Sem maestro, Sinfônica do Paraná será gerida por comissão artística

Stefan Geiger, alemão que popularizou concertos, foi desligado em dezembro

A Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) está sem maestro e permanecerá assim até o fim de 2021. Stefan Geiger, alemão que ocupava o posto há cinco anos, foi desligado da orquestra em dezembro de 2020 por “questões financeiras”, de acordo com a direção do Teatro Guaíra, e também “éticas” segundo um dos músicos ouvidos pelo Plural.

“Havia um problema jurídico que impedia a renovação do contrato por mais de cinco anos. Mas ‘brigaríamos’ por ele se não estivéssemos numa pandemia, com orçamentos reduzidos. Então, optamos por liberar o maestro e manter os músicos contratados”, diz Monica Rischbieter, diretora-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, do qual a orquestra faz parte.

A pandemia e seus efeitos também causaram atritos entre o maestro e a direção do Teatro Guaíra. Na explicação de Monica, porque Geiger é “um apaixonado, movido à música”. “Em dezembro de 2020, ele queria colocar 50 músicos no palco para gravar um concerto. Mas só 15 eram permitidos. Foi uma relação de muito amor, mas de muita tensão, principalmente neste momento”.

Flautista da Orquestra Sinfônica do Paraná há mais de 30 anos e ex-presidente da Associação dos Músicos da OSP, Sebastião Interlandi Júnior confirma que o desligamento de Stefan Geiger foi uma “decisão unilateral do teatro e do governo.” E os motivos, segundo o músico, envolvem também “pequenos deslizes éticos”. “O Stefan é um grande maestro. Mas vinha tendo aprovação cada vez menor entre os grupos da orquestra. Porque, por exemplo, fazia as agendas somente de acordo com as datas dele. Raramente ouvia os músicos sobre isso”, diz o flautista.

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Quando fala de Stefan Geiger, o spalla Angelo Martins lembra da participação da orquestra, pela primeira vez, no Festival Internacional de Campos do Jordão, em 2019. E também dos repertórios audaciosos e bem desempenhados. “Isso elevou o nível artístico da OSP. Mas as opiniões sobre sua permanência eram divididas desde 2018. A orquestra sofria com questões administrativas que ele, como maestro, não conseguia lidar bem. A saída dele foi surpresa para uns e alívio para outros. Nosso futuro é incerto. Dependemos do poder público e principalmente da vacinação, para que as coisas voltem aos poucos ao normal”, completa.

De acordo com Marcelo Oliveira, clarinetista da orquestra há 29 anos, a despedida de Stefan Geiger foi por meio de um vídeo que o maestro mandou ao grupo já de sua casa em Hamburgo, na Alemanha.

Legado e substituto

A Orquestra Sinfônica do Paraná ficará sem maestro até o fim de 2021, pelo menos. Durante este período, o grupo será comandado por uma comissão artística, composta por cinco músicos da OSP, eleitos em votação. “Não se acha um maestro como ele numa prateleira”, diz Monica Rischbieter. “Ele levou mais público aos concertos, e também um público que entende de música, gente que a orquestra tinha perdido. A única forma de a orquestra se manter viva é tocando mais corações”. Ainda de acordo com a diretora-presidente do Teatro Guaíra, não está descartado o retorno de Geiger à OSP, no ano que vem.

Nascido em Hamburgo há 54 anos, Stefan Geiger assumiu a Orquestra Sinfônica do Paraná em 2016. Uma de suas grandes contribuições foi facilitar o acesso à produção da OSP por meio de concertos mais populares, no valor do ingresso e no conteúdo. Especialista em filmes-concerto, ele incluiu no repertório clássicos do como “Metropolis” (1927), de Fritz Lang, e “Luzes da Cidade (1931), de Charlie Chaplin. Geiger também trouxe a Curitiba solistas e maestros como Sooyoung Yoon, Michael Nesterowicz, Pacho Flores, Tanja Tetzlaff e Raphael Haeger. Por fim, o alemão foi o fundador do Instituto de Apoio à Orquestra Sinfônica do Paraná (IAOSP).

Durante a pandemia, a OSP continuou a gravar concertos, exibidos nas redes sociais do Teatro Guaíra. Um dos destaques, e que exemplifica este caráter mais popular que a orquestra vinha construindo, foi “O Trenzinho do Caipira”, música de Heitor Villa-Lobos com letra de Ferreira Gullar que teve participação de Uyara Torrente, vocalista d’A Banda Mais Bonita da Cidade.

A ideia da OSP, nestes próximos meses pandêmicos e sem maestro, é continuar a realizar apresentações virtuais, com o encontro de quintetos ou sextetos. As primeiras gravações seriam neste mês de março, mas foram adiadas devido ao agravamento da pandemia em Curitiba. 

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