Polícia investiga supostos desaparecimentos de corpos do IML de Curitiba

O inquérito caminha para buscar respostas sobre a denúncia e também sobre possíveis casos de erros na identificação de corpos enterrados

Atualizado em 20/07/2023 – às 19:34

Supostos desaparecimentos de corpos do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba estão na mira de uma investigação da Polícia Civil. O inquérito caminha para buscar respostas sobre a denúncia e também sobre possíveis casos de erros na identificação de corpos enterrados. Há suspeitas de que foram enterrados corpos de pessoas diferentes daquelas identificadas formalmente como falecidas – o que, se comprovado, não seria a primeira vez dentro do instituto.

Os casos teriam ocorrido em 2017, embora, extraoficialmente, o Plural tenha apurado que seja possível se tratar de episódios de antes. Ainda em andamento e sem previsão de desfecho, os trabalhos para tratar das denúncias foram concentrados na Divisão de Combate à Corrupção (Deccor), responsável pela condução de crimes contra a administração pública.

A divisão não se manifestou, sob justificativa de não atrapalhar as investigações. Mas, recentemente, o órgão deu um novo passo nas inquirições e acionou o Ministério Público do Paraná (MPPR) para informar que o IML deixou de instaurar procedimento administrativo interno para apurar o ocorrido.

Diversos corpos desaparecidos

Para investigar uma possível omissão por parte da Polícia Científica, a 4ª Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de Curitiba instaurou um inquérito civil na semana passada. Não se sabe, até o momento, quantos corpos estariam vinculados à apuração, mas o documento de instauração fala no “desaparecimento de diversos corpos”.

À época, a direção da Polícia Científica chegou a comunicar a Polícia Civil sobre um acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) para que os casos fossem “primeiramente investigados pela Polícia Civil, devido a sua extrema periculosidade, e após as investigações concluídas, seriam tomadas as providências administrativas pela Polícia Científica”.

No entanto, o prazo de conclusão do procedimento, prorrogado por uma vez, expirou, motivo pelo qual o Ministério Público decidiu por dar início ao andamento de investigações sobre a falta de medidas adotadas pelo IML.

A Polícia Científica foi procurada e informou que responderá quando tiver todas as informações levantadas. O espaço permanece aberto ao órgão.

Escândalo de órgãos em 2008

Se confirmado, esse não seria o primeiro escândalo envolvendo o Instituto Médico Legal do Paraná. Em 2008, uma médica-legista, então professora de Anatomia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi flagrada ao tirar órgãos de dentro instituto. Foram localizados no porta-malas do carro dela vísceras humanas e três corações, todos acomodados em embalagens plásticas.

À época, a servidora chegou a dizer que se tratava de um convênio entre o IML e a UFPR, mas autoridades rebateram a versão e a legista chegou a ser presa. O inquérito policial sobre o caso foi arquivado em 2010 a pedido do Ministério Público.

Também em 2008 um papiloscopista foi preso suspeito de vender o cadáver de um indigente para que ele fosse identificado como o de um homem que planejava aplicar um golpe milionário em uma seguradora dos Estados Unidos. O esquema relevado pela polícia indicou que funcionários do instituto teriam cobrado cerca de R$ 30 mil para identificar o indigente como sendo o golpista, ou seja, mudar a identificação do corpo.

Nos corredores do IML os episódios agora investigados não, necessariamente, gerariam surpresa. Fonte ouvida pelo Plural em condição de anonimato disse que casos de desaparecimento de corpos de dentro do instituto já foram apurados outras vezes, muitos como reflexo de falha administrativa. Anos atrás, não era raro a designação de servidores ao órgão ser uma espécie de punição, o que facilitava desvios.

Em 2016, doze pessoas – inclusive servidores públicos – foram presas durante operação deflagrada para desarticular uma quadrilha que driblava o rodízio de empresas funerárias em Curitiba e aplicava golpes para obter o seguro DPVAT.

Procura por corpos

Segundo a polícia divulgou à época, os investigados passavam longo tempo atrás de corpos de vítimas de acidentes de trânsito ou morte natural e para isso corrompiam os motoristas do instituto. Por R$ 700, os condutores passavam informações privilegiadas e em tempo real dos óbitos ocorridos na capital, região metropolitana e em Ponta Grossa. Com as informações, a quadrilha convencia a família procurações para dar entrada no seguro. Mortes naturais também eram comunicadas por pessoal de dentro do próprio IML em um esquema para beneficiar algumas funerárias.

Em 2000, o então diretor do IML, Francisco Moraes Silva, chegou a ser afastado por suposta participação em esquema que fraudava laudos para ficar com o dinheiro do seguro pago em caso de mortes no trânsito. Um homem atestado pelo médico como vítima fatal de acidente de trânsito foi localizado tempo depois e o caso entrou como uma das provas do crime. Silva foi um dos que assinaram o laudo de necrópsia no caso Evandro, além de ter sido denunciado por conclusão falsa do exame de necrópsia de Renata Muggiati, assassinada pelo médio médico Raphael Suss em 2015.

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