Quem é a produtora por trás de grandes pinturas no centro de Curitiba

Giusy de Luca tem 15 anos de trabalho, muitos baldes de tinta e milhares de metros quadrados de arte produzida

A história da produtora cultural Giusy de Luca tem muito em comum com a realidade da maioria das mulheres empreendedoras: é uma trajetória cheia de obstáculos impostos por uma sociedade ainda patriarcal e que nos faz provar diariamente que merecemos respeito e igualdade, inclusive no mundo da arte. 

Quando saiu da faculdade de Design e começou a produzir pequenos projetos em bares no Centro de Curitiba, a produtora mal sabia que, anos depois, estaria planejando grandes laterais de prédios e muros. “Eu comecei a atuar no mundo cultural em 2007, de uma forma bem despretensiosa, produzindo um bar do Centro de Curitiba”, conta Giusy. 

O bar ao qual se refere é o Kitinete, que foi por muitos anos, figurinha carimbada na vida dos boêmios frequentadores do bairro São Francisco e ficou conhecido por abrigar festas e eventos de muitos artistas. “Quando o Kitinete inaugurou, foi uma surpresa, porque tivemos bons resultados, muitas entrevistas na televisão, visibilidade e acabei aparecendo num livro de Design de Interiores de Singapura”, afirma. 

Depois, com a reação imediata e positiva do mercado cultural, a produtora se aventurou na produção da Paint Party (ou Festa de Pintura, em português), conduzindo um projeto sobre economia criativa, que levou pequenos produtores, artesãos, músicos e trabalhadores de audiovisual para o antigo La Lupe, no Centro. “Então nós compramos muitas tintas e chamamos as pessoas para intervirem nos muros”, conta Giusy. O que era pra ser apenas uma festa, resultou em oito eventos de arte. Nasceu aí a sua produtora, a Mucha Tinta.

De lá pra cá, já passaram quase 15 anos, muitos baldes de tinta e milhares de metros quadrados de arte produzidas por Giusy. Quem passa pela sede da Fundação Cultural de Curitiba, por exemplo, pode ver o trabalho de Wes Gama. Já na rua Saldanha Marinho, um super mural colorido pelo coletivo Cosmic Boys. Ainda, tem a arte da muralista sueca Mona Caron, na Praça de Bolso do Ciclista e as gralhas azuis do coletivo Bicicleta Sem Freio, na rua Marechal Deodoro.  “Passei a conhecer um novo lugar da arte: autoral, livre e bonita”, conta Giusy.

Uma nova história

Mas nem tudo são cores. Giusy enfrentou no meio do caminho o machismo enraizado por todos os lugares que frequentou. “A gente sofre com o machismo todos os dias, não necessariamente com o contratante, mas com algum fornecedor, algum apoiador e muitas vezes, com os próprios artistas”, conta.

No início, para ser ouvida, levou amigos homens em suas reuniões de trabalho. “Eu chegava em ambientes majoritariamente masculinos, em reuniões com vinte homens e apenas eu de mulher. Comecei a levar amigos para falarem por mim”, disse. “As vezes eu ia com roupas que cobriam meu corpo, que tapasse as tatuagens e sem nenhuma maquiagem. Ser uma mulher empreendedora no meio cultural é super delicado”, desabafa.

Por isso, em 2020, em plena pandemia, ela convocou mulheres artistas e produtoras para formar o coletivo Muchas Minas. “Nos últimos anos,  todos nós evoluímos bastante e tomamos consciência da importância da visibilidade do trabalho da mulher. Tudo o que fazemos se resume à luta”, disse.

Hoje, o coletivo já conta com quase trinta mulheres e faz ações voltadas à conscientização do público em prol de um lugar mais justo e bonito para se viver. Parece romântico, mas tem dado certo: esse ano, por exemplo, as artistas fizeram murais espalhados pela capital paranaense, que fomentam a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

“Além de falar do ODS 5, que prega a igualdade entre os sexos, nós também prezamos por consumo consciente, relações justas de trabalho, questões climáticas e educação de qualidade”, conta. 

Tem sido assim, de muro em muro, de prédio em prédio, que o trabalho de uma mulher que decidiu colorir o mundo, tem dado certo. Pra quem anda pelo Centro de Curitiba com os olhos atentos aos movimentos artísticos, se preparem que essa história não acaba aqui: esse mês, artistas mulheres devem colorir mais 400 metros quadrados. Mas esse é um próximo capítulo, que contamos já já. 

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Quem é a produtora por trás de grandes pinturas no centro de Curitiba”

  1. Que fantástico! Venho admirando esses trabalhos há anos sem saber quem estava por trás deles. Escrevi uma obra para orquestra, para a Filarmônica da UFPR, dedicada a essas belas pinturas, entre grandes murais e grafitis – “E a cidade desperta…” (2017). Parabéns Giusy!

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