“O menu” tira um belo sarro da alta gastronomia

Filme que estreia no Star+ tem o ator Ralph Fiennes no papel de um chef excêntrico e genial que se cansa da coisa toda

Uma mistura (ou deveria dizer mélange?) de comédia com terror, “O menu” tem pelo menos um alvo certo: a série “Chef’s table”, da Netflix. Ao longo do filme, que estreia no Star+ nesta quarta-feira (18), pratos inusitados são exibidos sobre a mesa e filmados em câmera lenta ao som de música clássica, e com legendas que explicam o conteúdo do dito-cujo. E o conteúdo nem sempre é o que se espera de um restaurante chique.

Ralph Fiennes, que fez o concièrge obstinado de “O Grande Hotel Budapeste” (2014), mais uma vez faz um papel de anfitrião. Só que no “Menu”, ele interpreta o chef Slowik, uma figura cultuada e excêntrica do mundo da alta gastronomia.

A experiência

Slowik administra um restaurante situado numa ilha que as pessoas precisam acessar de barco. Uma vez na ilha, todos os clientes têm de ficar lá até o barco voltar (e aqui você já deve estar montando o roteiro de terror com “a ilha da qual não se pode escapar”). Ao todo, são apenas dez pessoas que pagaram caro para viver a experiência de comer a comida de Slowik. Entre eles, estão Tyler e Margot.

Tyler (Nicholas Hoult, que interpretou o Fera num desses X-Men) é um fã alucinado do chef que comeria um prato de merda se ele fosse preparado por Slowik. Já Margot (Anya Taylor-Joy, de “O gambito da rainha”) não tem tanto interesse assim por comida e está ali mais para acompanhar o rapaz.

Na verdade, é justo dizer que o único que se interessa de fato pela comida, ou pela arte do chef, é Tyler. Assim como Margot, o trio de jovens startupeiros ricos, o casal de idosos podre de rico e o ator decadente rico foram levados mais pela propaganda em torno do lugar.

Sem spoilers, o jantar é de fato uma experiência inesquecível. Mas não pela comida. No que diz respeito a sabores e texturas, Slowik se esmera nas provocações. Ele é do tipo que serve patês e outros acompanhamentos de pão sem o pão. Para que todos vivam a experiência de imaginar o pão que não existe e refletir sobre a fome no mundo etc.

O menu

Cada prato do menu fica mais e mais absurdo. Até que as pessoas começam a sacar que tem algo estranho acontecendo. O chef está de saco cheio da coisa toda e pensou numa forma original de dar um fim ao trabalho exaustivo de uma vida inteira.

O personagem de Ralph Fiennes parece representar a maioria dos chefs obstinados e rigorosos que aparecem em episódios de “Chef’s table”, mas é difícil não lembrar de um em especial: René Redzepi, o dinamarquês do restaurante Noma, eleito o melhor do mundo cinco vezes.

Redzepi usa ingredientes bizarros e tem fama de ser violento na cozinha. Aliás, ele acaba de anunciar que vai fechar o Noma no fim de 2023 porque chegou à conclusão de que o modelo adotado por seu restaurantes não é mais sustentável. (Na prática, o restaurante contava – e muito ­– com a mão de obra dedicada e mal paga de dezenas de estagiários e cozinheiros. Uma vez que se viu pressionado a melhorar as condições de trabalho na firma, ele preferiu fechar.)

O bom do “Menu” é que ele tem senso de humor. Isso não é óbvio, mas ele tem.

Onde assistir

“O menu” estreia no Star+ nesta quarta-feira (18).

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