Grande voz da literatura portuguesa, Lídia Jorge chega a Curitiba neste domingo

Em entrevista, Manoela Leão, do Litercultura, explica por que decidiu trazer romancista para evento em Curitiba

Os leitores de Curitiba vão poder conhecer no próximo domingo (27) uma das vozes mais importantes da literatura portuguesa hoje. A romancista Lídia Jorge participa de uma sabatina sobre o livro “Os Memoráveis”, que fala sobre a Revolução dos Cravos de 1974 e sobre a importância que o movimento, que resultou na queda da ditadura salazarista, tem até hoje para os portugueses.

Quem traz a escritora é o Litercultura, programa capitaneado pela produtora cultural Manoela Leão. Em entrevista ao Plural, ela explica a importância do evento e como decidiu trazer Lídia Jorge para o Brasil.

Por que você quis trazer a Lídia Jorge? O que nela te empolgou?
Lídia Jorge é uma das mais destacadas representantes da literatura europeia contemporânea, com uma obra vasta, sólida e premiada. No seu universo literário, ela evoca uma memória vívida que serve de base para a formação de uma identidade ética – tanto coletiva quanto individual. Seus temas abrangem o colonialismo e a ditadura, sequelas ideológicas, a posição da mulher, conflitos geracionais e tensões entre a sociedade moderna e pós-moderna.

Por razões que não podem ser facilmente explicadas, a obra de Lídia só começou a ser publicada recentemente no Brasil. Portanto, quando fomos desafiados pelo Vice-Consulado de Portugal em Curitiba e pelo Instituto Camões a trazer um autor ou autora para participar do Litercultura, o nome de Lídia pareceu ser a escolha mais-que-perfeita. Isso porque ela representa a síntese daquilo que valorizamos: a apresentação mútua de autores e leitores, a exploração de conexões entre literatura e temas relevantes para a contemporaneidade, e a introdução de novas formas de interagir com obras para além da leitura individual em si.

Estamos entusiasmados com a oportunidade de trazer Lídia Jorge para a Sabatina, marcando sua estreia. Sua trajetória sólida como escritora nos empolga, e esperamos proporcionar discussões ainda mais próximas do que o formato tradicional de eventos permite.

O livro que vocês escolheram trata de política e democracia. Até onde essa escolha teve a ver com o momento do país?
O livro “Os Memoráveis”, tema da sabatina, aborda a Revolução dos Cravos, importante levante popular que pôs fim à ditadura salazarista em meados da década de 1970, considerado um dos principais eventos históricos de Portugal. A partir da história de uma jornalista convidada a fazer um documentário sobre a revolução, o romance inspira uma reflexão sobre o árduo caminho do país até restituir a democracia.

E sabemos que a democracia vive um estado de tensão permanente. E também sabemos que a memória é parte fundamental para que a história não esteja condicionada a incorrer nos mesmos erros.

Existe um espaço, um entre-lugar, em que a verdade histórica, às vezes difíceis de enfrentar ou compreender, precisa surpreender aquele que anda “distraído”. A literatura é uma das melhores formas que conheço para isso.

Você sempre traz autores de fora para cá. O que você aprendeu sobre a recepção dos curitibanos à literatura estrangeira de hoje?
A mim, parece que Curitiba tem uma vocação para a receptividade do que vem de fora, ao mesmo tempo em que tem um profundo orgulho da literatura local. Em quase 10 anos de evento, com mais de cem autores, autoras, pensadores e artistas convidados, posso dizer que uma das coisas mais bonitas do festival é a hospitalidade da cidade a quem atravessa o oceano, da mesma maneira que recebe o autor ou autora que mora no bairro ao lado. E isso me parece uma coisa tão acertada, quanto enriquecedora.

A oportunidade de conhecer e receber quem (ou o que) vem de fora alarga nossa visão do horizonte. A receptividade, o (re)conhecimento e a curiosidade do curitibano em relação à literatura estrangeira é admirável.

O que os leitores podem esperar de “Os Memoráveis” e do encontro com a autora?
“Os Memoráveis” é um título que faz jus à fama de Lídia de não ser uma escritora que se lê às pressas, no tempo de uma sala de espera ou entre atividades. É um livro para se dedicar, para repousar e para anotar. Livros assim são perfeitos para este formato que estamos estreando: a Sabatina.

É um formato que gosto muito: distribuímos antecipadamente 100 exemplares para o público interessado. Damos tempo para a leitura e depois vamos nos encontrar coletivamente para conversar, debater, aprofundar, matar curiosidade, tirar dúvidas. Fazer isso com quem escreveu é um privilégio para qualquer leitor.

O encontro vai ser conduzido pela jornalista e produtora cultural Aurea Leminski que vai nos ajudar a dar as boas-vindas à Lídia Jorge. Por ser um evento com um público menor, porque assim é sua natureza, o microfone ficará aberto para os leitores. As portas também estarão abertas para quem quiser conhecer. Não necessita de inscrição, é só chegar e entrar. Lembrando que será dia 27, domingo, às 11h no Anfiteatro do Mon.

Quais são os planos para o Litercultura?
Queremos que este seja o primeiro capítulo que vai marcar a preparação para o grande festival de 10 anos, em 2024. A nossa ideia é promover mais atividades contínuas, pontuais e diferentes até agosto do ano que vem, quando queremos ter mais uma grande festividade.

Estamos estabelecendo parcerias institucionais muito importantes, como esta com representantes do Governo de Portugal. Estamos trabalhando para construir coletivamente formas de viabilizar as próximas edições.

Para isso, estamos apostando na retomada efetiva da valorização dos projetos culturais no nosso país.

Serviço
Sabatina com Lídia Jorge
Museu Oscar Niemeyer
Dia 27 (domingo), às 11h

Sobre o/a autor/a

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