Eder Borges e assessores são investigados por campanha no interior em dias de expediente

Suspeita é que vereador e assessores foram ao interior, em dias de semana, para organizar atos pró-Bolsonaro, oferecendo até passagens de graça aos interessados

Dois assessores do vereador Eder Borges (PSD) estão sendo investigados pelo Ministério Público do Paraná por supostamente usarem dias úteis, de expediente, em viagens de campanha pelo interior do estado, sem relação, portanto, com os trabalhos da Casa. A denúncia sugere ainda que o parlamentar, que teve o mandato cassado pela primeira instância da Justiça Eleitoral, teria organizado, em dias de semana, caravanas à Brasília para as manifestações do dia 7 de setembro a favor do presidente Jair Bolsonaro e oferecido passagens de graça aos interessados.

Tanto o vereador quanto um de seus assessores, Renato Gasparim Jr., negam o teor das denúncias. A reportagem não conseguiu contato com o terceiro investigado, Eduardo Pedrozo. Os comissionados prestaram depoimento ao longo da última semana à 6ª Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público de Curitiba.

O inquérito busca esclarecer as circunstâncias de episódios específicos. Um deles é sobre ônibus de caravanas oferecidos sem custo rumo à manifestação programada para ocorrer na Avenida Paulista. Inicialmente, a viagem seria para Brasília, mas o destino foi alterado após convocação dos atos por grupos de apoio ao presidente em São Paulo.

“O meu recado é: me procurem. Entrem em contato comigo porque temos quatro ônibus para levar o pessoal para lá. Cada ônibus agrega 42 lugares e, graças a Deus, temos quatro ônibus disponíveis para levar todo mundo de Curitiba e região para a paulista no dia 7 de setembro”, convocou Gasparim no dia 6 de agosto, em um vídeo publicado no seu perfil do Instagram. Ele faz parte da equipe de Eder Borges na Câmara desde o dia 1º de junho deste ano e recebe R$ 4.404,15 por mês em valores brutos.

Apesar de ter afirmado que as denúncias não procedem, o vereador não prestou mais esclarecimentos à reportagem. Após contato na última sexta-feira (13), Eder Borges prometeu retornar depois de conversar com seus advogados, o que não aconteceu.

Também na sexta, um dia após ter prestado depoimento ao MPPR, Gasparim afirmou ter postado o anúncio não como assessor parlamentar, mas como um dos integrantes do movimento Endireita Paraná, do qual disse ser líder. De acordo com ele, os veículos foram alugados com dinheiro obtido de vaquinha virtual e arrecadação de empresários da região.

Dias úteis no interior

O assessor também negou que tenha saído de Curitiba em dias úteis para fazer campanha no interior do Paraná. “Nós, como assessores do vereador, vamos à cidade procurar apoio de outros vereadores para alinhamento de projetos”, explicou ao Plural. “Um exemplo é o homeschooling”, acrescentou.

A regulamentação do ensino domiciliar em Curitiba é tema de um projeto de lei assinado por Borges e outros três vereadores que tramita na Câmara. O assessor, contudo, não justificou o que exatamente tratou da proposta com parlamentares do interior.

Segundo ele, estão sob investigação do MPPR duas viagens específicas, sendo uma delas a Palmas, no Sudoeste.

Apesar disso, postagens feitas nas redes sociais tanto do vereador quanto de seus assessores mostram os investigados em diferentes municípios paranaenses. Muitas das fotos têm relação com Bolsonaro e foram compartilhadas em dias de semana, principalmente em agosto, mês que antecedeu os atos nacionais a favor do presidente.

No dia 11 de agosto, Eder Borges e o assessor Eduardo Pedrozo aparecem em uma imagem postada de Arapongas, no Norte do Paraná, com uma terceira pessoa. “Eder e os Eduardos. Aqui é Direita raiz!”, diz o post. Nos dias 12 e 13 de agosto, quinta e sexta-feira, respectivamente, foram compartilhadas fotos de Mandaguari, São João do Ivaí e Jardim Alegre, ainda no Norte, e de Turvo e Pitanga, na região central. Nenhuma delas sugere encontro para debates específicos.

“Com o evangelizador e patriota pastor Devander e seu projeto “Fé na Estrada” muito atuante no Vale do Ivaí. Este belíssimo caminhão palco, que já serve para a divulgação do Evangelho, servirá para a campanha do Bolsonaro. Deus, Patria e Família”, traz a legenda de um dos posts. “Jardim Alegre com Bolsonaro”; “Um povo armado jamais será escravizado”; “Pitanga com Bolsonaro”, descrevem outros.

Na segunda-feira seguinte, 16 de agosto, foram postados foto e vídeo de São Mateus do Sul, na região Sul. “São Mateus do Sul cobrando com outdoor o voto auditavel. Parabéns!”, descreve o vereador, levantando uma bandeira carregada pela direita nos atos de 7 de setembro, contra a urna eletrônica.

Ainda em agosto, no dia 19, uma quinta-feira, o parlamentar esteve em Mafra – que, apesar da proximidade, fica em Santa Catarina. “Desde 2013 o instrutor de tiro e despachante sr Irajá atua com liderança no movimento das cidades de Rio Negro-PR e Mafra-SC. Divisa do estado, as cidades atuam em conjunto difundindo nossos ideais e combatendo as ideias de esquerda que atravancam o progresso. Na foto estão Paulo Bendlin, Irajá Robinson Feres e Eduardo Pedrozo”, diz a legenda do post, indicando que o encontro não foi sobre um debate alinhado ao trabalho da Câmara de Curitiba. No mesmo dia, em Rio Negro, Borges compartilhou uma foto ao lado do prefeito do município, James Valério, e do vice Alessandro Von Linsingen, parabenizando os gestores por não terem fechado o comércio durante a pandemia.

Também no dia 19 de agosto, um post com a hashtag criada pela equipe do vereador – #equipeederborges – mostra um encontro em Ponta Grossa com o caminhoneiro Zé Trovão. Ninguém do gabinete do parlamentar curitibano aparece na imagem, embora o empresário rural que tenha citado o vereador seja próximo dele, como sugerem outros compartilhamentos. O caminhoneiro Marcos Antonio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, foi um dos principais articuladores das pautas antidemocráticas das manifestações de 7 de setembro e, depois de dois meses foragido, hoje está preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Após as manifestações do dia da Independência, Eder Borges também se afastou de Curitiba em dias úteis para participar de eventos de recepção de Bolsonaro no Paraná. Em 1º de outubro, uma sexta-feira, ele esteve em Maringá, para onde o presidente viajou cumprindo agenda de inauguração das obras de modernização do aeroporto regional.

O vereador também registrou presença durante visita do chefe do Executivo Federal em Castro e Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Os compromissos foram nos dias 5 e 6 de novembro, uma sexta e sábado. O assessor Renato Gasparim também postou fotos do evento. “Jantar Com o Presidente da República @jairmessiasbolsonaro em Castro – PR e na Oportunidade de Estar com o Comandante de Operações da PRF e o Comandante da PMPR de Ponta Grossa. Antes Acompanhei Também sua Agenda Oficial em Ponta Grossa – PR Camisa do Povo Armado, @endireitaparanaoficial Entregue. Grande dia”, relatou o assessor.

Segundo o portal do governo Federal, a agenda de compromissos de Bolsonaro em Ponta-Grossa foi em dia útil, 5 de novembro. Na cidade, ele participou de uma motociata e inaugurou as obras de ampliação do sistema de abastecimento de água da região – sem qualquer ligação com Curitiba.  

Ainda em dia de semana, Gasparim compartilhou fotos de um encontro em Brasília, realizado às vésperas do feriado prolongado de 7 de setembro. Na sexta-feira, 3, escreveu: “E Assim Vai se Encerrando o Primeiro dia de CPAC Brasil 2021, Amanhã Tem Mais. Tive o Prazer de almoçar ao Lado dessas Feras e Poder Representar Curitiba aqui em Brasília”. O site oficial define o evento como o “maior encontro de conservadores já realizado na América Latina”.

Já Eduardo Pedrozo, além das imagens divulgadas na página do Instagram de Eder Borges, postou fotos em dias normais de expediente em 20 de outubro, uma quarta-feira, e 2 de setembro, quinta-feira. Nesta, ele está junto ao vereador na prefeitura de Reserva do Iguaçu. No post de 20 de outubro, a foto ao lado de Gasparim diz: “Dia exaustivo, no entanto, vitorioso. De Curitiba à Faxinal; de Faxinal à Curitiba. Anderson, obrigado pela maravilhosa recepção. Obrigado Deus!”.

A reportagem não conseguiu contato com ele. Na manha desta segunda (16), foi feita mais uma tentativa por meio do gabinete de Eder Borges, mas ele não estava na Casa. Segundo o Portal da Transparência da Câmara, Pedrozo recebe um salário de R$ 11.744,38 por um alto cargo de comissionado.

Na última quarta, o assessor compartilhou um post das dependências do Ministério Público em que indica ter prestado depoimento e, ao mesmo tempo, sugere não estar mais na equipe de Eder Borges, embora no cadastro da Câmara ele ainda conste como comissionado ativo.

“Hoje, por força da ocasião, tive a oportunidade de conhecer o Ministério Público do Paraná. Recebi um convite para esclarecer o motivo de minhas ações como Chefe de Gabinete serem tão abrangentes. De início, fiquei um pouco receoso. No entanto, assim que comecei a depor, surpreendeu-me a grandeza do trabalho e a profunda entrega a qual me dispus a fazer neste cargo que, mesmo durando pouco tempo, pautou não apenas a minha passagem pelo gabinete, mas também a de todos os assessores que ali conseguiram permanecer sob minha chefia. Pretendo, em breve, tornar público a minha contribuição ao município de Curitiba – decorrente do reconhecimento e nomeação que recebi do Vereador Eder Borges @ederborgesinsta. Por enquanto, fica o registro do momento”, escreveu.

Consultas feitas aos holerites dos dois assessores investigados não mostram descontos na folha, um indicador de que, mesmo com as viagens pelo interior, nenhum deles teve dias sem expediente na Câmara. A lista de presença do vereador também não mostra falta nas sessões, que ocorrem ordinariamente às segundas, terças e quarta-feira. Por causa da pandemia, os encontros em plenário têm sido feitos remotamente ou de maneira híbrida, com parte presencial e outra, a distância. Nas quintas e sextas, geralmente os vereadores e seus assessores cumprem trabalho fora da Casa, em bairros e regiões onde há demandas a serem verificadas ou cumpridas.

Por isso, o regimento interno da Câmara Municipal não obriga que parlamentares e seus assessores estejam em seus gabinetes para marcar frequência. Também não existem marcos determinando onde o parlamentar tem de estar para cumprir com seus trabalhos. Contudo, vereadores ouvidos pela reportagem disseram que todos os afastamentos da cidade têm de ser algo “pontual”.

“O vereador até vai ao interior participar seminários, conferências, fazer fala em Câmaras, conferência. Às vezes o vereador vai e leva o assessor, mas são coisas mais pontuais. Tem de ter interesse da própria cidade ou então ir para trocar experiências a partir de uma demanda relacionada com o nosso trabalho”, afirmou um deles.

De acordo com o MPPR, o inquérito civil que apura as denúncias contra o vereador continua em trâmite e não há, até o momento, definição sobre eventuais decisões de mérito da investigação.

Eder Borges teve o mandato cassado pelo TRE-PR em abril deste ano. Ele foi candidato a vereador em 2016, em Curitiba, mas não realizou a prestação de contas da campanha dentro do prazo legal. Por entrar com recurso, permanece no cargo até decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No último dia 25, ele ainda foi condenado a 25 dias de detenção por em 2016, ter insinuado, via redes sociais, que a APP Sindicato fazia manipulação ideológica nos estudantes secundaristas do Paraná.

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