Prevaricação admitida pela PM repercute nacionalmente e causa mal-estar no governo

Em nota, Sesp não faz menção à conduta de crime admitida pela PM, mas diz que ordens estão sendo cumpridas

Poderia ser apenas mais um fato ignorado pelo Palácio Iguaçu, mas a fala do comandante-geral da Polícia Militar do Paraná admitindo prevaricação para manter bloqueios em rodovias, mesmo depois de decisões da Suprema Corte, provocou grande mal-estar no governo.  

O Plural apurou junto a fontes que a declaração do coronel Hudson Teixeira foi o capítulo mais óbvio até agora, inclusive para políticos de sua base, de uma conduta de leniência de Ratinho Jr. em relação aos atos antidemocráticos promovidos por apoiadores de Jair Bolsonaro nas estradas do país depois da derrota do militar nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva. Já há, inclusive, pedido para que Teixeira seja intimado pelo Ministério Público (MPPR).

Nesta quarta-feira (2), o comandante-geral da PM disse a um grupo que bloqueava a PR-151, em Ponta Grossa, que, apesar da determinação para multá-los, não o queria fazer. E assumiu prevaricação.

“A Polícia Militar está prevaricando aqui, nós não estamos cumprindo uma ordem judicial”, afirmou.

O chefe da PM ainda combinou com os manifestantes um desbloqueio parcial, apesar de as recentes determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) exigirem que a PM atuasse para liberar completamente o fluxo nos pontos tomados pelos bolsonaristas.

“Os veículos parados serão notificados, independe de o condutor estar presente ou não. Então isso é o que a gente não gostar de fazer e não quer fazer”, disse o comandante. “A ordem que nós temos é desobstruir totalmente a via, e gente está tentando fazer desbloqueio parcial, demonstrando boa vontade de vocês e boa-fé nossa também para garantir as pessoas o direito de ir e vir”.

Entre alguns deputados, a postura soou como um alarme. Alguns mais próximos da corporação não quiseram comentar; para outros, ao menos uma retratação deveria ter chegado mais rápido. Um dos parlamentares com que a reportagem conversou sob condição de anonimato avaliou que a postura de negociação da PM deve sempre prevalecer – e isso em todos os casos. “A gente não vê a mesma coisa quando vão cumprir reintegração de posse”.

Diante da repercussão nacional da declaração, a manhã foi de correria no governo. Somente no começo do governo é que a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) se pronunciou sobre a postura do comandante.

A nota chegou sem nenhuma menção ao crime de prevaricação verbalizado pelo coronel. No texto, a pasta defende que as forças de segurança do estado estão cumprindo as determinações impostas pelo STF e, desde segunda-feira, mais de 200 desbloqueios já foram fetos nas rodovias do Paraná.

“A Polícia Militar do Paraná tem agido de acordo com a técnica policial consolidada para resolver esse tipo de crise. A liberação das estradas tem sido feita com negociação e uso progressivo e escalonado da força quando necessário”.

Ainda segundo a Sesp, o Paraná tinha no início desta tarde sete pontos de bloqueio parcial. A Polícia Rodoviária Federal, em seu Twitter, afirma não haver mais retenções por causa das manifestações.

Esclarecimentos ao Ministério Público

A declaração de Teixeira ainda deve continuar rendendo. Já está na mesa do MPPR um ofício protocolado por deputados de oposição pedindo ao Procurador-Geral de Justiça, Gilberto Giacoia, que intime o comandante para dar explicações sobre a demora da PM em intervir nos desbloqueios.

“Ainda, requere se sejam tomadas as medidas cabíveis para investigação da prática de crimes, seja pelo Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Paraná, seja por seus subordinados”.

O documento foi assinado pelos deputados Requião Filho, Tadeu Veneri, Arilson Chiorato, Luciana Rafagnin, do PT, e Goura, do PDT. Mais cedo, os mesmos recorreram ao STF contra a omissão do governo do estado em liberar as rodovias estaduais. Eles também pediram uma reunião de urgência com o Ratinho Jr. Alinhado de Bolsonaro, o governador se mantém em silêncio.

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