Pacientes passam dias internados em cadeiras

Apesar da Bandeira Laranja, faltam leitos e estrutura para atendimento nas UPAS

Nesta segunda-feira (5), Curitiba saiu da Bandeira Vermelha e voltou à Bandeira Laranja, que afrouxa as medidas de isolamento e abre serviços não essenciais. Ainda assim, segundo vídeos e relatos encaminhados ao Plural, a situação nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) é preocupante, pois pacientes estão internados em corredores e alguns passam dias em cadeiras e poltronas.

“É desumano acomodar os pacientes nestas cadeiras, sem distanciamento nenhum. Eles ficam sentados, com encosto abaixado até melhorarem ou então até serem transferidos para um hospital de verdade”, diz um funcionário da UPA Pinheirinho que prefere não se identificar. Com 100% na taxa de ocupação de leitos Covid nos hospitais, muitas pessoas ficam dias nas UPAs esperando a transferência. “Um senhor ficou esperando dessa maneira por cinco dias. Imagine o desconforto, a dor nas costas e a dificuldade para respirar tendo que dormir quatro noites em uma cadeira.”

Imagens: Plural.jor

O vídeo comprova: as salas não têm distanciamento e nem conforto para quem recebe oxigênio ou soro e tenta se recuperar da doença. “A sala é apertada, para colocar um soro no paciente, temos que nos espremer entre as poltronas, muitas vezes, encostar neles e ficar em posições constrangedoras”, lembra o funcionário.

Devido ao colapso nos hospitais públicos e privados, ocasionados pela pandemia, no mês de março, a Secretaria Municipal de Saúde transformou as UPAs em mini-hospitais para atendimento e internação. Supostamente, a ideia era criar também leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No entanto, o que se vê é que faltam equipamentos mínimos para tal, como monitores que medem a pressão cardíaca de pacientes e saídas de oxigênio adequadas.

Vídeo: Plural.jor

Neste vídeo, uma funcionária, que teve a voz alterada, explica que o paciente teve uma parada cardíaca e, ainda assim, está intubado com um oxigênio em cilindro, visto que devido à pouca infraestrutura do prédio, e à superlotação, a sala não tem saída de oxigênio. Pior que isso, ela conta que o paciente não pode ser monitorado, “devido à falta de equipamento”.

Além disso, outra preocupação constante tem sido a falta de privacidade e preservação da integridade moral dos pacientes. Segundo relatos de servidores, na última semana, um paciente que estava em situação de abandono teve que ser limpo e monitorado num espaço aberto, com outras pessoas vendo. “O paciente foi literalmente despejado da maca para cadeira. E ali ele ficou, tivemos que trocar fralda, limpar os restos de fezes que tinham nele e trocar as roupas que estavam sujas há dias com fezes”, afirmam. “Os demais pacientes assistiram a cena através do biombo, que não preserva em nada o paciente.”

“O computador que usamos para trabalhar, fica num balcão, não temos o direito de sentar sequer um minuto para fazer o nosso trabalho, por que não cabe nem um banco. E o balcão é alto já propositadamente para não ter como sentar mesmo. Tudo é improvisado…Na sala de emergência da covid, dividimos os monitores. Não tem monitor pra todo mundo, nem oxímetro. A gente tem que ficar trocando monitor e oxímetro entre os pacientes graves.”

Outra funcionária que trabalha na UPA Sítio Cercado, e também não quer se identificar com medo de retaliação, conta que por lá, apesar de haver uma pequena queda no número de pacientes, a situação das pessoas em cadeiras ainda é preocupante. “Tem várias pessoas internadas e precisando de oxigênio, que estão nessas cadeiras. A situação ainda é triste demais.”

Questionada sobre a aquisição de mais macas ou camas para acomodar os pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde disse que “não há necessidade nesse momento” e que esses equipamentos, as cadeiras e poltronas, “estavam no estoque da SMS pois foram preventivamente comprados no ano passado para serem usados em caso de emergência”. Ainda, quando perguntado sobre quantos dias os pacientes ficavam sentados nas UPAs e se estavam levando os cobertores de casa – como mostram os vídeos – , a resposta foi “em média dois dias. Os cobertores são fornecidos pelas UPAs, portanto não há necessidade de levar de casa”.

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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