Pobreza menstrual é tema relevante, sim!

Meninas deixam de ir para a escola por não terem absorvente e perdem oportunidades futuras no mercado de trabalho, na sociedade

Algumas reações não chegam a me assustar, mas me revoltam. Há uma parcela da população, fortalecida desde as eleições de 2018, que se sente ofendida e vêm para o ataque quando colocamos visibilidade em alguns temas. Falar de algumas pautas da mulher é como agredir esse grupo. Em março deste ano, protocolei na Câmara de Curitiba um projeto que tem como finalidade oportunizar a realização de campanhas permanentes de caráter educativo na rede de ensino público municipal sobre a temática Ciclo Menstrual.

Temos de assumir publicamente que vivemos em um contexto de precariedade menstrual, em que crianças e jovens, sem acesso a absorventes higiênicos, utilizam materiais inadequados como jornal, papel higiênico, miolo de pão ou tecidos; e por consequência, seja por motivo de economia ou por falta de acesso à informação, se expõem a riscos de saúde como infecções.

Estamos propondo na lei, não apenas a campanha, mas que as escolas utilizem uma rubrica de higiene do fundo rotativo, que é um recurso extra das escolas, para terem absorventes para as alunas e contem a elas dessa possibilidade. Que a barreira para que essas meninas tenham uma vida escolar digna seja quebrada. É algo simples e essencial na vida de todas as pessoas que menstruam.

Assim que protocolei e divulguei o projeto, recebi ataques nas redes sociais. O tempo e criatividade que essas pessoas têm para agredir o projeto são enormes: fui chamada de impostora, campeã de projetos inúteis, inspirei memes super preconceituosos e machistas. Sei que não sou a única, e nem a última, vereadora vítima desses chamados haters, mas me espanto com a falta de sensibilidade, ou como alguns temas são um não-tema, que deveriam simplesmente desaparecer para determinadas pessoas.

Meninas deixam de ir para a escola por não terem absorvente e perdem oportunidades futuras no mercado de trabalho, na sociedade. Pessoas em situação de rua que estão sofrendo ainda mais na pandemia, em dias de chuva, sofrem sem ter calcinha. Esse é um tema SIM relevante e que não podemos mais ignorar. Ignorar não vai fazer o problema desaparecer.

Em pesquisa realizada pela marca Sempre Livre, da Johnson & Johnson, em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, no Brasil, Índia, África do Sul, Filipinas e Argentina, foi constatado que 54% das mulheres entre 14 e 24 anos não sabiam ou tinham poucas informações sobre menstruação no momento primeira menstruação. Da totalidade de entrevistadas 39% afirmaram pedir um absorvente emprestado como se fosse um segredo e tentam esconder de alguma forma que estão menstruadas, 31% não lavam o cabelo ou conhecem alguém que evita esta ação durante o ciclo. Nessa linha, 74% das brasileiras deixam de entrar na piscina, 66% param de praticar esportes, apenas 22% não têm medo de levantar durante a aula no período menstrual, e somente 24% não acham a menstruação nojenta. São dados que mostram a falta de conhecimento sobre o assunto que é parte delas.

Precisamos disseminar informações dentro das escolas municipais e fora delas, contribuindo para a formação social, bem como capacitar nossos professores e equipe pedagógica para implementação das ações de discussão também conscientizará as e os servidoras e servidores municipais sobre o tema. Mas, para além disso, fico pensando em como sensibilizar essas pessoas que perdem tanto tempo criando artes e memes digitais e não compreendem a falta que um absorvente faz na vida de muitas pessoas.

* Dados incluídos no projeto de lei foram retirados de menstruação, mitos e verdades em:

https://vogue.globo.com/beleza/noticia/2018/08/menstruacao-mitos-e-verdades-sexo-saude-mulher.html


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