Fui ao restaurante Ninna Cozinha como quem vai ao cinema sem saber a sinopse do filme. Pela experiência.
Era sábado à noite, apareci na porta sem reserva e queria mesa para duas pessoas. Como ainda era cedo, me colocaram numa mesa disponível ao lado do bar – e achei o lugar mais legal da casa. Você tem alguma privacidade – são apenas três mesas nesse canto – e uma bela vista do salão.
Ninna Cozinha
Aliás, a casa é uma atração. Antiga, com um pé-direito enorme, ela consegue ser ao mesmo tempo acolhedora e espaçosa. O estilo da decoração, clara e discreta, é o que chamam de “contemporâneo”. Nela predominam tons pastel, com detalhes em madeira e algumas plantas em lugares estratégicos. O bom gosto é visível e o ambiente é tranquilo, com pouquíssimo ruído (mesmo de casa cheia e mesmo ao lado do bar). A música tem um volume agradável e ninguém tem pressa. Nem você.
A entrada
Decidimos dividir uma entrada e pedir dois pratos. Também escolhemos uma garrafa de vinho branco e aceitamos outra de água sem gás.
No cardápio, eles chamam a entrada de “carne de onça com gema perfeita” (R$ 68), acompanhada de broa tostada. Trata-se de uma gema de ovo cozida a 65ºC por 45 minutos. Assim ela fica firme o suficiente para não se desmanchar sobre o prato, mas quando estoura com o garfo, revela uma consistência de creme. É preciso misturar a gema com a carne crua, picada na ponta da faca e temperada com mostarda e outros condimentos. Por causa da gema de ovo, a carne de onça acaba lembrando um steak tartare. Os dois pratos são, por assim dizer, parentes próximos.
Se o jantar tivesse terminado ali, só com a entrada, já teria sido uma experiência memorável. A carne, o atendente me explica, é uma fraldinha (ou mignon, dependendo do dia) que primeiro é congelada e depois cortada, sem descongelar. No prato, ela é macia e tem um sabor leve e umami. Foi, sem exagero, a melhor carne de onça/steak tartare que comi em muito tempo.
Os pratos
Mas o jantar foi além. Pedi um arroz jasmine (ou arroz jasmin) com aspargos, burrata, tomate assado e creme de limão rosa (R$ 90). Comum na Tailândia, o jasmin é descrito como um tipo de arroz de sabor complexo e mais fácil de digerir. Ele também tem uma consistência diferente que acaba dando ao prato um aspecto de risoto, mas sem o mesmo peso. Duas porções elegantes de burrata decoram o prato e funcionam bem com a acidez do creme de limão rosa e o sabor levemente adocicado do arroz.
Minha companhia pediu um ravioli de cordeiro, cogumelos, espuma de queijo tulha e farofa de pão. Provei o prato e fiquei impressionado com o recheio, suculento e bem temperado. A farofa de pão rebate o sabor acentuado do cordeiro e dos cogumelos. O mais interessante é que é um prato de texturas: tem a maciez da massa, a crocância da farofa e a cremosidade da espuma de tulha. Mas confesso que não dei muita bola, estava tão feliz com meu arroz (e é impressionante como uma boa refeição deixa a gente feliz) que não queria comer mais nada.
O vinho
Isso tudo combinou bem com o vinho branco, um argentino chamado Andeluna que escolhi por causa da uva torrontés. Os vinhos feitos dessa uva costumam ter um aroma e um sabor de fruta bastante acentuado (com frequência, de frutas tropicais).
Mas esse Andeluna, safra 2021, é diferente, a fruta me pareceu mais discreta e o sabor, mais equilibrado. Combinou bem com os pratos que escolhemos.
Embora o vinho não seja uma barganha (R$ 170), o preço cobrado pelo restaurante, pelo que pesquisei, me pareceu justo. Se você não quiser pedir uma garrafa, uma boa alternativa é optar pelo vinho em taça (R$ 35).
O café da manhã
Depois, fui saber que um dos trunfos do Ninna Cozinha – que faz parte do grupo Obst e é comandado pelo chef Willian Peters – é a proposta de atender o público o dia inteiro, de segunda a sábado, das 8h às 23h. No domingo, o restaurante funciona das 9h às 17h. Não bastasse fazer uma carne de onça espetacular, me contam que o forte da casa, que foi inaugurada no ano passado, é o café da manhã (você pode conferir as opções no cardápio, aqui). Na hora do almoço, eles servem pratos executivos, com entrada, prato principal e sobremesa (dá para ver algumas fotos no perfil do Instagram, aqui).
Com dinheiro e disposição, é um lugar – e um cardápio – que merece ser visitado várias vezes.
(Seguindo as regras do Plural, fui ao restaurante sem me identificar como jornalista e paguei pela minha refeição.)
Serviço
Ninna Cozinha
Endereço: Rua Desembargador Motta, 1.861 – Batel.
Contato: (41) 999 423 431
Reservas: aqui (ou pelo perfil do Instagram, aqui)
Horário: de segunda-feira a sábado, das 8h às 23h; domingo, das 9h às 17h.
Estacionamento: sim
Avaliação do Plural: ⭐⭐⭐⭐
(⭐- razoável, ⭐⭐ – bom, ⭐⭐⭐ – excelente, ⭐⭐⭐⭐ – fenomenal)
Opções de serviço: no local, para viagem e entrega (via iFood)
Ambiente: amplo e aconchegante, com uma decoração discreta e minimalista
Ruído: baixo
Principais pratos: as opções são muitas e vão do café da manhã ao jantar; a cozinha é contemporânea
Vegano/Vegetariano: vários pratos do cardápio podem ser adaptados, se for preciso
Bebidas: vinhos, água, café, cerveja, drinques etc.
Sobremesas: confira o cardápio abaixo
Preço: $$$$
(Valor do prato principal mais barato com bebida não alcóolica: $ – até R$ 30 por pessoa, $$ – entre R$ 31 e 80 por pessoa, $$$ – entre R$ 81 e 150 por pessoa, $$$$ – mais de R$ 151 por pessoa)
Espaço Kids: não tem, mas oferece menu kids
Pet friendly: não
Público LGBTQIA+: bem-vindo
Acessibilidade: ♿♿♿
O ambiente é de fácil acesso para quem tem dificuldades de mobilidade.
(♿ – pouca ou nenhuma acessibilidade, ♿♿– acesso facilitado, ♿♿♿ – acessibilidade excelente)
Cardápio: aqui