Integrantes do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) fizeram um protesto antirracista nesta segunda-feira (25) em frente à escola de educação infantil do Sesc, na avenida 7 de Setembro, em Curitiba.
O ato foi alusivo às ofensas racistas sofridas por uma menina de quatro anos, filha de imigrantes haitianos, que era bolsista na escola. O pai dela, o poeta Rei Seely, disse que a criança foi chamada de cocô, levou cusparadas e chegou a quebrar o braço ao ser empurrada por outro aluno.
“A questão é dar visibilidade para essa questão, porque assim como aconteceu com Seely e a filha dele, é uma questão do dia a dia da população negra”, explica Jussara Marques de Medeiros, integrante da Neab.
“Eu tenho uma filha que hoje tem 25 anos, e que ela sofreu esse tipo de ação na escola e lá o discurso que era só ela não se importar que tudo daria certo. Então sabemos que a escola não toma partido e não resolve a situação. Por isso queremos dar visibilidade com essa questão dos colegas negros, que sofrem na escola”, destacou.
O Sesc, por meio da assessoria de imprensa, negou as denúncias feitas pelo pai e disse que a criança caiu sozinha.
Racismo
Cerca de trinta pessoas estiveram em frente à escola, mas nenhum representante da instituição chegou a conversar com os manifestantes. “O que nós pedimos é respeito. Enquanto as pessoas estavam protestando os funcionários davam risada do lado de dentro. Cadê os defensores dos direitos humanos?”, questiona Seely.
O Neab é um grupo de pesquisa independente e o protesto não teve ligação com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). A manifestação foi organizada pelo Núcleo porque o pai da vítima é estudante de doutorado e membro do Neab. “Ficamos sabendo que algumas pessoas do Sesc entraram em contato com a Federal, mas o que aconteceu foi um protesto legítimo, que também contou com a organização da Movimenta Feminista Negra, que é um grupo que teve contato com essa situação desde o início”, explicou Jussara.
O grupo também está trabalhando com a criança vítima de racismo, que sofre com baixa autoestima depois dos xingamentos na escola.
De volta para casa
Seely mora no Brasil há quase dez anos e a filha é nascida aqui. Mas diante do caso de racismo, ele cogita retornar à terra natal. “No Haiti isso não aconteceria. O Sesc é poderoso e isso faz com que as pessoas tenham medo. Que pai vai aceitar que cuspam na sua filha? Eles precisam pedir desculpas para ela.”
Durante a manifestação, representantes da direção e coordenação foram chamadas para conversar com os participantes, mas ninguém saiu.
Saber que uma instituição ligada ao Estado não reaja ao racismo é nojento, eles são o verdadeiro cocô dessa história, junto com os (ir)responsáveis racistas dessa criança mal educada e mal intencionada que praticou o bullying.