Rebeca Jakobson, a chef que resgata a comida dos imigrantes judeus

Especializada em eventos e festas, a cozinheira se reinventou na pandemia e passou a servir pratos típicos no delivery

A comunidade judaica de Curitiba não é muito numerosa. “Mil e poucas famílias”, diz a chef Rebeca Slud Jakobson Pustilnick, 35, ela mesmo uma integrante do grupo. Para manter vivas as tradições judaicas, a cozinheira se especializou na culinária trazida pelos imigrantes.

O cardápio foca em pratos do leste europeu, por Rebeca ser neta de poloneses e porque boa parte dos imigrantes vieram da Polônia, Ucrânia e outros países da região. Tem varenikes de batata (oito unidades por R$ 19,90) e chrein (raiz forte) com beterraba em conserva (R$ 20 para 300 g), por exemplo.

Antes da pandemia, Rebeca trabalhava com catering em eventos e festas judaicas. Hoje ela se reinventou servindo delivery de pratos congelados. “Preparo alimentos típicos que remetem à memória afetiva das famílias”, explica a cozinheira, com formação pelo Centro Europeu.

Pão chalá, trançado e levemente adocicado. Foto: Divulgação.

Outros pratos são inspirações da culinária alemã, como o guefilte fish, bolinhos cozidos de peixe, levemente salgados e servidos frios com cenoura e raiz forte (R$ 48 a dúzia); e o strudel de maçã (R$ 36 para oito fatias).

“Comidas que antes da pandemia eram consumidas geralmente nas festas, hoje entram semanalmente nas casas das famílias. A pandemia trouxe um apelo mais sentimental e afetivo da cultura judaica”, conta Rebeca.

O público, frisa a cozinheira, tem ultrapassado as barreiras culturais e religiosas. “Tenho muitos clientes sem ligação com o judaísmo que pedem comida toda semana. É uma cozinha muito democrática”, afirma.

Guefilte fish, bolinhos cozidos de peixe com decoração de cenoura. Foto: Divulgação.

Os pães são um dos carros-chefes do menu. Em especial o chalá, uma versão trançada, coberta com gergelim e levemente adocicada. A iguaria é preparada em cinco versões, desde o multigrãos ao de uva passa e de azeitona (a partir de R$ 12 a unidade).

O cardápio muda semanalmente e conta também com pratos árabes, como as pastas babaganoush (à base de berinjela), homus (grão de bico) e coalhada seca; e opções gregas, como as burekas, folhadinhos assados e recheados com queijo cremoso ou batata (a partir de R$ 24 para dez unidades).

Rebeca monta também kits e vende uma linha de presentes personalizados e peças de decoração com motivos judaicos.

Arenque marinado com cebola. Foto: Divulgação.

Natural de Ponta Grossa, Rebeca se dedica à cozinha há 12 anos. Sua família, que já teve restaurantes, trocou os Campos Gerais pela capital para ficar mais próxima da comunidade judaica, já que no interior são poucos os integrantes.

Seus avôs, Moisés Jakobson e Chaskiel Slud – já falecidos – sobreviveram ao Holocausto. Chaskiel perdeu os pais e os irmãos durante a Segunda Guerra Mundial. Moisés viveu no gueto criado pelos nazistas em 1940, na cidade de Lazzy, na Polônia. Dois anos mais tarde, aos 16 anos, sua casa foi invadida por soldados alemães que o levaram de trem para outro gueto. Em seguida, perambulou por três campos de concentração.

“Holocausto é palavra cujas letras vertem eternamente lágrimas e sangue e deve servir de alerta para o potencial humano para cometer práticas genocidas”, disse Moisés durante uma palestra proferida no Senado, em 2013.

Após o conflito, Moisés e Chaksiel buscaram – e encontraram – uma nova vida no Brasil. Moisés se estabeleceu em Curitiba, em 1952, onde morou até a morte em 2015, aos 88 anos. Dedicou os últimos anos de vida para manter viva a memória da Shoá. A ele foi dedicado o Memorial Judaico de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.

Segundo a Confederação Israelita do Brasil, a comunidade judaica brasileira conta com 120 mil integrantes e é a segunda maior da América Latina, apenas atrás da Argentina. No Paraná, são cerca de 1 mil famílias. Os primeiros imigrantes chegaram ao estado em 1889, embora os judeus já estivessem presentes em outras regiões do país.

Perseguições se sucederam ao longo dos séculos. Até 1822, por exemplo, a religião católica era a única reconhecida pela Coroa portuguesa. Já no governo de Getúlio Vargas (1940 a 1945), os imigrantes tiveram que “nacionalizar” seus nomes e eleger brasileiros natos para as diretorias de entidades tradicionais.

Apesar do tratamento recebido pelo governo Vargas, os judeus deram a própria contribuição ao país integrando as forças expedicionárias brasileiras que lutaram na Itália na tomada do Monte Castelo.

Ainda nos anos de chumbo da ditadura militar, entre 1964 e 1985, dez militantes judeus foram mortos pela repressão. O caso mais emblemático é o do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pelo regime militar nas instalações do DOI-CODI, em São Paulo.

A culinária é cultura e Rebeca ajuda a manter viva as tradições por meio da comida. Afinal, a mesa é lugar para contar, relembrar e construir histórias.

Serviço

Rebeca Slud Jakobson Pustilnick – Personal Chef & Catering Gastronomia – (41)-99661 0642 (WhatsApp). Encomendas e pedidos devem ser feitos até as 18h de quarta-feira. Entregas e retiradas são feitas na sexta-feira durante o dia. facebook.com/PersonalChefCateringGastronomia; instagram.com/personalchefrebeca; instagram.com/rivkafitaspersonalizadas.

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