Idoso morre de Covid após andar 10 km depois da alta médica

Sem pertences, ele voltou do Pinheirinho para CIC; família não foi avisada da transferência nem da liberação

Uma família de Curitiba culpa a Secretaria Municipal de Saúde por negligência e protestou hoje (5/4) em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pinheirinho. Segundo eles, a falta de informações sobre o paciente Paulo José de Oliveira, de 66 anos, agravou seu estado de saúde e o levou a óbito, registrado na última sexta-feira (2).

Antes de ser novamente encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ao hospital, por não conseguir respirar, o idoso percorreu 10 quilômetros a pé, depois de ser liberado pelo médico da UPA Pinheirinho com um atestado de 10 dias por Covid-19. Sem os pertences, e sem dinheiro, o paciente teve alta após horas recebendo oxigênio. Os familiares, porém, não foram comunicados, nem da alta nem da transferência para outro local.

Paulo foi pedreiro a vida toda e havia se aposentado há pouco tempo. Depois de um período na cidade de Maringá, na Região Norte do Estado, para acompanhar o enterro de uma irmã, ele voltou com sintomas gripais e foi à procura de atendimento na Unidade Municipal de Saúde Vitória Régia, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), no dia 16 de março.

De lá, foi levado pelo SAMU para a UPA do Pinheirinho. Segundo familiares, necessitou de oxigênio, pois já não conseguia respirar sozinho. “Ele já chegou da viagem muito ruim de saúde e com dificuldade para respirar”, conta Valmir Santos de Oliveira, irmão de Paulo, lembrando que ele ficou internado sem nenhum pertence. “Ficou lá com a roupa do corpo. Não foi autorizado ficar com celular e nem com uma muda de roupas.”

No entanto, para a surpresa da família, por volta da meia noite, Paulo bateu na porta da sua casa no bairro Vila Verde. “Meu pai permaneceu lá a tarde toda, até de noite. No final da noite, eles deram alta pra ele e não avisaram a família. Então o meu pai saiu da UPA Pinheirinho e foi pra casa dele no bairro Vila Verde a pé”, afirma Edilaine de Oliveira Santos, filha de Paulo. O trajeto que ele percorreu caminhando é de aproximadamente 10 quilômetros. O atestado médico entregue a Paulo prova que a liberação foi às 22h19.

Ainda segundo a família, a piora de Paulo se deu após a caminhada. “Ele ficou sem documento, sem telefone, sem dinheiro para ônibus e foi liberado para ir pra casa. E nessa caminhada, as coisas só pioraram, porque uma pessoa que tem problema de pulmão, sair caminhando por tantos quilômetros, a situação se agrava”, aponta Edilaine.

Já o irmão, Valmir, diz que o questionamento da família precisa ser solucionado. “Eu quero uma resposta. Tem que ter um culpado por isso, deixar um paciente sair sozinho sem avisar a família é uma pouca vergonha”, desabafa.

Na manhã do dia 17 de março, Paulo foi levado novamente à Unidade do Vitória Régia e precisou de oxigênio. O SAMU foi chamado e ele encaminhado de novo para UPA do Pinheirinho. Segundo a família, a esposa de Paulo foi avisada para que estivesse no local às 11h, para receber o boletim médico.

“Ela chegou lá às 11h e ficou até as 13h30 aguardando para falar com um médico sobre o meu pai e veio alguém conversar com ela e disse que meu pai tinha sido transferido”, diz Edilaine. A esposa de Paulo não ter sido avisada sobre a transferência, é a segunda contestação da família. “O meu pai não é indigente, ele tem família. Se transferiram ele, por que não comunicaram? Nas duas situações, eles não comunicaram ninguém.”

Após a UPA do Fazendinha, Paulo foi transferido para o Hospital do Idoso, onde faleceu na sexta-feira, dia 2 de abril. Deixa esposa, duas filhas, cinco netos e um bisneto.

Paulo e as duas filhas. Foto: arquivo pessoal

Nesta segunda-feira (5), a família fez uma faixa e protestou em frente a UPA do Pinheirinho. Valmir segurava a faixa que dizia, dentre outras coisas: “a Prefeitura diz que conseguem dar apoio aos que precisam, mas é só mídia”.

“Não foi alta”

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que “a conduta adotada em todos os serviços hospitalares de responsabilidade do município é comunicar familiares ou responsáveis das altas e transferências dos pacientes. São feitas tentativas por telefones fixos, celulares e mensagens”.

Sobre o caso de Paulo, a Prefeitura diz que “não houve falta de assistência em nenhum momento ao paciente, e que não foi dada alta como relatado, pois no primeiro atendimento não tratava de um internamento. O paciente foi liberado no mesmo dia após ser estabilizado”.

Profissionais da Saúde consultados pelo Plural, no entanto, afirmam que todo paciente atendido por um médico precisa de alta para ser liberado, independente se está internado num hospital, recebendo medicação numa Unidade de Saúde, ou oxigênio numa UPA. A alta médica pode até não ser relatada aos familiares, no caso do paciente estar lúdico, bem e não querer que avise, mas ele precisa ser questionado sobre isso – o que a família diz que não aconteceu com Paulo. A transferência de paciente para outra unidade, porém, precisa obrigatoriamente ser informada à família.

Existe ainda um documento chamado Autorização de Internamento Hospitalar (AIH), que gera verba pelo SUS para aquele prestador de serviço (público ou privado). Tal autorização pode ser para internamentos iniciais ou de longa permanência.

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “Idoso morre de Covid após andar 10 km depois da alta médica”

  1. Lamentável…um homem trabalhador como seu Paulo… honesto e pai de familia..ser desrespeitado dessa forma..e negligenciado pelo corpo clinica da upa pinheirinho… O açougue continua aberto esperando a pròxima vítima, sem responsabilizar os culpados.

  2. Paulo Roberto de Andrade Mercer

    Que absurdo! Total falta de preocupação com o semelhante . Vergonha absoluta para um Sistema de Saúde que tanta coisa boa faz , que trabalha de forma consciente e incansável já há tanto tempo com esta doença terrível que vem nos afligindo. Mas não pode acontecer isso ! Triste e revoltante. Minha opinião como médico aposentado da SESA e como ser humano. (Paulo Roberto de Andrade Mercer)

  3. Angela Patrícia Baiak

    Foram negligente!! Eles tinham que ter avisado a família, até porque era suspeita de covid , a upa foi totalmente inrresponsal… lamentável que tenham pessoas que pouco c importa com a vida! E c disfarça de médicos e imferneiros , trabalhem com amor …..aí as coisas dão certo, e vidas serão salvas .

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