Está aberto edital da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de seleção de propostas para pintura artística de dois murais, como parte da programação cultural da 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A participação é exclusiva para pessoas jurídicas (CNPJ ou MEI) e o prazo para inscrições termina em 3 de julho. A execução das pinturas deve ser realizada entre os dias 17 e 31 de julho.
Os painéis serão feitos em prédios do Campus Centro Politécnico da UFPR e devem ser produzidos com técnicas de muralismo e/ou o grafite, conforme temas predeterminados no edital. O primeiro mural, no bloco de salas de aulas de Ciências Exatas, deve ser inspirado na biografia da primeira engenheira negra do Brasil, Enedina Alves Marques, que também foi a primeira mulher a se formar no curso de Engenharia Civil nessa instituição. O segundo, no bloco de Engenharia Elétrica, deve fazer referência à “Universidade do Mate”, termo usado por Ruy Christovam Wachowicz como título de seu livro sobre o marco histórico da criação da UFPR, no final do século XIX.
Remuneração
O pagamento previsto pela primeira obra, com 9 metros de largura e 8,20 metros de altura, é de 12 mil reais; para o segundo painel, com largura de 11,5 metros e altura de 9,4 metros, o valor é de 15 mil reais.
O certame ainda estabelece que os proponentes deverão arcar com todos os custos envolvidos na criação e produção dos murais, conforme se pode ler no item 3.5 do documento: “A produção dos murais, objeto deste edital, implica na entrega de cada um dos dois painéis finalizados, incluindo a responsabilidade pela elaboração do projeto artístico do mural; a pintura; todos os materiais, suportes e instrumentos a serem utilizados; equipamentos de limpeza e segurança; formação de equipe; entre outros recursos que o (a) postulante julgar necessários para a produção dos murais.”
As regras completas para a participação na seleção estão no edital número 13/2023 (processo 23075.034466/2023-35), elaborado pela Comissão Executiva Local da 75ª Reunião Anual da SBPC. O documento pode ser consultado aqui.
Reclamações
O Museu de Arte da UFPR (MusA), publicou no seu perfil no instagram postagem sobre abertura das inscrições para o edital, no dia 2 de junho. Em seguida, a produtora cultural Giusy de Luca, postou um comentário valorizando a iniciativa, mas alertando para a inadequação da remuneração, com valor muito abaixo do mercado. A sugestão dela, é que o orçamento seja revisto para tornar viável a realização do projeto. A muralista Caroline Lemes, também considerou o valor inadequado em comentário na mesma postagem.
De Luca está à frente do Mucha Tinta, empresa que produziu grandes murais da paisagem urbana de Curitiba, assinados tanto por artistas daqui quanto por nomes de destaque vindos de outras cidades. Ao Plural, ela explicou que é preciso levar muitos fatores em conta para estabelecer qual o preço mínimo necessário para realizar obras de arte desse porte. “As pessoas acham que pintar um mural é simplesmente colocar a tinta. A produção de um mural em grande escala exige estudo, preparo, materiais e inúmeros equipamentos para que seja feita de maneira responsável. Além disso, os e as envolvidas no processo, merecem ser remunerados, essa visão de que artista e produtor trabalham de graça é romantizar profissões difíceis, que exigem técnica”, fala a produtora cultural.
Uma ideia na cabeça não basta
O Plural apurou por que a produção de murais não é algo barato, principalmente os de grande porte. O artista não trabalha sozinho, é necessário uma equipe, no mínimo se pensa em um produtor, um assistente e um técnico de segurança em altura. Inclusive deve-se seguir a Norma Regulamentadora nº 35 (NR-35), que indica os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura. No cálculo, também entram custos de locação, montagem e transporte de itens como andaime, plataforma elevada ou balancim. A escolha desses equipamentos varia conforme as características de cada local e obra. Isso tudo, fora tintas, valor do cachê do artista e impostos.
Comparativo
O valor previsto pela UFPR também é menor que o previsto no último edital da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) de Credenciamento para Prestadores de Serviços Artísticos-culturais – Linguagem das Artes Visuais (Grafite), n°162/2022. A remuneração proposta pela FCC no ano passado, foi pouco mais de 33 mil reais para trabalhos com dimensões entre 50 e 100 metros quadrados, e cerca de 44 mil reais para murais entre 100 e 200 metros quadrados. Assim, considerando essa primeira categoria, são pagos mais de 330 reais por metro quadrado da pintura e, na segunda categoria, são pagos mais de 200 reais por metro quadrado.
Já quem se candidatar para a seleção da UFPR receberá bem menos, cerca de 162 reais por metro quadrado do painel menor previsto no edital (com área total de 73,8 metros quadrados); e aproximadamente 138 reais pelo metro pintado do segundo mural (com 108,1 metros quadrados).
Vale lembrar que, conforme noticiado anteriormente pelo Plural, a remuneração proposta no edital da FCC foi insuficiente para que uma nova obra de arte apareça na cidade como contrapartida pelo apagamento do mural “Jack Bobão”. Ou seja, os valores previstos pela FCC já são baixos.
Verba da UFPR
Segundo a assessoria de comunicação da UFPR, a iniciativa do chamamento para criação dos murais é estimular a produção artística e os valores propostos são resultado da disponibilidade orçamentária da instituição.
“As universidades federais sofreram cortes orçamentários brutais nos últimos anos, estamos em 2023 com um orçamento equivalente ao de 2019, mas temos a inflação desse período até hoje. Temos um déficit de quase 75%, por isso, trabalhamos com o que nos é possível”, afirmou o porta-voz da assessoria ao explicar também que os custos da SBPC são grandes, pois se trata do maior evento de divulgação científica da América Latina. A última vez que Curitiba sediou essa reunião anual foi há 35 anos.
Caso nenhum artista se candidatar ao edital, a universidade irá repensar a situação, afirmou a assessoria.
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