Registros que revelam face oculta

Algum dia vai ser difícil acreditar que alguém tenha afirmado que a Terra é plana e que seu parceiro tenha tachado a Covid-19 de gripezinha...

Por conta da reclusão em face da pandemia, muita leitura. E a renovada satisfação até com releituras graças a velhas edições de almanaques. Isso mesmo. Almanaque, que vem ou vinha a ser um folheto ou livro. Além do calendário do ano, trazia diversas indicações úteis, poesias, trechos literários, anedotas, curiosidades e etc.  

O almanaque possui uma origem remota, que antecede aos tipos móveis e metálicos de Gutenberg. Trazido do Oriente para o Ocidente, no final da Idade Média, o mais famoso foi encontrado no Egito Antigo, datando do século 13 antes de Cristo. Na Europa, tornou-se conhecido graças a astrólogos árabes.  

Das cidades e dos campos  

Ainda sobre os almanaques, segue outra transcrição de um trecho de Como se Inventaram os Almanaques, de Machado de Assis (1839-1908):  

– O almanaque trazia a língua das cidades e dos campos em que caía. Assim toda terra possuiu no mesmo instante, os primeiros almanaques. Todos tinham almanaques. As matronas, os velhos e os rapazes, juízes, sacerdotes, comerciantes, governadores, fâmulos, era moda trazer o almanaque na algibeira.  

E, sem esquecer o Almanaque do Pensamento, que começou a ser editado 1912, e temos o também excelente Almanaque Saraiva, publicado a partir de novembro de 2018, que, de certa feita, publicou na coluna Você Sabia? – assinada por Marcelo Duarte, autor do Guia dos Curiosos, Panda Books, a propósito de frases famosas que nunca foram ditas – mas ficaram famosas.  

Cena do filme Casablanca, com Sam, Rick e Ilsa.

– Play it again, Sam!  

A frase nunca foi dita no filme Casablanca (1942). Na verdade, Rick, interpretado por Humphrey Bogart, diz “You played it for her, you can play it for me. Play it” (Se você tocou para ela, pode tocar para mim. Toque!). Já Ilsa (Ingrid Bergman) diz “Play it, Sam. Play ‘As Time Goes By’”. (“Toque, Sam. Toque ‘As Time Goes By’”).  

Na Baker Street 221b  

Mal comparando, ou melhor, com todo o respeito, ir a Londres e não ir à Baker Street n.º 221b é como ir a Roma e não ver o Papa. Ou, como prefere um amigo, vir a Curitiba e não visitar o Passeio Público, o Museu do Olho ou almoçar tomando um bom vinho em Santa Felicidade.  

Arthur Conan Doule, o criador de Sherlock Holmes.

Vai daí que um amigo, de passagem por Londres, fez questão de conhecer a casa de Sherlock Holmes. Na volta, tratou de ler a respeito do personagem de Arthur Conan Doyle.  

E ficou espantado. Lendo um velho exemplar do Almanaque Saraiva, coluna Você Sabia?, de Marcelo Duarte, a propósito de frases famosas que nunca foram ditas, topou com a famosíssima “Elementar, meu caro Watson!”  

O tal comentário de Sherlock Holmes nunca apareceu em nenhum de seus livros. O mais próximo a ele, registrado na obra do escritor e médico Arthur Conan Doyle (1859-1930), foi um diálogo entre Holmes e Watson logo no início de O Corcunda, de 1893. O detetive começa a conversa se referindo ao companheiro como “Meu caro Watson…” Depois da fala de Watson, Sherlock responde: “Elementar”.  

Quem uniu o elementar ao meu caro Watson foi o ator norte-americano William Gillette, um dos primeiros a adaptar a obra para o teatro. A coisa pegou – e ficou. Mas, disposto a dedicar mais tempo a romances históricos, Conan Doyle matou Holmes em uma batalha final com o professor James Moriarty em O Problema Final (The Final Problem, publicado em 1893, mas a história ocorre em 1891). Holmes e Moriarty acabam morrendo nas Cataratas de Reichenbach, no vilarejo de Meiringen, na Suíça. E as cataratas ficaram mais famosas ainda. Elas são formadas por 7 cascatas e algumas atingem 300 metros de altura.  

Depois de Sam, o toque do jazz – também da coluna de Marcelo Duarte outra frase, agora da matéria Jazz no Brasil, de Sergio Vilas Boas, proferida por Amilton Godoy, aquele do velho Zimbo Trio, que surgiu em 1964, com Amilton ao piano, Luís Chaves no contrabaixo e Rubinho Barsotti na bateria.  

– No jazz, você não compra a música. Você compra o instrumentista.  

Zimbo Trio.

Para ir além

A revolução de Charles Mingus

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima