Curitiba ganha cor nos murais e grafites feitos por mulheres

Mulheres estão ganhando cada vez mais espaço num meio artístico em que os homens ainda predominam: o do grafite

Curitiba, uma cidade cinzenta e de céu nublado, ganha cor nos murais e grafites espalhados pela cidade. Estimar o número dessas obras é difícil por se tratar de uma arte viva – todos os dias murais são criados, refeitos ou apagados. Nesse meio do grafite, predominantemente masculino, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço. 

“Isso [os homens ainda serem maioria no mundo grafiteiro] pode ser atribuído a vários fatores, incluindo a falta de acesso a recursos e oportunidades de treinamento, bem como a persistência de estereótipos de gênero na arte e na cultura em geral”, diz Giusy De Luca, produtora cultural da Mucha Tinta e idealizadora do coletivo Muchas Minas.

Para ela, os coletivos femininos criados nos últimos anos servem para fortalecer e estimular a produção de arte feita por mulheres. “As mulheres artistas muitas vezes trabalham em condições difíceis e isoladas, mas, ao se juntarem a um coletivo, podem compartilhar recursos, habilidades e conhecimentos, além de se apoiarem mutuamente em sua prática artística”, diz De Luca. 

Grafite

Eloá Cruz fundou a Crew 100horas em 2014 com o objetivo de unir e estimular a produção de arte por mulheres. Artista há 15 anos, Eloá fez de um hobby sua profissão e, com o tempo, viu a importância de acolher outras mulheres. Com o tempo, o impacto de sua iniciativa se tornou evidente. “Percebo a diferença de pintar sem se preocupar com alguém que está te olhando, sabe? É só pintar, sem preocupações”, diz Cruz.

A grafiteira conhecida como Yas queria tirar a sua arte do papel e passar para os muros, e começou fazendo isso na casa da avó em 2018, quando ainda morava no Mato Grosso. Ao vir para Curitiba em 2021, o grafite virou parte da sua rotina. “Comecei a grafitar cada vez mais, conheci uma galera aqui e passei a ter contato com meninas do movimento e me identifiquei” . Ela ressalta a presença das mulheres na cena. “Principalmente quando tem encontros, percebo que somos minoria, mas que não deixamos de estar lá”, diz Yas.  

Mural da artista Eloá Cruz. (Foto: Arquivo Pessoal)

Representatividade

A artista visual Mariê Balbinot, também veio de outro estado. Sua trajetória como artista começou em Joinville (SC) e, na época, Balbinot era a única grafiteira de sua cidade. Para a artista, a representatividade impulsiona outras mulheres. “A partir do momento que vejo uma mulher pintando na rua isso me fortalece e me encoraja a pintar também”, diz. 

Além disso, na opinião de Balbinot, todos devem ser envolvidos no processo de incentivo às artistas femininas. “O mínimo que se pode fazer é ter 50% das mulheres nos line-ups e nos eventos”. 

Muralista

Cris Pagnoncelli, artista visual e muralista, pintou um mural de 200 metros. O mural em questão foi pintado na lateral de um prédio comercial na Rua Presidente Faria, no Centro de Curitiba. A obra foi produzida com uso de recursos da Lei de Incentivo à Cultura e idealizada pela produtora Muchas Minas. 

Para Crispa, iniciativas públicas como essa servem de incentivo e aumentam as oportunidades dadas às mulheres. A designer ressalta a importância de discutir a inserção de homens e mulheres no movimento. “Recentemente, participando de uma ação somente para mulheres, refleti o quão importante é a gente se movimentar por conta, para encorajar mais mulheres, mas acredito que só evoluiremos de fato quando os homens somarem na luta por equidade em todas as oportunidades, sempre buscando incluir mais mulheres em eventos e iniciativas.”

Arte de Luciana Gnoatto. (Foto: Arquivo Pessoal)

Espaço democrático

Luciana Gnoatto começou sua carreira como designer e sua produção artística estava dentro de ambientes fechados fornecidos por amigos e colegas. Ao longo do tempo o desejo de levar sua arte para a rua foi crescendo.“A rua é um local democrático e eu queria ocupar esse espaço também”, diz. Durante muito tempo, Gnoatto se viu sozinha, mas aos poucos foi fazendo conexões. “Quando comecei a encontrar outras artistas, eu me senti acolhida, todas estamos na mesma situação e juntas encontramos soluções para nos fortalecer.”

Terapia

Grafiteira há três anos, Dpaula vê a arte como sua terapia e acredita que hoje em dia, com as redes sociais, é mais fácil o acesso das mulheres à arte. “Hoje em dia o Instagram ajuda bastante, as pessoas curtem o seu trabalho. Às vezes, recebo perguntas sobre as técnicas que uso e tals. Acho que hoje em dia é mais de boa estar no movimento”. Para ela, as mulheres vêm se destacando na arte de rua e a tendência é que cada vez mais artistas femininas despontem na cena.

Colaborou Julia Sobkowiak.

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