Elza Soares no lugar do Jack Bobão? Só se a prefeitura aumentar o valor do edital

Convite para a produção de nova arte foi divulgado e já existem ideias para a criação, porém não houve contato com responsáveis pelo edifício nem mecanismo definido para pagar a obra

A parede onde ficava o painel do Jack Bobão, na Rua XV, no Centro de Curitiba, provavelmente receberá um novo mural, dessa vez em homenagem à cantora Elza Soares, falecida neste ano. No entanto, o Plural apurou que o novo edital organizado pela Prefeitura de Curitiba para repor a obra, apagada depois de uma série de erros burocráticos, tem um valor insuficiente para cobrir os custos. O artista responsável pelo primeiro mural nem mesmo participará do edital.

O painel que mostrava Jack Nicholson em sua atuação no filme “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, ficou nove anos na empena cega de um prédio na XV, entre a Tibagi e a Conselheiro Laurindo. No entanto, a Prefeitura cometeu uma série de erros e queria multar o prédio como se a obra fosse um caso de propaganda irregular. Depois de muito assédio dos fiscais, para evitar o pagamento dos R$ 1,3 mil, os condôminos optaram por passar tinta cinza em cima da obra de arte.

Vendo o tamanho do estrago, o prefeito Rafael Greca (PSD) anunciou que a cidade vai patrocinar um novo mural no prédio. Greca chamou Celestino Dimas para dizer que o erário pagaria uma nova obra como uma espécie de retratação pelo ocorrido. Dimas foi o idealizador do projeto, aprovado via edital do Mecenato do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura, o autor da obra é Eduardo Melo, conhecido como Artestenciva. Essa informação e outros detalhes do ocorrido foram noticiados recentemente pelo Plural.

Essa postagem do prefeito fala sobre renovar “a arte naquele endereço da cidade”. O síndico do Edifício Inter Walter Sprengel, de onde foi apagado o mural icónico, Moacir Stelzner, não vê impedimento para isso “desde que seja feito dentro da lei, para depois não ficarem pedindo para tirar”. Contudo, a Prefeitura de Curitiba ainda não entrou em contato para negociar a criação de um novo mural no local, nem detalhes ou datas para execução. 

E agora?

Ainda nesses dois comunicados é afirmado que o novo mural será realizado por meio do edital de credenciamento, lançado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) em outubro. Mas Dimas falou ao Plural que existem entraves para isso, pois o edital prevê trabalhos com dimensão de até 400 metros quadrados com valor fixo para remuneração de R$ 75,6 mil, (materiais, mão de obra, equipamentos e documentos são custeados pelo artista). A empena cega onde estava o “Jack Bobão” tem mais de 800 metros quadrados e, para criar ali uma nova obra nos mesmos termos, seria preciso ultrapassar esse valor. 

“A gente está com toda boa vontade de fazer. Mas, se conseguirmos extrapolar aquele limite de dimensões e não o orçamento, fica inviável”, diz o muralista ao explicar a decisão de não se inscrever no edital por enquanto. Ele aguarda uma reunião com a presidente da FCC, Ana Cristina de Castro, para conversar sobre o caso, e considera que a saída seria encontrar outro mecanismo para remunerar os envolvidos. Além dele, o artista Leandro Cinico e a produtora Michele Micheleto devem participar da empreitada. Melo não aceitou o convite.

Elza Soares

Mesmo sem um caminho oficial definido para a produção, artistas e FCC já pré-agendaram um cronograma,  a nova obra deve levar três semanas para ser produzida no mês de janeiro. Provavelmente, a imagem que deve cobrir o cinza daquela parede será da cantora e compositora Elza Soares (1930-2022). A proposta seria retratá-la com idade avançada, com a vibe presente no álbum “A mulher do fim do mundo” (2015), camadas de cor e também elementos da Mata Atlântica e das Araucárias. 

Além disso, um detalhe simbólico foi revelado para nossa reportagem em primeira mão. “Eu acredito muito em reparação, em consertar as coisas. Tem aqueles vasos japoneses que, quando quebrados, são emendados com ouro [Kintsugi]; estou pensando em colocar um vaso desses com a cara do ‘Jack Bobão’ em algum lugar do novo mural”, quem deu o spoiler foi o próprio Dimas.

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