dá sentido para ele. E eu que sou mal-informado ou mal-humorado.

Outra coisa que me incomoda é como o fair play é um negócio raro no futebol. O que vejo sempre é que, além de valorizar faltas que não foram nada – e que às vezes não foram nem faltas –, os jogadores fazem cera quando estão ganhando, seguram a bola para impedir uma cobrança de lateral, brigam com o árbitro, brigam com outros jogadores, levantam a mão para indicar impedimento em vez de se preocupar em marcar o cara que talvez não esteja impedido, brigam com o bandeirinha, preferem cavar um pênalti que não existiu em vez de insistir numa jogada importante e, agora, estão até deitando no chão atrás da barreira para dificultar uma cobrança de falta, numa cena meio ridícula. Esses caras não têm nenhum amor-próprio.

Copa do Mundo

E o futebol é precário também porque precisa ser jogado com os pés. Assim, mesmo jogadores bons têm dificuldade para dominar a bola. Quando arriscam um chute de longe, com frequência “pegam mal” na bola e ela espirra na direção da torcida. A coisa mais importante que o um jogador de futebol tem que fazer é chutar bola e mesmo assim parece que muitos jogadores que estão no campo não sabem chutar direito.

Não é raro ver uma partida em que os dois times conseguem chutar a bola na direção do gol meia dúzia de vezes em 90 minutos. E sem abrir o placar. Para um esporte que tem o gol como objetivo, isso é muito pouco. Por isso insatisfatório.

Mesmo nas melhores partidas, os jogadores passam uma quantidade de tempo considerável passando a bola para os lados e para trás, sem avançar para o ataque. Sem “criar” nada, como querem os comentaristas.

Aliás, durante os jogos na televisão, é triste ouvir um comentarista de futebol dizendo platitudes sobre linhas de defesa e de ataque, fulano que tem de jogar mais aberto ou sicrano que precisa recuar. É muito, muito raro ouvir um comentarista que ofereça algum conhecimento de verdade, que explique alguma coisa de maneira clara ou que simplesmente tenha coragem de dizer que o jogo está ruim, se for o caso.

O sentido do futebol

Entendi um pouco melhor a relação que torcedores têm com os times numa conversa com meu cunhado, que é gaúcho e torcedor do Inter, assim como o pai dele. Um dia, quis trocar uma ideia sobre as coisas que escrevi aqui e ele disse que não podia me ajudar porque não gosta de futebol. Ele gosta do Inter e o Inter é uma parte importante na relação que ele tem com o pai.

Então deve ser isso, pensei. Uma parcela do público vê futebol menos pelo esporte e mais pela experiência de torcer e pela sintonia com outros torcedores. É claro que existem chutes bonitos, jogadas bem orquestradas e jogadores talentosos, mas tenho a impressão de que o grosso da torcida não está muito preocupado com isso.

O mais importante é torcer e ficar do lado do time nas vitórias e nas derrotas, mas principalmente nas derrotas. O vínculo com um time de futebol – e esse time pode ser o do Brasil – é meio como o de qualquer relacionamento sério. Você conta com ele para enfrentar as dificuldades da vida e vive altos e baixos com ele.

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O leitor Rafael Cardoso Sampaio escreveu uma resposta para este texto: “Futebol é um esporte maravilhoso”.

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[Uma versão deste texto foi enviada para os assinantes do Plural na quinta-feira (8), dentro da newsletter Singular. Ele foi editado para incluir informações sobre a derrota do Brasil na Copa do Mundo 2022.]

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Meu problema com o futebol”

  1. Realmente ,tenho algumas mesmas impressoes sobre o futebol. A Copa do Mundo ê especial por esse confronto entre nações. Às vezes o jogo fica muito entediante, principalmente no “mata-mata”, quando parece que os dois times ficam com “medo” de atacar. Nessas horas parece mais um drama que um esporte.

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