Isto não vai soar muito original, mas o maior problema do livro “O jovem”, de Annie Ernaux, é ser… pequeno demais. De dimensões reduzidas.
Ele tem um formato de bolso e meras 56 páginas. Quer dizer que, se for seu primeiro contato com um texto da francesa vencedora do Nobel 2022, o livro vai ser um aperitivo. Mas ele pode ser também uma breve introdução à obra de Annie Ernaux. Um convite. (O livro com certeza tem a aparência de um convite.)
Annie Ernaux
Annie Ernaux usa a própria vida como matéria-prima de seus livros. Como, aliás, muitos escritores fazem. Mas no caso de Ernaux a relação da matéria-prima com a obra fica mais escancarada. Assim seus textos autobiográficos falam do pai (“O lugar”), da mãe (“A vergonha”) e de um aborto clandestino que fez aos 23 anos (“O acontecimento”). E é ela que conta essas histórias, que dá sua versão delas. “Se não escrevo as coisas, elas não encontram seu termo, são apenas vividas”, diz ela.
Em “O jovem”, Ernaux escreve sobre a relação que teve, aos 54 anos, com um rapaz de 25. “Há cinco anos, passei uma noite inapropriada com um jovem estudante que vinha me escrevendo havia um ano e que queria me encontrar”, começa o livro.
A partir daí, Ernaux faz uma análise genial dos afetos, traça um paralelo da sua experiência com aquela de homens que se relacionam com garotas mais jovens e, no que pode ser descrito como uma autoanálise, procura entender suas motivações para sustentar uma relação em que “se misturavam o sexo, o tempo e a memória”.
Livro
“O jovem”, de Annie Ernaux. Tradução de Marília Garcia. Fósforo, 56 páginas, R$ 39,90. Autobiografia.