Rapper Mano Cappu fala de religião, armas e cárcere em “Igreja Branca”

Inspirado em Kendrick Lamar e Mulamba, Mano Cappu lança o videoclipe de "Igreja Branca" exatos 11 anos após ter sido preso de forma injusta

O rapper e roteirista Mano Cappu lança, nesta quarta-feira (8), às 20 horas, seu novo videoclipe: “Igreja Branca”. Com inspiração no artista norte-americano Kendrick Lamar e nas curitibanas da banda Mulamba, a obra nasce após escândalos envolvendo a necropolítica de lideranças religiosas no Brasil.

A música escrita por Cappu parte de suas vivências como um homem negro em uma sociedade marcada pela violência racial. Cappu é rapper desde os 15 anos. Nasceu e cresceu na periferia de Curitiba (PR), frequentando a igreja evangélica e usando do hip hop como válvula de escape em meio à violência.  

O clipe é lançado na data em que o artista foi preso injustamente: 8 de junho de 2011. Ficou detido durante 18 meses por um crime que não cometeu. “Fui acusado de sete tentativas de homicídio e um homicídio, poderia ter sido condenado a mais de 200 anos de cadeia”, diz Cappu em material da assessoria de imprensa.

Absolvido

Quando foi absolvido em júri popular, sua vitória percorreu os templos religiosos evangélicos como um milagre de Deus. “Na igreja eu era o cara que fazia eles cantarem junto comigo: os fracos usam as armas, os fortes, a inteligência. Quando vi e ouvi igrejas apoiando um projeto político que é a favor do armamento da população, desabei. Basta. Saí e fui atrás da minha verdade e ela me libertou”, diz o artista.

Sinal de arminha

Para o rapper, o atual cenário político do país é também um reflexo da manobra de líderes religiosos que usam suas igrejas como palanque político. “É tempo de discutir religião e política. Chega. Não dá mais para varrer toda essa sujeira para debaixo do tapete. Porque eu, homem negro, morador de periferia e sobrevivente do cárcere, sei muito bem quais os corpos as balas ungidas irão acertar”, diz Cappu. “Quando imaginamos que, em pleno século 21, nós veríamos membros de igrejas fazendo sinal de arminha, pastor rifando uma arma calibre 12, pastor ungindo armas para ‘segurança da população’ e o prefeito de Curitiba levando armas para serem ungidas por um padre?”

Protagonistas

No roteiro do videoclipe, construído em parceria com o diretor e produtor paranaense Thiago Daher, Cappu colocou atores e atrizes negros e negras como protagonistas. Resolveu ficar atrás das câmeras, apesar de ser também ator.

“Por hora estou empenhado em colocar os meus como protagonistas em minhas histórias. Infelizmente, nossa representatividade nas telas é de apenas 13% e somos 54% no país; essa conta não bate. Precisamos urgentemente ter mais representatividade preta em todos os projetos audiovisuais brasileiros”, diz o artista.

Quem interpreta o pastor branco e armado é o ator Sávio Malheiros, que também tem uma longa vivência na igreja.

“Igreja Branca” também nos convoca a descolonizar o olhar. Cappu coloca Deus como uma mulher preta. Quem interpreta a Deusa no videoclipe é Telma Mello, ativista importante no cenário paranaense na luta contra o racismo. O single fará parte de “UFA”, primeiro álbum de Mano Cappu, que deve ser lançado ainda neste ano.

“Igreja Branca”

Lançamento nesta quarta-feira (8), às 20 horas, no canal de Mano Cappu, no YouTube.

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