“Babilônia” se move num turbilhão de vulgaridades e mau gosto

Novo filme do diretor de “La La Land” é pretensioso de revirar os olhos ao fazer tributo para o cinema de Hollywood

Excrementos de elefante despencando sobre a cabeça de um homem, pessoas tendo espasmos com a boca espumando, urofilia, alguns vômitos e um homem comendo ratos vivos em uma “cloaca de Los Angeles” são algumas das situações que Damien Chazelle apresenta em “Babilônia”. Bem-vindos aos bastidores de Hollywood do final dos anos 20!

Trata-se de um retrato feito por Chazelle da velha Hollywood, especificamente a do final dos anos 20 e início dos anos 30, que àquela época já proporcionava, em escala gigantesca, emoção e entretenimento para milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas, ao contrário do que pensavam os ingênuos espectadores que torciam pelo final feliz de um lindo casal, a indústria dos sonhos era, de acordo com registros históricos, um parque de diversões de sexo, álcool e cocaína.

Damien Chazelle, realizador do preciso “Whiplash” e do simpático “La La Land”, busca potencializar esse universo em cenas de festas barulhentas em que há dançarinos nus, além de muita briga e confusão e com estrelas de cinema tendo overdoses em banheiros (figuras “glamorosas” em decadência). O diretor capricha nos longos planos, nos cortes alucinantes e no uso de uma potente trilha sonora jazzística, absorvendo o público em um turbilhão de vulgaridades e mau gosto. Mas, na plateia, reviramos os olhos e pensamos: “Ele, por acaso, acha que consegue chocar?”.

“Babilônia”

O excesso estilístico continua de “Babilônia” em sequências mais “prosaicas”, e de forma mais bem-sucedida, em que Chazelle mostra o caótico e nada glamoroso dia a dia das filmagens de grandes estúdios. Ataques histéricos de produtores e diretores, rebelião de figurantes mal pagos e a tensa corrida contra o tempo para conseguir filmar o sol que está se pondo. Tudo feito com humor, engenhosidade e uma recriação primorosa daquele período e ambiente.

Mas talvez a melhor parte sejam as cenas que retratam as dificuldades da realização dos primeiros filmes falados e a confusão envolvendo diretores, técnicos de som e os surtos das estrelas de cinema, sendo uma aberta homenagem ao clássico “Cantando na Chuva”, de 1952. Há momentos hilários.

Mas, interessante, o protagonista de “Babilônia” é um sujeito dos mais equilibrados e discretos. Conhecido como Manny, ele é interpretado pelo mexicano Diego Calvas, um quase estreante no cinema americano. O ator é conhecido pelo filme “Te Prometo Anarquia”, de 2015.

Manny é um “faz tudo” dos endinheirados de Hollywood, e seu sonho é trabalhar no cinema. É a partir de seu ponto de vista que temos acesso à indústria do cinema e seu universo nababesco.

Ele conhece a aspirante à estrela Nellie LaRoy, uma garota pobre e já à beira do colapso. Ela obterá sucesso, mas seu estilo de vida e sua ousada persona logo a afastarão das telas, uma vez que, no início dos anos 30, surgirá uma onda de conservadorismo na sociedade americana, e as rígidas regras de conduta impostas pelo governo (o chamado “Código Hays”) varrerão para longe a “depravação” de Hollywood.  

Margot Robbie

Nellie LaRoy é interpretada por Margot Robbie, que fez “Eu, Tonya”, “O Escândalo” e “Era Uma Vez em … Hollywood”. A atriz é convincente como a “It girl” em colapso, além de possuir um rosto e uma voz encantadores.

Brad Pitt completa o trio principal de “Babilônia”. O ator interpreta Jack Conrad, astro do cinema mudo que implode com a chegada do cinema falado. Ele, simplesmente, não funciona no cinema falado. Seus momentos de derrota dão a Brad Pitt bom material dramático, mas, infelizmente, seus (longos) discursos são um pouco óbvios, especialmente quando abordam a importância do cinema popular para o grande público, que não tem acesso à chamada grande arte. O personagem é inspirado no então famoso John Gilbert, que morreu em decadência pouco tempo depois do início da implantação do som nos filmes.

Damien Chazelle

Mas o grande destaque de “Babilônia” é Damien Chazelle, ou seja, é a própria feitura vertiginosa do filme. Chazelle é um ótimo artesão da arte cinematográfica, e assistimos com prazer ao seu show. Porém, suas ambições enfraquecem o final de “Babilônia”. O filme tem um longo e arrastado epílogo (completando as 3 horas do longa), momento da grande homenagem que Chazelle faz ao cinema e à história dessa arte.  Mas o cineasta não quer fazer uma homenagem qualquer. Isso é para diretores como Giuseppe Tornatore, com sua bela, enxuta e maravilhosa homenagem ao cinema na sequência final de “Cinema Paradiso”.

A aspiração de Chazzele é alcançar o universo para realizar o seu tributo à sétima arte. É uma cena longa, pretensiosa e, apesar de querer ser retumbante, acaba resultando monótona. E reviramos novamente os olhos. Mas, no conjunto, “Babilônia” deixa forte impressão, a ponto de, ao deixarmos a sala de cinema, estranharmos o mundo “real”.

Onde assistir

 “Babilônia” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (19).

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