Curitiba: segurança aborda jovem negro no Super Muffato por “suspeita” de furto

Rapaz é funcionário do Ministério Público e estava pesquisando preços de eletrônicos para o apartamento novo

Kleyton Julião, de 26 anos, trabalha como técnico de informática no Ministério Público em Curitiba e afirma ter sido vítima de racismo na loja do Super Muffato, no bairro Portão, no último sábado (03). 

Ele pesquisava preços de produtos eletrônicos para o novo apartamento, que fica no Cristo Rei, e ao sair da loja foi abordado pelo segurança Flavio Henrique Lins de Oliveira, um homem branco, por ser “suspeito” de ter cometido furto.

“Ele me chamou de ladrão, de negro safado e disse para eu devolver o que tinha roubado”, contou ao Plural a vítima. De acordo com Julião o funcionário do mercado o segurou pelo braço e chegou a pedir reforço. Nenhum produto furtado foi localizado com o jovem.

“Eu não preciso roubar nada, não. Já fiz compras de R$ 2 mil nesse mercado, faço trabalho voluntário. Ele me fez levantar a camisa no meio da praça de alimentação. Estou muito indignado”.

A vítima acionou a Polícia Militar (PM), que registrou um boletim de ocorrência. O acusado, na presença dos policiais, passou a dizer que a vítima o havia agredido.

jovem negro falando por videochamada
Kleyton Julião relatou o caso de racismo por videochamada ao Plural | Foto: reprodução

No documento, Oliveira explica que foi acionado por outra funcionária, que afirmou que havia ocorrido um furto na loja. O boletim não cita as características da pessoa que supostamente cometeu o crime, mas o segurança acabou abordando Julião, que deixava o estabelecimento no instante.

A reportagem questionou o Muffato sobre as características do suposto furtador para verificar se o segurança confundiu a vítima com outra pessoa, mas a informação não foi respondida. (Atualização: a resposta foi enviada às 13h48: o suspeito era um “rapaz com a mesma estrutura” do cliente abordado erroneamente).

Saiba mais: Autoridades fizeram 94 declarações racistas desde 2019; governo Bolsonaro é o principal responsável

Em nota o Muffato informou que “foi aberto um procedimento interno para averiguar a conduta do agente de prevenção. Até o momento, não identificamos a ocorrência de injúria racial. Porém, nos solidarizamos com nosso cliente, que sofreu uma abordagem em possível desacordo com as normas da empresa. O Grupo Muffato promove treinamentos constantes do quadro funcional, aposta na diversidade e não tolera atitudes de cunho racista, o que está claro em nosso código de ética. O agente envolvido na ocorrência foi deslocado da função enquanto aguardamos a conclusão do inquérito policial”.

O núcleo de atendimento ao cidadão e às comunidades do Ministério Público do Paraná está acompanhando o caso. A ocorrência foi encaminhada para a Polícia Civil, que, em nota, afirmou estar “investigando o caso e realizando todas as diligências cabíveis a fim de esclarecer o fato”.
Já foram realizadas oitivas para auxiliar e o autor pode indiciado pela prática do crime de injúria racial.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima