Dados mostram detalhes da vacinação de funcionários da Unimed Curitiba

Vacinados foram enquadrados como profissionais de saúde, mas maioria não detalhou ocupação. Caso não é isolado. Curitiba tem 53 mil doses sem informação sobre ocupações

Um terço das doses de vacina contra Covid-19 aplicadas em 8 de maio no Pavilhão da Cura no Parque Barigui foram aplicadas em pessoas sem ocupação declarada. O local recebeu neste dia um grupo de funcionários da Unimed Curitiba convocados para vacinação num caso que para o Ministério Público é suspeito de ser de desrespeito a fila de prioridades. A prefeitura de Curitiba alega que são todos profissionais de saúde.

O registro consta no banco de dados da campanha nacional de vacinação no Datasus, que também revela que o local atendeu 4.093 pessoas naquele dia para a primeira dose, das quais apenas 52 receberam imunizantes da Fundação Oswaldo Cruz (AstraZeneca) e Fundação Butantan (Coronavac).

Todos os 4.041 demais foram vacinados com doses da Pfizer do primeiro lote de 11.700 doses da vacina da farmacêutica norte-americana Pfizer, em parceria com a empresa de biotecnologia alemã BioNtech recebidas poucos dias antes. Essas unidades teriam como destino profissionais de saúde e pessoas com comorbidades, cuja vacinação havia acabado de começar.

Por conta da adoção do intervalo de 12 semanas para a segunda dose desse imunizante, essas pessoas devem receber nova aplicação no dia 24 de julho, quando passarão a estar completamente imunizadas. Muito antes, por exemplo, dos profissionais da educação – cuja vacinação (que foi suspensa por falta de doses esta semana) possibilitará o retorno das aulas de milhares de estudantes na cidade – cuja segunda dose está prevista para o fim de agosto, início de setembro.

A definição de grupos prioritários no programa de vacinação contra a Covid-19 existe porque o Brasil não tem doses suficientes de imunizantes contra a doença. Por isso o programa nacional previu um escalonamento da aplicação das doses com base no risco de contaminação e de agravamento da doença.

Convocação distribuída pela Unimed Curitiba para a vacinação do dia 8.

Apesar do sistema informar 30 ocupações diferentes dentro da categoria Profissionais de saúde – o que inclui motorista, recepcionista, segurança e outras funções de atendimento ao público – 1.338 pessoas vacinadas no dia 8 não tiveram ocupação informada. Outros 1.043 eram, segundo o registro, estudantes. Com base nos dados o Plural pode calcular o perfil dos vacinados: 77% eram mulheres, idade média de 35 anos e 41% brancos.

Os detalhes sobre as pessoas da Unimed vacinadas no dia 8 de maio, que a Secretaria Municipal de Saúde se recusou a fornecer a Câmara Municipal, estão nos registros de vacinação fornecidos pela SMS ao Ministério da Saúde e disponíveis no Datasus. A SMS alegou que eram informações que feriam o direito a privacidade, quando o próprio Ministério da Saúde as disponibiliza já com a anonimização dos dados.

A convocação, que previa vacinação de todos os funcionários, inclusive administrativos, informava que o atendimento seria no Centro Municipal de Vacinação Covid de Curitiba, no Parque Barigui.

No mesmo dia, outros pontos de vacinação atenderam 2.715 pessoas para aplicação da primeira dose da vacina, a maior parte profissionais de saúde, o que inclui veterinários, acadêmicos em estágio em unidade de saúde, estudantes e outras ocupações. Mas parte significativa (1.761 de 5.948 doses) foram aplicadas sem informar a ocupação do paciente também nesses outros locais.

Não é um caso isolado. O Plural apurou que desde o início da vacinação em Curitiba, 36% de todas doses aplicadas até agora foram para pessoas sem ocupação informada. São mais de 53 mil doses de vacina e 15 mil pessoas já completamente imunizadas de quem não há informação precisa sobre porque foram consideradas prioridade.

A falta de informação acontece também em outros itens do registro de vacinação. No campo raça, 51% das doses aplicadas não possuem dados. Há 2.649 doses de vacina em que não registro sobre o município de residência do paciente. No total, os dados analisados pelo Plural continham informações sobre 843.503 doses de vacina aplicadas na cidade desde janeiro até o dia 15 de junho.

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4 comentários em “Dados mostram detalhes da vacinação de funcionários da Unimed Curitiba”

  1. Poderiam fazer uma varredura na cidade vizinha, a do aeroporto.. 5a cidade que mais recebe doses mas que está sempre atrasada ou parando a vacinação. Vacinam até professora de 18 anos de curso online de inglês…

  2. Excelente matéria.

    Seria o caso de, aqui nos comentários, fazer algumas extrapolações.

    A Unimed-Curitiba tem aproximadamente 500 mil beneficiários, 5 mil associados e 1.300 funcionários. Os chamados a se vacinar no dia 08/05, no “Pavilhão da Cura”, foram esses 1.300. Naqueles dia e local, foram atendidas, ao todo, 4.093 pessoas. É uma coincidência tremenda que “1.338 pessoas vacinadas no dia 8 não tiveram ocupação informada”. Coincidência?

    Sou professor e fui vacinado no dia 15/06. O processo todo, da chegada ao posto, preenchimento de papéis, espera na fila… até a bendita agulha no braco, levou 3 horas. Tive a oportunidade de testemunhar 2 pessoas humildes sendo mandadas de volta para casa, porque não tinham comprovante de endereço. Quando chegou a minha vez, a pessoa que me atendeu alegou que “faltava um documento”; mostrei a ela a mensagem recebida da própria prefeitura: sim, eu tinha todos os documentos em ordem… então, veio ter comigo alguém que se disse “responsável pelo setor”. Uma senhora educada, gentil e que me explicou que “se as coisas não estivessem muito em ordem, ela teria que explicar” e poderia “dar problema”, porque a “orientação de cima” era que “tinha que registrar tudo, bem certinho”. Foram alguns minutos de conversa e, ante à situação surreal, minha esposa começou a passar mal… até alguém de longe simplesmente dizer “está tudo certo, vamos vacinar”. Dito e feito, fomos vacinados. Antes, assinei um outro papel, que não estava na lista inicial por mim recebida, pra “não dar problema”. Tudo bem certinho.

    Conto esta história porque ouvi outras similares de colegas. Meu ponto é: se as orientações são para “registrar tudo”, por que 1.338 pessoas vacinadas no dia 8 não tiveram ocupação informada? Na tabela da reportagem, o número ( 1.338) na coluna “outros” supera os das demais profissões, estas devidamente registradas.

    A falta de transparência da prefeitura abre espaço para especulações. Uma delas: em 08/05, o Pavilhão da Cura não teria sido palco da vacinação de “familiares e amigos”? Talvez, certa burguesia curitibana tenha tido acesso a mais um bem precioso – e em tempo recorde -, como sói acontecer nessas terras de pinheirais.

    Arrisco dizer que, em 24 de julho, se um fotógrafo mirar sua câmera para a fila da segunda dose, registrará uns cliques de gente bonita – essa gente que faz a Curitiba moderna e linda.

    Outra sugestão, pra senhora secretária Márcia:

    ao invés de colocar “outros” na tabela, melhor seria “gente diferenciada” (essa palavrinha fofa que a Curitiba moderna e linda tanto usa nos salões, academias e palácios).

    1. É um absurdo o comportamento da Prefeitura de Curitiba. Enquanto liberam, por debaixo dos panos, a vacinação de tantas pessoas, professores continuam com dificuldades de receber a vacina. A Prefeitura determina quem é profissional da educação. Professores de escolas de línguas, por exemplo, estão sendo obrigados a trabalhar presencialmente, expondo-se todos os dias, mas a Prefeitura não libera a vacinação para esses profissionais, alegando que esses não são profissionais de educação. É um absurdo. Um crime.

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