Adriano Tiezerini é condenado a 16 anos de prisão por encomendar assassinato da ex-namorada

Em 2018, ele mandou matar Andresa Mendes. O crime foi enquadrado como homicídio qualificado tentado

Na semana passada, o Plural publicou uma entrevista com a catarinense Andresa Mendes, que no dia 29 de dezembro de 2018 levou seis tiros em frente a uma farmácia do bairro Batel, durante uma breve viagem a Curitiba. Seu ex-namorado, o fisioterapeuta Adriano Tiezerini, era o principal suspeito de encomendar o crime. Ontem, ele foi a júri popular e saiu condenado por homicídio qualificado tentado.

Após quase seis horas de julgamento, o Juiz Thiago Flôres Carvalho fez a leitura da sentença: a pena atribuída a ele foi de 16 anos e quatro meses de reclusão em regime inicial fechado. “Os jurados, por maioria de votos, reconheceram a existência do fato, a autoria, o crime doloso contra a vida, e as qualificadoras de motivo fútil e feminicídio”, explica o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR).

Agora, o principal recurso cabível é o de apelação, nos termos do artigo 593 e seguintes do Código de Processo Penal. A reportagem entrou em contato com os advogados de Tiezerini para saber quais serão os próximos passos da defesa, mas não foi respondida até o fechamento.

“Aliviada”

De acordo com a advogada Graziela Engelhardt, que atuou como assistente de acusação, o julgamento foi denso, mas a justiça foi feita. “A defesa negava a autoria totalmente, dizendo que foi um latrocínio. Nós não encontramos o atirador e havia algumas falhas de investigação, então foi um processo muito delicado. Mas tínhamos outras provas, inclusive uma denúncia anônima de que ele mandou matá-la.”

“O processo possuía um acervo probatório muito forte acerca do relacionamento abusivo permeado de violências que a vítima sofreu ao longo dos anos, além das ameaças de morte anteriores ao fato”, diz a promotora de Justiça Roberta Franco Massa, do Ministério Público do Paraná (MPPR), que atuou no júri. Segundo ela, amigos de Tiezerini prestaram depoimentos, durante a investigação, sobre o desejo expressado pelo réu de querer encontrar alguém que desse um “susto” na ex-companheira.

“Aliado a isso, estava muito claro nas imagens e na própria dinâmica do fato que não se tratava de um assalto. O executor se dirigiu diretamente à vítima, atirou várias vezes e não levou nenhum pertence”, argumenta a promotora. “É uma vítima que não alimentou nenhuma inimizade durante a vida, o único interessado em ceifar sua vida era o próprio réu, que conseguiu atraí-la para a emboscada por ele armada.”

Por cerca de três horas, Andresa prestou depoimento sobre as violências sofridas durante os seis anos de relacionamento. “Tudo o que ela falou, tinha provas nos autos. Trata-se de um caso típico de relacionamento abusivo, com um homem narcisista e violento. Sorte a nossa que a Andresa sobreviveu pra contar a própria história”, diz a advogada de acusação. “Não dá pra dizer que ela saiu feliz do júri, mas nos falamos algumas horas depois e ela com certeza está aliviada.”

Meta a colher!

Na entrevista que concedeu ao Plural, Andresa disse que chegou a registrar alguns boletins de ocorrência contra Adriano, mas acabou não levando nenhuma representação a cabo, por medo de sofrer represálias. De lá pra cá, a dinâmica mudou um bocado. “O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que uma vez noticiada a prática de uma agressão física contra a mulher, a Polícia Civil poderá investigar e o Ministério Público poderá denunciar, independentemente da representação da mulher”, explica Roberta Franco Massa.

De acordo com a promotora, a proteção aos direitos humanos das mulheres deve falar mais alto. “Muitas vezes as notícias ou denúncias de agressões sofridas eram retificadas pela vítima por chantagens ou coerções exercidas pelo companheiro. E muitas vezes, sequer a mulher se enxerga num contexto de violência. A própria vítima ontem relatou que ouviu de familiares que ‘relacionamento é difícil assim mesmo’. A violência de gênero é tão naturalizada no Brasil, que as mulheres não se visualizam sofrendo violências num relacionamento abusivo, e daí a dificuldade em muitas denunciarem ou manterem a denúncia das agressões sofridas.”

É por isso que ela deixa o apelo: “NÃO SE CALEM! DENUNCIEM! Nem que seja a uma amiga próxima, a um colega do trabalho, a um familiar, ou qualquer outra pessoa de sua confiança. O preferível é que procure as autoridades, mas que deixe de alguma forma que alguém tome conhecimento da situação pela qual você esteja passando. Somente tomando conhecimento, a ajuda será possível. E além de possível, ela é necessária, pois infelizmente o Tribunal do Juri nos revela que muitos feminicídios poderiam ter sido evitados acaso as autoridades tivessem conhecimento e pudessem tomar providencia contra o agressor. Não se sintam culpadas por terem sofrido uma violência. Procurem ajuda! E às demais pessoas, ao menor sinal de violência contra a mulher, METAM A COLHER! DENUNCIEM!”

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