Meio século depois, Super 8 segue conquistando cinéfilos

Festival curitibano, o maior da América Latina, exibe on-line filmes no formato clássico dos anos 60

Paixão é algo difícil de explicar. Fazer vídeo digital hoje sai de graça, com boa qualidade e uma praticidade sem igual. Mas e quem disse que isso é tudo que importa. Para alguns aficionados, o divertido mesmo pode ser o absoluto oposto: trabalhar com películas que não são fáceis de encontrar, mal permitem edição e que têm um preço um tanto salgado – mas que dá a eles um prazer que nenhum celular jamais daria.

Os fãs do Super 8, um formato que nos anos 60 e 70 era moda por causa do preço baixo e da praticidade, são uma tribo de cinéfilos interessados em produzir à moda antiga. Compram câmeras usadas na Internet, mandam trazer rolos dos Estados Unidos (U$ 40 a cada três minutos e meio, fora frete e impostos) e se deliciam fazendo filmes que em geral têm uma só tomada, para evitar edição.

Os filmes atuais nem banda sonora têm, o que obriga os realizadores a fazer a captação de som em gravadores à parte – e nem é preciso dizer como é difícil sincronizar as duas coisas. Há quem filme os personagens de costas na hora do diálogo para não deixar transparecer a falta de sincronia entre a fala e os movimentos dos lábios.

Apesar de todas as dificuldades, um grupo de fiéis adeptos não larga a bitola de oito milímetros por nada. E o séquito do Super 8 cresce anualmente, como mostram as oficinas realizadas em Curitiba e o festival Curta 8, que nesta semana chega à sua 16ª edição firme e forte, apesar da pandemia.

Ruído do projetor é parte da experiência. Foto: Divulgação

O festival, maior da América Latina no gênero, tem duas mostras competitivas. A primeira é para os participantes da oficina dada pelo próprio festival. Os filmes, de rolo único, em geral são feitos pelos novos realizadores e por vezes correm o mundo, conquistando prêmios. A segunda competição inclui filmes mais longos, de até quinze minutos.

“Este ano vai ser tudo diferente”, diz Antônio Carlos Domingues, coordenador do festival. “A gente está acostumado a reunir o pessoal na sala de projeção, ouvir o ruído do projetor, faz parte da experiência. Esse ano, com tudo on-line, vai ser um processo totalmente novo para a gente”, diz ele, que aprendeu a filmar em Super 8 na antiga Escola Técnica, hoje UTFPR.

Culto em alta

Antônio Carlos diz que o culto ao formato está longe de entrar em decadência. Este ano são 52 filmes inscritos. E no mundo inteiro, a tendência tem se mantido. “A Kodak está até anunciando o lançamento de uma câmera nova, que mescla o analógico do filme com um visor digital”, diz.

Hoje, comprar uma câmera no Mercado Livre e congêneres é fácil. Um espécime bem cuidado sai por R$ 200 ou R$ 300. Mas são as mesmas máquinas que rodam há quase meio século por aí, e muitas vezes começam a apresentar defeitos.

No auge do Super 8, o que fazia as câmeras serem uma febre era o preço baixo e a praticidade – é preciso lembrar que antes das filmadoras com, fitas magnéticas, a outra opção eram máquinas bem mais caras e pesadas, como as câmeras de 16 milímetros.

Jorge Bodansky, homenageado do ano. Foto: Divulgação

Muita gente aprendeu a fazer cinema assim, incluindo ícones da direção como Steven Spielberg e Robert Zemeckis. No Brasil, o formato também fez a cabeça de muita gente. Um dos diretores da época, Jorge Bodansky, será homenageado no festival deste ano.

A programação do Curta 8 deste ano também conta com uma mostra do que está sendo feito de melhor no mundo hoje em Super 8 e com um clássico do festival: o dia do filme caseiro. Na tarde de domingo, serão exibidos pequenos trechos filmados pelos aficionados em festas de aniversário, casamentos, ou o que for. Uma homenagem a todos os que mantêm essa tradução viva.

SERVIÇO:
“Curta 8 – Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba”
Data: 19 a 22 de novembro de 2020
Horário: Quinta e Sexta sessões às 19h e 20h. Sábado e Domingo sessões às 16h, 18h, 19h e 20h. Programação completa no site www.curta8.com.br
Transmissões gratuitas pelos endereços: curta8.com.br e estudio9.live
Classificação etária: 16 anos

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