Mulheres indígenas vêm a Curitiba para denunciar violência

Mulheres dizem que situação em terras indígenas é insustentável, com desrespeitos e abusos

Da Rede Lume, de Londrina

Cerca de 150 mulheres indígenas Guarani, Kaingang e Xetá, de ao menos 14 territórios do Paraná, vieram a Curitiba durante a semana do Dia da Mulher para denunciar violências sofridas por mulheres e meninas dentro das aldeias. Com o mote “Meu corpo é meu primeiro território, respeite”, o grupo juntou-se à Marcha das Mulheres, organizada pela Frente Feminista, e se reuniu com representantes de órgãos governamentais e organizações indígenas para debater soluções.

A violência de gênero acomete mulheres indígenas logo na primeira infância, alerta Amaue Jacintho, indígena Guarani Nhandewa ativista dos direitos humanos – ela mesma sobrevivente de feminicídio. O estopim para o que ela classifica como um “levante das mulheres indígenas no Paraná” foram dois casos recentes de meninas que tiraram a própria vida. Diante da situação chocante, em menos de um mês elas conseguiram se organizar para estar na capital em uma data simbólica.

“No mês de fevereiro aconteceu o suicídio de duas jovens indígenas no Paraná. A gente também teve outra tentativa de uma parente. Isso mobilizou as mulheres indîngenas de uma forma nunca vista antes. A gente começou um levante das mulheres para pensar políticas públicas para combater a violência de gênero dentro dos territórios. Sabemos que o suicídio é multifatorial, mas a gente sabe também que uma das principais causas pode ser a violência a que as meninas indígenas são submetidas desde muito novinhas”, afirma Amaue.

“Aos 14 anos é uma idade muito nova, mas as mulheres indígenas já estão sem esperança nessa idade, por tanta violência que sofrem na infância e adentrando a adolescência”, explica.

Antes da participação da Marcha das Mulheres, marcada para as 15h, as mulheres indígenas participam de uma reunião na Casa de Passagem e Cultura Indígena (CPCI), a partir das 8h30, onde esperam receber as instituições convidadas para debater soluções.

“A situação chegou num ponto crítico e insustentável. Os índices de violência aumentaram muito e a idade está cada vez mais nova das meninas (violentadas). A gente quer as nossas meninas em segurança, a gente não suporta mais todo esse descaso com a vida das mulheres indígenas”, conclui Amaue.

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Há anos Amaue denuncia as violências sofridas por mulheres e meninas indígenas e – acredita – por isso sofreu a tentativa de feminicídio e foi incluída em um programa de proteção a defensores ameaçados de morte.

Em suas redes sociais ela segue denunciando as violações, como o estupro coletivo de uma menina indígena de 12 anos por seis homens, ocorrido no final de fevereiro em um território no centro-sul do Paraná. Na postagem sobre o caso ela questiona a falta de visibilidade e a ausência de indignação da sociedade.

“A indignação da sociedade brasileira é seletiva, a comoção é seletiva, a dor que dói é seletiva; nós mulheres indígenas somos invisibilizadas, desprezadas, diminuídas, subjugadas sistematicamente por essa sociedade estruturalmente machista, racista e misógina. Não à toa que os índices de suicídio entre meninas e mulheres indígenas no Paraná tem aumentado”.

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