Escolas particulares retomam atividades presenciais

Extracurriculares, propostas oferecem horas e até período integral no colégio

Com o aval do governo estadual para retomar as atividades presenciais extracurriculares, a Rede Particular de Ensino de Curitiba iniciou propostas de “reforço escolar, acompanhamento pedagógico e emocional, esportes, acolhimento e convivência”. A oferta, opcional, é para crianças acima de 5 anos e vai de uma a duas vezes na semana, por períodos que podem ser de duas horas a integrais.

“Atividades lúdicas, jogos, brincadeiras, mediação na interação entre os colegas, acolhimento das crianças, escuta de tudo o que cada um sentir necessidade de contar pessoalmente, troca de ideias e experiências”, diz o comunicado aos pais da escola Atuação.

Nele, constam as primeiras orientações sobre o que será necessário levar para a escola – como máscaras, garrafa de água e atestado de saúde – até opções de horários. “Para as famílias que mantiveram seus filhos matriculados no período integral e queiram deixar as crianças durante o dia todo, favor procurar pela coordenação”, afirma o documento.

Outros colégios, como Santa Maria, Paranaense, Marista, Anjo da Guarda e Positivo também já anunciaram o retorno presencial, ressaltando serem atividades extracurriculares. As opções aos pais vão de uma a duas vezes na semana, com a possibilidade de períodos de até 5h/dia. Algumas turmas serão no contraturno, outras no mesmo período da matrícula. O número de estudantes nos grupos também varia em cada instituição.

Todas, porém, ressaltam estarem cumprindo o protocolo com as medidas de segurança contra a Covid-19, mas muitos pais ainda se preocupam. “Vou ter que mandar. Meu trabalho voltou a ser presencial e não tenho com quem deixar. Acho que a escola particular até tem condições de ter uma estrutura e insumo para evitar a contaminação, como álcool em gel, barreiras de acrílico e espaço, diferente da escola pública”, diz um familiar que preferiu não se identificar.

De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), 15% das instituições retomaram as atividades presenciais em 19 de outubro, data autorizada pelo governo do Estado.

Perda

Segundo levantamento feito pelo Plural, desde o início da pandemia, em março, as escolas públicas (municipais e estaduais) de Curitiba já receberam, ao menos, 6.057 mil novos estudantes, a maioria (87%) vinda de colégios particulares. As transferências preocupam as instituições, que fazem pressão pela volta às aulas.

“As famílias estão perdendo renda e a classe média vê a Educação como um investimento a médio e longo prazo. Então, por que razão vão continuar pagando mensalidade se não estão tendo o serviço? Isso levou a Rede Particular a pressionar a retomada das atividades, mesmo as extracurriculares; é pra acenar pras famílias que elas estão abertas”, analisa Claudia Regina Baukat Silveira Moreira, professora do Setor de Educação da UFPR e pesquisadora do Núcleo de Políticas Educacionais (Nupe) da universidade.

“Muitas famílias estão aliviadas com essa possiblidade pois boa parte do setor econômico voltou e não há assistência para população fazer frente à paralisia da economia. Porém, tem muito pouco argumento pedagógico no debate, ele está orientado pela questão econômica”, afirma a educadora.

Investimentos

Segundo a pesquisadora, como a Rede Pública não recebeu investimentos para se adequar às regras sanitárias, liberar a volta às aulas apenas para Rede Particular poderia significar desrespeito à Constituição – que garante o direito à igualdade. “Então precisa de um subterfúgio para garantir a oferta de algum serviço que justifique enviar as crianças para as escolas e, assim, continuar recebendo as mensalidades.”

Para Claudia Moreira, é preciso reconhecer que, independente da Rede, os alunos estão em prejuízo pedagógico. “Mas conteúdo a gente recupera, vidas não. As escolas são ponto de trânsito de muitas pessoas ao mesmo tempo; do ponto de vista sanitário é um risco muito grande botar o pessoal dentro da escola de novo. Isso demanda investimentos e não estamos vendo isso acontecer.”

“Devemos ser muito francos em dizer que existe prejuízo pedagógico, que é reversível, mas depende de um planejamento muito bom. E não temos uma diretriz de política pública educacional; em termos de planejamento estamos à deriva pois toda a retórica tem sido de corte de gastos”, conclui a pesquisadora da UFPR.

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