Ensino Integral decreta o fim da lição de casa

Escola municipal decide acabar com a lição de casa de todo mundo ao invés de organizar tempo de estudo no contraturno

Em um informativo enviado aos pais, a Escola Municipal Jaguariaíva, no Bacacheri, a direção informou que os estudantes do 1o. ao 5o. anos só levarão lição para casa nas quintas-feiras e deverão trazê-las feitas na segunda. No restante da semana o envio de tarefas para fazer em casa foi abolido.

Era de se esperar que a mudança fosse parte de uma nova estratégia pedagógica ou de mudanças no planejamento das professores. Mas não. A justificativa é de que os alunos do ensino integral (que são apenas parte do total de alunos da escola) chegam exaustos em casa e não conseguem fazer a tarefa.

O bilhete também diz que a direção da escola sabe que a rotina dos pais é corrida e não há tempo para as famílias ajudarem seus filhos. Para os pais cujos filhos não estão no ensino integral, a notícia foi um balde de água fria: “estão nivelando por baixo”, diz uma mãe que procurou o Plural.

O que incomoda os pais é que para muitas crianças a lição de casa é parte prazeirosa da rotina escolar. E é estranho que diante de dificuldade de alguns a escola opte por, ao invés de ajudar quem está com dificuldades, tirar essa atividade de todo mundo. Oras, não é justamente parte do trabalho da escola ajudar os alunos e as famílias a superar dificuldades de aprendizagem?

Como muitas escolas pela cidade, na Jaguariaíva não são todos os alunos que estão no ensino integral. Na realidade, na maior parte das escolas municipais, o que a Secretaria Municipal de Educação (SME) implantou foi a abertura de algumas vagas, na maior parte dos casos 30 ou 60 vagas, em cada escola para atendimento no contraturno. Essas crianças com vaga no Ensino integral são levadas, no contraturno, para Unidades de Ensino Integral (UEI) que funcionam em prédios separados das escolas e atendem estudantes de diferentes unidades.

Na promessa da prefeitura, há uma integração entre as escolas e as UEIs, de forma que as atividades no contraturno seriam uma ampliação do trabalho feito em sala de aula. Na vida real, como mostra a situação na Jaguariaíva, não é bem assim.

Não é a primeira vez que esse assunto chama a atenção do Plural. Depois que eu, como mãe de alunos de uma escola municipal, reclamei em um artigo da forma pouco organizada e respeitosa como o Ensino Integral foi implantado, a Secretaria Municipal de Educação marcou às pressas uma reunião de pais na UEI Centro de Atividades Educacionais Madre Carmela de Jesus. No encontro, alguns pais questionaram justamente se haveria tempo para realizar a lição de casa no contraturno.

Não é uma preocupação menor: no integral a criança fica das 8 às 17 horas na escola. Muitas se acostumaram a dormir por volta das 19/20 horas, o que significa três horas para a criança se deslocar até a casa, comer, tomar banho, brincar (que é fundamental) e fazer a lição de casa. Obviamente nada disso é novidade para as equipes pedagógicas, muitas delas compostas por pais e mães de crianças que seguem a mesma rotina.

Naquela reunião no Madre Carmela, a representante da SME e responsável pelo Ensino Integral prometeu aos pais avaliar uma forma de incluir a lição de casa na rotina do contraturno. Não é absurdo imaginar que outros pais em outras regiões da cidade tenham manifestado preocupação semelhante em relação ao contraturno.

O fato do assunto permanecer preocupando pais e professores mostra que a integração prometida entre escola e contraturno não está acontecendo. Não é uma questão menor. Ensino integral, para merecer esse nome, exige uma real integração de toda rotina da criança na escola. Escola não é depósito de criança nem espaço kids. O objetivo da escola, que é levar essa criança pelo percurso de aprendizado, tem que nortear todas as práticas.

A própria SME diz em seu material de divulgação do Ensino Integral que “o currículo da escola de tempo integral sistematiza em seu Projeto Político Pedagógico uma rotina de nove horas diárias e articula as áreas do conhecimento e os saberes escolares”. Bom, se as escolas não conseguem articular nem a lição de casa, o que dizer do resto? Fica aberto o espaço para a SME se manifestar.

E na sua escola, a lição de casa está sendo feita no contraturno?

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7 comentários em “Ensino Integral decreta o fim da lição de casa”

  1. O que tem faltado bastante na gestão atual é “diálogo”. Muitas coisas vem impostas para as escolas e os professores simplesmente acatarem. O que faltou nesse processo da lição de casa foi um momento de conversa e trocas de ideias com professores e pais sobre o envio de lição de casa no contexto das crianças que estão 9 horas na escola. Certamente se a secretaria/núcleo houvessem propiciado um momento de diálogo com os professores, esse mal estar não teria acontecido. A UEI abriu e o não houve integração entre os profissionais do regular e do integral, até o momento, isso dificulta o trabalho de todo mundo, uma vez que não foi construído um objetivo em comum entre as duas modalidades.

    Quanto ao integral, apesar de discordar com muitas questões de ordem estrutural e organizacional, tenho que ser justa e a proposta pedagógica do integral na prefeitura, é muito interessante e pautada na ciência do desenvolvimento infantil, nesse espaço/momento, as crianças possuem aulas práticas e lúdicas, realizam projetos e desenvolvem competências diversas, mas isso só ocorre pq há profissionais que estão na escola e na equipe formativa, que são excepcionais, pois é claramente visto, como tiram leite de pedra para atingirem o mínimo de qualidade, logo, a proposta não prevê de fato momentos de realização de lição de casa.

    Uma outra questão é que a lição de casa precisa ser discutida com muita cautela, principalmente quanto a sua função, ela é importante e necessária, mas não é tanto a quantidade que importa, mas sim a qualidade da proposta e do momento de estudo que essa criança terá em espaços fora do ambiente escolar. Logo, o diálogo entre secretaria,núcleo, escola professor, pais e alunos é importante, até porque, uma lição de casa pode ser um passeio pelos espaços da cidade, a leitura de um livro, a discussão de um tema histórico, a realização de experiências científicas, enfim, muitas possibilidades que necessitam ser urgentemente colocadas em pauta de discussão com aqueles que estão dia a dia na sala de aula.

  2. No ensino integral da rede estadual, mais especificamente no fundamental 2, adotaram sistema se 9 aulas diárias, não levam lição para casa, o que entendo tendo em vista esta carga horária, mas a faixa etária deste grupo é de 10 a 13/14 anos, e não tem tempo na grade atual para atividades recreativas, ou seja, para criança brincar, se exercitar..
    Deixei uma sugestão na ouvidoria do SEED e eles responderam que tem educação física, que se resume a 2 aulas semanais, sendo 1 teórica.
    E ainda pior, na creche da minha sobrinha de anos, foi disponibilizado tablet para crianças jogarem. É desmantelamento da educação desde a primeira infãncia.

  3. Por falta de espaços adequados, verbas suficientes, projetos, profissionais e competência na gestão escolar as escolas municipais vêm abandonando a educação e voltando ao depósito de crianças. Essa tendência foi copiada, pelo Greca, do modelo estadual (Richa/Rato), sucateamento da base. Jaja vêm plano de terceirização…

  4. Criança de Educação Infantil não leva dever de casa geralmente, mesmo sendo do integral ou regular, pois a Ed. Infantil não faz parte do Ens. Fundamental, onde os objetivos são outros.
    Sou professora e nunca concordei com o estudante integral não ter quase nada de dever de casa. O dever é para o estudante poder: REVER O Q ESTUDOU, FIXAR MELHOR, COMPARTILHAR O Q ESTÁ ESTUDANDO COM A FAMÍLIA, e sem essa oportunidade, quem perde é o próprio aluno. Pior o estudante q nem do integral é, acaba sendo prejudicado 2X, já q não terá as atividades do contraturno e nem o dever.
    No integral existe sim, espaço/tempo para o estudo e dever de casa, pela minha experiência .

  5. Na escola Municipal Presidente Pedrosa só tem pré de forma integral. E o pré não tinha tarefa de casa nem quando não era integral. Então lá no Pedrosa isso não está acontecendo.

  6. Não entendi muito bem. Os pais estão reclamando porque as crianças do integral não levam mais lição para fazer em casa? Se é isto, concordo plenamente com a escola.
    Se eles estão reclamando que não há integração entre os dois turnos de atividades escolares, então concordo com os pais.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Ana, a escola não é toda integral. Mas a escola decidiu acabar com a lição de casa mesmo de quem está em um período só. Rosiane

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