A história incrível de “Napo”, o primeiro curta de animação em 3D de Curitiba

Filme sobre a relação do neto com o avô que perde a memória chama atenção no circuito de festivais e será exibido pelo Olhar de Cinema

“Napo” acaba de ganhar um trailer e de conseguir a façanha de entrar em 19 festivais internacionais, uma lista que inclui Xangai e Los Angeles, na Califórnia.

Mas a maior proeza da equipe por trás do filme – que não é pequena – foi a de ter feito o primeiro curta-metragem curitibano de animação em 3D, tendo como referência os grandes estúdios americanos. É o que poderia ser chamado de padrão Pixar de qualidade.

No filme, o velho Napo – de Napoleão – já não pode mais viver sozinho e tem de se mudar para a casa da filha Lenita. Ele tem dificuldade para se lembrar das coisas e até de reconhecer o neto João, com quem passa a dividir o quarto.

O Plural pôde assistir ao filme e “Napo” é mesmo impressionante do ponto de vista técnico – poderia concorrer ao Oscar da categoria sem fazer feio. Mas o que marca de verdade é como a animação funciona para narrar uma história muito humana.

Os detalhes do desenho são de um passado recente, da década de 1990, ainda com videocassetes e fotografias de papel. Numa refeição, o menino come arroz e feijão num prato branco com detalhes alaranjados, enquanto a mãe lava louça usando uma esponja amarela e verde.

Na mudança, Napo leva consigo, além de uma poltrona, alguns poucos pertences pessoais. Entre eles, um álbum de fotos. A filha folheia o álbum com o pai, mas as imagens não significam nada para ele.

Num impulso, João começa a desenhar no verso das fotografias, imaginando desdobramentos para situações registradas no papel. São esses desenhos que ajudam o avô a acessar pedaços do passado e a finalmente reconhecer a filha e o neto.

“Napo” é apresentado como um filme sobre memórias, mas é também sobre formas de se conectar com alguém querido.

O início

Quando conseguiu ser aprovado em um edital de cultura do governo do estado em 2015, um grupo de estudantes de Artes Visuais e Letras não fazia ideia do trabalho que teria pela frente.

“Assim que começamos a ter mais noção de como seria o processo de realizar um curta no Brasil, logo ficou claro que a gente foi muito ambicioso na hora de prometer um filme de animação de 16 minutos – era algo muito complexo e não conhecíamos nem a quantidade de pessoas necessária pra ajudar a gente com a produção”, diz Gabriela Antonia Rosa, uma das roteiristas do curta, em entrevista pelo WhatsApp.

Gabriela é irmã de Gustavo Ribeiro, o diretor do filme. Os dois são paulistas, mas vivem em Curitiba há mais de 20 anos. O quarteto que deu início ao projeto se completa com a produtora Thais Peixe e o animador Daniel Freire.

É o avô de Daniel que inspirou a história de Napo.

Detalhes do desenho remetem a um passado recente, da década de 1990.

Revo

Com dificuldade de encontrar profissionais da área, eles tiveram a ideia de criar uma escola, a Revolution (ou “Revo”, para os mais chegados), e ministrar cursos a fim de preparar gente que pudesse dar uma mão com o “Napo”.

A maioria dos cursos é de arte digital e tem nomes como “Criação de cabelos 3D com XGen no Maya”, “Concept art para cenários” e “Motion graphics”. Na pandemia, os cursos seguem com versões on-line.

“A escola vai fazer cinco anos em 2020 e é a grande responsável por termos conseguido terminar o filme”, diz Gabriela. Nessa meia década, algo em torno de 1,5 mil alunos passaram pela Revo e dezenas deles se envolveram indiretamente com a produção do curta (que mobilizou ao todo 110 profissionais de várias áreas).

Miralumo

“É fundamental destacar que a gente jamais conseguiria ter feito o filme só em quatro pessoas”, diz Gabriela, que criou a produtora Miralumo com Gustavo, Thais e Daniel.

Além disso, o dinheiro arrecadado com os cursos ajudou a completar o orçamento do filme. Por meio do edital, eles receberam R$ 140 mil. A escola rendeu um valor parecido. Então: cerca de R$ 300 mil.

Mas uma parte significativa do orçamento – outros US$ 250 mil (ou R$ 1,25 milhão) – não veio em dinheiro. “O que salvou a gente foram os patrocínios internacionais que nos deram licenças de softwares caríssimos e apoio nas partes técnicas”, diz Gabriela.

Ela explica que, de fato, 80% do filme foi feito em Curitiba. “O restante da produção ocorreu fora do Brasil porque existem duas áreas bem específicas em animação que têm pouco mercado aqui: a gente precisou de muitos animadores 3D (de mais de 15 países) e toda a finalização do filme (que tem o termo técnico de renderização) foi feita na Alemanha”, diz.

E agora?

Com o filme pronto, os festivais deveriam servir como vitrine para encontrar distribuidores. “Então, os festivais funcionam como uma bela vitrine sim, mas é difícil que os distribuidores se interessem por curtas…”, diz Gabriela.

No melhor dos mundos, “Napo” seria exibido nos cinemas abrindo sessões para filmes de longa-metragem, como acontece com as produções da Pixar. “Mas o caminho para que isso aconteça não é tão direto”, diz Gabriela. “O ideal pra gente seria conseguir vender o filme para alguma plataforma de streaming.”

Até lá, e enquanto estiver percorrendo o circuito de festivais, “Napo” deve continuar inédito.

Como ver o filme

A boa notícia é que um desses festivais é o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, que acontece entre os dias 7 e 15 de outubro.

A programação só sai em setembro, mas os organizadores já confirmaram que “Napo” será exibido na Mirada Paranaense, a parte do evento dedicada a filmes produzidos no Paraná.

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1 comentário em “A história incrível de “Napo”, o primeiro curta de animação em 3D de Curitiba”

  1. Ellen Vitória Gomes Leandro

    Eu preciso de ajuda no dever de casa, diz sobre qual mensagem pela curta metragem “Napo” foi transmitida, ME ajudem preciso da resposta para hoje se não irei pra diretoria 🙁

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