Desde a abolição da escravidão, Sociedade Operária 13 de Maio é palco de resistência em Curitiba

Clube é a própria história de uma Curitiba negra

Em junho de 1888 foi fundada, em Curitiba, a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio. Pouco depois da Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil. A promulgação da lei que encerrou o período escravista no país não foi uma iniciativa da princesa Isabel, responsável pela assinatura do documento oficial, mas, sim rrsultado de uma luta de muitos anos de figuras negras importantes, como José do Patrocínio, Luiz Gama e André Rebouças.

Entre os primeiros fundadores da 13 de Maio, Demétrio da Costa e Euclides da Silva – cujo filho, Álvaro da Silva, hoje com 75 anos é o atual presidente, reuniram pessoas negras recém libertas numa espécie de irmandade.

Apesar de a data que nomeia o clube ser motivo de festa, o Movimento Negro salienta que nem só de alegria vive o 13 de maio. “É preciso ressignificar o 13 de maio. Não é uma data de celebração. A assinatura da Lei Áurea pela Princesa Izabel foi a consequência de uma pressão dos grupos abolicionistas, dos quilombolas e de toda negritude que durante anos vinham lutando pelo fim da escravidão”, destaca a jornalista Maria Carolina Scherner, coautora do livro Paraná Preto (Editora Íthala).

O fim da escravidão, embora tenha garantido a liberdade para pessoas negras escravizadas, não representou oportunidades. Muitos patrões não contratavam pessoas negras e a maioria delas sequer era alfabetizada. “Até hoje não há reparação social pelo regime escravocrata e ainda acompanhamos todos os dias casos de racismo e uma construção de sociedade que deixou o negro afastado das oportunidades e de condições realmente igualitárias de vida no Brasil”, critica a escritora.

Entendendo esta necessidade, a 13 de Maio surgiu justamente para dar suporte aos africanos e afrodescendentes curitibanos. “O meu pai ajudou a construir. Aqui antes era de madeira, depois ficou assim, de material e desde sempre é um espaço para gente, um espaço para acolher”, diz seu Álvaro.

Traje fino

Nesta sexta-feira (13), depois da missa realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, os participantes seguiram para o baile. Com traje fino, como manda a etiqueta da 13 de Maio.

Forró, samba e atividades culturais que marcam a presença negra em Curitiba e que são usadas como ferramenta de resistência.

Seu Álvaro, presidente desde 1997, embora não dance mais, faz questão de acompanhar tudo. Os bailes hoje recebem gente de toda cor. “Todo mundo pode vir. Aqui é para confraternizar, mostrar nossa cultura”, defende.

Diferente dos primeiros anos de existência, quando havia um número maior de associados ao clube, as dificuldades econômicas diminuíram a quantidade de contribuintes, o que fez provocou uma série de mudanças no sistema financeiro da associação.

“Hoje os que ainda são associados ajudam e nós temos as festas né? Todo fim de semana tem, vendemos os convites e conseguimos manter nosso clube”, explica seu Álvaro.

Racismo

Apesar dos esforços dos abolicionistas, mesmo após o fim da escravidão a desigualdade racial no Brasil permaneceu pelas décadas seguintes até os dias atuais “O projeto de redistribuição de terras, defendido por André Rebouças e Joaquim Nabuco, que poderia perfeitamente ser entendido hoje como reforma agrária, estaria associado à emancipação da população escravizada. O projeto, como sabemos, nunca foi para a frente e, até hoje, o Brasil é um dos únicos países de formação agroexportadora que nunca realizou a reforma agrária”, exemplifica O historiador Rafael Domingos Oliveira, que faz parte do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Afro-América.

Além das desigualdades sociais, a população negra também enfrenta a desigualdade racial. Um levantamento realizado pelo periódico de mídia integrada da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) revelou que as denúncias de racismo e injúria racial cresceram 440%, de 2019 a 2020, segundo dados do Departamento de Promoção e Defesa dos Direitos Fundamentais e Cidadania do Paraná.

Em Curitiba, recentemente uma menina negra teve o braço quebrado após ser empurrada por outro aluno em uma escola do Sesc. Os pais relataram que ela já vinha sendo vítima de ofensas racistas.

Já a estudante congolesa Gloire Nkialulendo Mavangi, mestranda na Universidade Federal do Paraná, foi seguida pelo segurança de um supermercado no centro da capital enquanto procurava produtos para o cabelo.

“Preconceito sempre existiu e dificilmente será exterminado o racismo, mas nosso papel é resistir”, pontua seu Álvaro.

Além das atividades culturais da 13 de Maio, outra maneira de resistência é formalizar queixas de injúria racial e racismo nos canais adequados. No Paraná a Secretaria da Justiça, Família e Trabalho (Sejuf) mantém o canal S.O.S. Racismo. As denúncias podem ser feitas por meio do telefone 0800-642-0345, segunda à sexta, das 9 horas às 17 horas ou através do e-mail: [email protected] .

Com informações da Agência Brasil

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