Tarantino é genial, misógino e racista

“Era uma vez… em Hollywood”, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (15), pode ferir a sensibilidade dos politicamente corretos

Quentin Tarantino é o cineasta vivo mais genial, misógino e racista de Hollywood. Vai de acordo com o gosto do freguês.

Nesta quinta-feira (15), estreia “Era uma vez… em Hollywood”, o novo (e nono) filme de Tarantino. Brad Pitt e Leonardo DiCaprio estão nos papéis principais. O “nono” aqui é relevante porque o diretor já avisou que vai se aposentar depois de rodar dez longas-metragens. Resta um.

Dizem que esse que entra em cartaz agora é “o filme mais pessoal de Tarantino”, “uma declaração de amor ao cinema” e outras platitudes do gênero. O fato é que ele continua genial, misógino e racista.

Para o jornal “El País”, o próprio diretor fez uma comparação com “Roma”, o filme que deu a Alfonso Cuarón o Oscar 2019 de melhor filme estrangeiro. Cuáron disse que quis ambientar sua história no bairro rico de sua infância no México.

Tarantino também buscou referências de infância, mas em Los Angeles. Numa entrevista para a revista “Entertainment Weekly”, ele definiu a Califórnia da época de um jeito engraçado: era o fim dos anos 1960, as pessoas ouviam o rádio num volume absurdo e todo mundo tentava conversar falando mais alto que o rádio (baixar o volume era algo que não se cogitava). “Era uma vez…” tem essa atmosfera, de uma emissora de rádio tocando uma música pop barulhenta, a todo volume, num carro conversível.

Alguém pode até argumentar que o paralelo com Cuarón faz sentido, mas há uma diferença importante: “Roma” é um filme pedante. “Era uma vez… em Hollywood”, não. Tarantino não bota banca. Ele é o que ele é.

De certa forma, escrever sobre um filme novo do Tarantino é um pouco como escrever sobre uma das sequências de Star Wars. O homem tem uma carrada de seguidores que precisam só de cinco palavras: “um filme de Quentin Tarantino”. Qualquer outra informação é supérflua. Porém, para todos os que não são seguidores, segue uma explicação:

A história se concentra nas desventuras de um ator decadente chamado Rick Dalton (DiCaprio) que, depois de fazer sucesso numa série de bangue-bangue dos anos 1950, tem de se contentar com papéis secundários em produções dos anos 1960 elaboradas como veículos para galãs mais jovens do que ele.

Rick anda para cima e para baixo com seu dublê, Cliff Booth (Pitt), que é “mais que um irmão e menos que uma esposa”. A amizade dos dois é um dos três principais temas do filme – os outros dois são o cinema e a cidade de Los Angeles, com suas sessões de cinema, restaurantes e fins de tarde.

Assim como Tarantino manipulou a história em “Bastardos Inglórios” (2009), ele também a manipula em “Era uma vez… em Hollywood”. Lá, o contexto histórico era o da Segunda Guerra Mundial. Aqui, é o da Califórnia paz e amor de 1969, quando um demente chamado Charles Manson convenceu um bando de jovens a esfaquear quatro pessoas que viviam numa mansão em Cielo Drive – entre elas, a atriz Sharon Tate, esposa do diretor Roman Polanski (de “Chinatown” e “O bebê de Rosemary”), então grávida de oito meses. Guarde essa informação.

É assim que o roteiro se complica, com figuras que existiram e que existem de fato (como Tate e Polanski) contracenando com personagens fictícios (como Rick Dalton e Cliff Booth).

O fim é extremamente violento e pode ferir a sensibilidade dos politicamente corretos. (Se você é politicamente correto, melhor manter distância de Quentin Tarantino.)

Serviço

“Era uma vez… em Hollywood” estreia em várias salas de cinemas nesta quinta-feira (15).

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