Alarmismo e desinformação coloca em risco vacinação de jovens e adolescentes

Argumentos contra vacina da Covid-19 baseiam-se em casos raros de problemas cardíacos. Curitiba avança com pequeno grupo ainda não imunizado

A histeria de alguns grupos que teimam em fazer da Covid-19 uma cruzada partidária tem transformado a vacina em um risco à saúde maior do que o coronavírus. Baseados em alguns raríssimos casos de pessoas que tiveram reações mais sérias, estes indivíduos fomentam a desinformação e contribuem para atrasar a chamada “imunidade de rebanho” no Brasil, para não falarmos dos casos de infecção e morte que poderiam ser evitados.

O desserviço fortalece grupos antivacina e extremistas como o que se viu esta semana na Câmara Municipal de Porto Alegre (RS), onde manifestantes invadiram o espaço e agrediram vereadores. Pais de adolescente e jovens adultos estão deixando de se vacinar com medo dos efeitos no organismo. A maior parte, baseada em mentiras desmascaradas por agências checadoras, como o caso do vídeo que diz que a vacina insere RNA em genoma humano, entre outras bobagens.

A primeira coisa a ser pontuada é que até o momento não há nenhuma morte comprovada de jovem ou adolescente brasileiro por consequência da vacina, ao contrário do que alarmaram alguns vídeos que circularam em redes sociais, também já desmentidos. O que tem se constatado, ao menos é o que afirmam órgãos de saúde nacionais e internacionais, é a existência de alguns poucos casos de miocardite e pericardite, uma inflamação na região do coração em uma parcela muito pequena do grupo vacinado.

O que dizem as instituições

O Centers for Disease Control and Prevation (CDC), uma espécie de Anvisa dos Estados Unidos, publicou uma nota com considerações clínicas sobre a vacinação de pessoas acima de 12 anos pela Pfizer e Moderna. O texto reconhece o crescimento de casos de miocardite e pericardite desde abril de 2021, mas também explica que os raros casos relatados responderam bem ao tratamento e se recuperaram logo. Dos mais de 20 milhões de adolescentes e jovens vacinados, foram registrados apenas 300 casos de inflamação do miocárdio.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que havia feito ressalvas sobre a vacina da Pfizer em julho, aprovou em setembro o uso da vacina para adolescentes entre 12 e 15 anos, no mês passado. Da mesma maneira, o órgão reconhece a possibilidade de problemas cardíacos resultantes da vacinação, mas indica que os casos de miocardite e pericardite são muito raros (16 casos para cada 1 milhão de vacinados).

“Não houve relatos de casos de infarto. Os alertas sobre potenciais ocorrências de miocardites e pericardites foram incluídos em bula.”

Anvisa.

“Não houve relatos de casos de infarto. Os alertas sobre potenciais ocorrências de miocardites e pericardites foram incluídos em bula, após as ações de monitoramento realizadas pela Anvisa”, diz a nota da Anvisa. Nenhum óbito de adolescente no Brasil foi relacionado ao uso da vacina até o momento.

A posição da Anvisa contraria a de outros órgãos oficiais, o que tem sido recorrente. No começo do mês, em uma entrevista para a rádio Jovem Pan, o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, declarou que a entidade era contrária à vacinação de adolescentes. A posição seguia a recomendação do Ministério da Saúde, na pessoa do ministro Marcelo Queiroga, que havia restringido a vacinação de adolescentes contra Covid-19 em setembro. A medida representou um atraso na vacinação deste público, o que certamente ocasionou infecções e mortes que poderiam ter sido evitadas. No mesmo período o Conselho Nacional de Saúde (CNS) havia defendido a vacinação como o melhor recurso para combater o vírus.

“Eu não confio em nenhuma das vacinas fabricadas até agora. Mas futuramente, provavelmente, eu tome uma que eu tenha mais segurança pra isso.”

estudante de 23 anos.

Uma estudante de 23 anos, que prefere não ser identificada, explica porque resolveu não tomar a vacina: “Eu não confio em nenhuma das vacinas fabricadas até agora. Mas futuramente, provavelmente, eu tome uma que eu tenha mais segurança pra isso. Até lá, vou mantendo o isolamento em respeito aos outros”, diz ela. O difícil é achar gente que optou em não tomar a vacina e tenha essa mesma condição ou consciência.

Segundo levantamento realizado por reportagem da UOL, a Covid-19 tornou-se a principal causa de morte de pessoas entre 10 e 19 anos no Brasil, acima dos casos de câncer. Até julho de 2021 foram quase 1.600 mortes decorrentes da Covid, o que representa uma média diária de 168 mortes nesta faixa etária. Ou seja, ainda que houvessem mortes decorrentes do uso da vacina, elas não significariam quase nada perto da quantidade de pessoas que continuam morrendo diariamente.

Em seu site, a Pfizer diz que “a vacina demonstrou eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentaram respostas robustas na produção de anticorpos”.

Vacinação em Curitiba

Em Curitiba, a vacinação de adolescente de 12 a 17 anos foi retomada ontem (21) com a chegada de mais de 312 mil doses, conforme noticiado pelo Plural. Segundo o Painel Covid-19 da prefeitura, dos 148 mil jovens entre 20 e 24 anos, apenas 13 mil não tomaram ao menos a primeira dose ainda e 108 mil já tomaram a segunda dose.

Dos 148 mil jovens entre 20 e 24 anos (de Curitiba), apenas 13 mil não tomaram ao menos a primeira dose ainda.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba, diz que 371,9 mil jovens curitibanos com 12 a 29 anos receberam pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19 até 20 de outubro. A cidade “registrou um único caso de pericardite pós-vacinação, com boa recuperação, no grupo de pessoas entre 20 e 29 anos”. Não há nenhum registro de infarto em jovens e adolescentes que tomaram a vacina contra Covid na cidade.

A infectologista Marion Burger, da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, destaca que apenas 0,3% das pessoas vacinadas em Curitiba apresentaram reações adversas às vacinas contra a Covid-19, após 2,8 milhões de doses aplicadas. Desse percentual, 94,6% das reações foram classificadas como não graves. Dentre os sintomas estão febre, dor no corpo, dor de cabeça, entre outros.

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