Ratinho tenta “passar a boiada” com lei que facilita obras no Litoral

Projeto que pode ser aprovado nesta terça acaba com força de conselho que aprova edificações e mudanças ambientais no Litoral

O governo Ratinho Jr. (PSD) tenta aprovar nesta terça (19) na Assembleia Legislativa um projeto que fragiliza a fiscalização de obras no Litoral paranaense. A proposta diminui as atribuições do Conselho do Litoral (Colit) e, ao mesmo tempo, serve para regularizar três das principais obras do atual governo do Paraná: a engorda da praia de Matinhos, a ponte de Guaratuba e a nova Ferroeste.

O projeto 257/2022 diz que as obras no Litoral precisam ser aprovadas unicamente pela Secretaria Executiva do Conselho – o que na prática significa que o próprio secretário de Estado de Desenvolvimento Sustentável pode dar uma canetada em nome do conselho e liberar desde pequenas mudanças até grandes construções. Para a oposição, o método é o mesmo defendido pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que queria “passar a boiada” da desregulamentação ambiental.

O importante do ponto de vista do governo é retirar o poder do pleno do conselho, que além dos representantes governamentais (o que inclui os prefeitos da região) conta com organizações da sociedade civil, como ONGs e universidades. São estas instituições que em geral questionam as obras propostas para o Litoral quando elas não se adequam à legislação ou trazem prejuízos ambientais.

Segunda tentativa

O governo Ratinho tentou extinguir as atribuições do Colit via decreto – no entanto, o Judiciário considerou o caminho inválido, e agora o Executivo tenta refazer a mesma coisa via projeto de lei. O trâmite tem sido rapidíssimo: a oposição queria que a proposta passasse por seis comissões, mas o governo apressou tudo, fazendo com que apenas a CCJ (obrigatória para todos os projetos) e a Comissão de Turismo e Meio Ambiente analisassem o caso.

Na semana passada, o projeto foi aprovado em primeira votação no plenário. Nesta terça, a CCJ analisa uma emenda da oposição. Em seguida, na mesma tarde, o caso chega a plenário – e a oposição sabe que não tem a menor chance de barrar no voto a aprovação.

Haiti x Balneário

Desde o começo do atual governo, em 2019, o governo Ratinho deixou clara sua intenção de extinguir o Colit, que no discurso de Ratinho e de sua base na Assembleia seria um dos responsáveis pelo atraso econômico do Paraná. “Eles insistem nessa comparação xenófoba dizendo que o Litoral paranaense é um Haiti”, diz Goura, “e prometem que sem a interferência do conselho vão transformar nossas praias em uma nova Balneário Camboriú”.

A oposição diz que a intenção é outra: o governo pretende se livrar de contestações a projetos ambientalmente incorretos. Um exemplo dado é o do corte da restinga, vegetação à beira-mar que o governo queria arrancar à força das praias, ainda que isso seja um prejuízo ambiental evidente. Sem a interferência das ONGs e das universidades esse tipo de ação ficará muito mais fácil.

Além disso, a facilitação de obras mais altas no Litoral será mais fácil, o que beneficia a especulação imobiliária e a verticalização das praias, justamente ao modo que se vê hoje em Balneário Camboriú – lá, os prédios altos são tamanhos e tantos que já tornam a praia um ambiente sempre sombreado.

Obras liberadas

Além disso, o governo teria um benefício adicional ao diminuir as atribuições do Colit. Três obras importantes para o discurso de Ratinho estão em curso sem que o conselho tenha dado seu aval. O governo simplesmente ignorou as posições dos conselheiros na ponte de Guaratuba, na engorda da praia de Matinhos e no projeto da nova Ferroeste.

No caso da engorda da praia, lembra Arthur Conceição, diretor do Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental (Cedea), há uma ata do Colit determinando que o projeto será analisado pelo pleno, o que não aconteceu. “Eles estão passando por cima do conselho”, diz Conceição, que entrou com um pedido de liminar no Judiciário para tentar impedir a sessão desta terça.

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6 comentários em “Ratinho tenta “passar a boiada” com lei que facilita obras no Litoral”

  1. Para o governo do Ratinho, desenvolver é crescer e virar Balneário Camboriú … um exemplo típico do consumismo desenfreado, filas, trânsito e baladas…. isso é iinnsustentável…

    Nosso litoral não precisa ser igual ao do vizinho…tem personalidade própria… e o nosso Plano de Desenvolvimento do Litoral? O que se fez dele ?

    Nosso litoral pode muito bem se desenvolver com turismo ecológico, com turismo histórico (Paranaguá é a primeira cidade do estado, lembram?). Que tal em vez de incentivar o consumismo, incentivar experiências com a natureza, de lazer, gastronômicas, de bem estar, de descanso…

    Que tal se o objetivo fosse ser uma região litorânea conhecida como destino sustentável? Com passeios pela costa, estuário e ilhas, comida local de qualidade (ostras, peixes, camarão, caranguejo), espaços públicos bem cuidados, hospedagens de qualidade, serviços de atendimento ao turista de qualidade e com senso de desenvolvimento coletivo da comunidade local…

  2. Luiz Alberto Bonin

    Ratos sendo ratos, aliados de primeiríssima hora do DESgoverno miliciano e fascista federal. Para eles, os ultraliberais da extrema-direita, “progresso” e “desenvolvimento” são incompatíveis com sustentabilidade e preservação ambiental, tamanha a limitação de tais mentes brilhantes (na verdade é Deu$$ sempre acima de tudo e de todos).

  3. E o Porto de Pontal? Pelo amor de Deus aquela região precisa desenvolver , só tem miseráveis e pescadores . O Paraná vai crescer com este Porto

  4. Finalmente ações concretas que podem trazer um desenvolvimento para nosso estado e acabar com o fato que entregamos para SC os novos portos por falta de infraestrutura.
    A ponte de Guaratuba é algo que é tão urgente, apesar dos esforços do lobby do ferry boat junto à ongs, deve sair em breve. Só isso já consolida o governo como um dos melhores dos ultimos tempos.
    São obras urgentes que nosso litoral precisa para que deixe de ser esse ambiente atrasado e passe a atrair investimentos.

  5. Restringir de forma articulada a perda de representatividade de Conselhos como o Colit representa um enorme retrocesso da gestao pública paranaense. Um comportamento retrógrado e que aposta na destruição do arcabouço regulatório para facilitar licenciamentos, inves de discutir esses projetos com a sociedade. Uma prática antidemocrática bem casada com a atual gestão federal.

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