Símbolo do povo negro em Curitiba, sede da Sociedade Treze de Maio vai a leilão

Prédio da Clotário Portugal pertence a clube fundado em 1888 por ex-escravizados

Um dos prédios mais importantes da história do povo negro de Curitiba deve ir a leilão na próxima segunda-feira (27). A sede da Sociedade Treze de Maio, fundada em 1888, pouco depois da abolição da escravatura no Brasil, será vendida em função de uma dívida de R$ 87 mil. A avaliação do imóvel incluída no processo estima que o prédio vale atualmente R$ 1.055.783,32.

O prédio da Sociedade Treze de Maio fica na Rua Desembargador Clotário Portugal. Nas últimas décadas, o local era conhecido mais em função das festas feita ali. Mas a história da sociedade é muito mais antiga e está intimamente associada à luta da comunidade negra de Curitiba por liberdade.

A notícia do leilão foi dada em primeira mão pelo site Diário de Curitiba.

Sociedade Treze de Maio

A sociedade foi fundada por um grupo de negros livres um mês depois de a princesa Izabel assinar a lei que libertou definitivamente os escravos do país. Era junho de 1888 e os fundadores do local queriam eternizar a data da Lei Áurea no nome do clube em que passariam a se reunir, agora como homens livres.

Hilário Munhoz, Benedito Modesto da Rosa, Candido Ozório, Manoel Pereira dos Santos, José Pinto da Rocha, Izidoro Mendes dos Santos e Norberto Garcia são os nomes dos fundadores, que segundo conta a história, decidiram pela fundação quando estavam reunidos na casa de um homem chamado João da Fausta.

No começo, não havia sede, e as reuniões ocorriam na casa dos próprios fundadores. Em 1896,a Prefeitura de Curitiba doou o terreno onde fica a sede atual – na época, a rua se chamava Colombo. O prédio, porém, foi erguido apenas duas décadas depois, em 1913. A sede atual, em alvenaria, é da década de 1950.

Educação e direitos

Desde o começo, a sociedade se dedicava a dar aulas aos negros livres e a alfabetizá-los. Também lutava por direitos para a comunidade negra e se transformou no mais importante local de articulação dos negros em Curitiba.

O exercício da cidadania também sempre foi um ponto importante da Treze. Desde 1888, os presidentes foram escolhidos pelo voto dos sócios. E as mulheres, excluídas na sociedade em geral, tinham voz ativa na administração.

Em 2001, a Prefeitura de Curitiba tornou o prédio uma Unidade de Interesse de Preservação. No entanto, isso não impede que a sede seja retirada das mãos dos negros herdeiros da tradição e entregue a terceiros.

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2 comentários em “Símbolo do povo negro em Curitiba, sede da Sociedade Treze de Maio vai a leilão”

  1. Bom dia, Galindo e geral,

    Excelente notícia! Duas coisas que acho importantes: (i) a cidade precisa voltar a usar aquele espaço para eventos coletivos; (ii) precisamos discutir o sistema de preservação do patrimônio histórico e cultural…

    Abraço!

  2. Torcemos para que a situação seja revertida. Triste que este símbolo do povo negro tenha sido tratado com descaso pela própria associação. Não sejamos ingênuos: se o leilão é na próxima semana, há um bom tempo se sabe dele e da dívida. Como que deixaram o processo escalar até este ponto?

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