Esc. fecha espaço físico, adota cursos on-line e dá bolsas inclusivas

Escola de Escrita faz seis anos em meio à pandemia: “Não consigo visualizar a gente se reunindo com segurança”, diz a fundadora Julie Fank

A pandemia do coronavírus obrigou a Esc. Escola de Escrita a inaugurar um novo capítulo em sua história. Desde 13 de março, o número 734 da rua Jacarezinho está vazio. Foram quatro meses de adaptação até decidir, por hora, fechar o espaço físico da escola. 

“Não faz sentido mais, não consigo visualizar a gente se reunindo com segurança”, diz a escritora, fundadora e diretora da escola, Julie Fank. Pelos próximos meses, a ideia é reunir recursos para abrir outro espaço, mais adiante. “Mas imagino que isso só vá acontecer a partir do meio do ano que vem”. Desde março, 128 alunos já foram atendidos na nova modalidade.

Além da adaptação ao meio digital, com a grade totalmente on-line, veio, também, a possibilidade de institucionalizar uma prática que já era pontual: a oferta de bolsas. A partir de seu sexto aniversário, então, a Esc. adota uma política permanente de ter bolsistas negros, LGBTQIA+ e indígenas em seus cursos on-line.

O objetivo é ampliar o público da escola e levar a educação pela arte para mais pessoas. Nesse primeiro momento, o processo de seleção dos bolsistas tem sido feito por meio de um formulário. Depois, há uma entrevista por vídeo para conhecer melhor a realidade dos candidatos. Diálogo é a palavra-chave do processo, que busca ser o mais humano possível.

Quem quiser saber mais detalhes sobre as bolsas pode conferir o site da Esc. “Essas ações afirmativas precisam contemplar corpos que estão em perigo”, diz Fank em referência à uma fala, de 2018, do escritor Silviano Santiago.

Agora, a escola que já havia passado pelas cinco regiões do país, segue seu projeto ocupando outros espaços, mais virtuais, mas mantém seu olhar nas possibilidades do agora. “Só entendendo de tradição, e de subversão, conseguimos fazer relações para além dos conteúdos disponibilizados por aí. Essa é a potência de uma aula, de um diálogo que pode acontecer na internet também”, diz a diretora. 

Tradição e subversão

“[A escrita] é um processo intelectual, artístico, braçal e pouquíssimo intuitivo. É intelectual e artístico na mesma medida”, afirma a escritora. É dentro desse conceito objetivo, mas ao mesmo tempo idealista, que a Esc. nasceu em julho de 2014. 

Celebrando seu sexto aniversário, hoje a escola é mais uma espécie de laboratório artístico. Um espaço em que os múltiplos sentidos de “arte” se encontram: a técnica, o ofício, a inventividade, a prática, o sonho. “A gente chama de espaço intelectual e artístico, não só para ensinar, no sentido estrito, mas para investigar processos criativos relacionados à escrita”, diz Fank. 

Enquanto instituição, a Escola de Escrita se propõe a derrubar mitos – entre eles, de que arte não pode ser aprendida, e que criatividade é um dom. Embora as coisas possam parecer paradoxais em um primeiro momento, é tudo uma questão de perspectiva: “Entender que a criatividade pode estar na resolução de um problema de matemática”, afirma a escritora. É simples: criar, na Esc., nada mais é do que encontrar soluções – no caso, para a escrita.

O idealismo por trás da proposta entra aqui. Ao despir a “arte da escrita” de seus mitos, ela se torna muito mais acessível, e menos limitada. Conhecer a tradição, para – justamente – poder subvertê-la.

Se fosse um livro, a história da Escola de Escrita seria, de acordo com sua fundadora, uma mistura entre narrativas dos escritores Italo Calvino, Miranda July e Julio Cortázar. Um certa “insistência do início”, do romance metalinguístico “Se um viajante em uma noite de inverno”, do italiano Calvino – considerado uma ode ao leitor. A marca afetiva do conto “A equipe de natação”, que integra o livro “É claro que você sabe do que estou falando”, da americana July. E a subversão de “Último round”, publicado em 1969 pelo argentino Cortázar.

Um sonho inesperado

Quando ingressou no curso de Letras, em 2006, na cidade de Cascavel, a ideia de Fank não era tornar-se professora. Mas foi das salas de aula – ministrando cursos que buscavam melhorar a habilidade de escrita de seus alunos – que a ideia para a Esc. surgiu, ao perceber que a demanda por “aprender a escrever” ia para além das dificuldades de gramática.

A formalização, no entanto, só veio em 2014, quando, recém-chegada à capital paranaense, Fank decidiu abrir um CNPJ para poder emitir certificados. A mudança para Curitiba tinha relação com outro projeto, de uma editora de revistas, que acabou não dando certo. Se por um lado a empreitada midiática não foi adiante, por outro, o caminho que a levaria a traçar em definitivo a rota da escrita se solidificou com a aprovação no doutorado em Escrita Criativa, na PUC do Rio Grande do Sul. 

O projeto da Esc. começou em um coworking, e foi crescendo: “Talvez porque eu tenha dado um nome óbvio para alguma coisa que as pessoas já estavam querendo fazer”, diz. Foi um encaixe, com o doutorado vieram novos contatos, e mais possibilidades. Mas também dias e noites de trabalho intenso, preocupação com dinheiro e a necessidade de aprender, do zero, a administrar uma empresa. “Não era o sonho que eu tinha quando eu vim para cá, mas se tornou o sonho de muita gente – que eu faço questão de manter”, afirma Fank. 

Serviço
Bolsas inclusivas para cursos da Escola de Escrita
Inscrições podem ser feitas via formulário, mais detalhes sobre quem pode concorrer às vagas, e quais os cursos, no site da escola.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima