“Mirador” presta atenção na vida comum que é também extraordinária

Filme do cineasta curitibano Bruno Costa conta a história de um pai que se vê sozinho com a filha pequena

Existem filmes que são bons para distrair e outros que vão na direção oposta e pedem para você prestar atenção. E prestar atenção em coisas que, de outra forma, poderiam passar despercebidas.

“Mirador”, do diretor curitibano Bruno Costa, quer que você preste atenção nos detalhes de uma vida comum em vários sentidos, mas que tem também algo de extraordinário. Porque assim é a vida: comum e extraordinária.

A vida comum retratada por Costa, que escreveu o roteiro com William Biagioli, é a de Maycon, interpretado por Edilson Silva. Ele é um pernambucano radicado em Curitiba que vive de bicos como lavador de pratos e como “chapa” – ajudando a carregar e descarregar caminhões. No entanto, o que ele gostaria mesmo de fazer é lutar boxe.

Ele treina um tanto, consegue disputar uma luta aqui e ali, mas a carreira não deslancha. Parece que nada acontece de fato. Ele teria de se dedicar mais e a necessidade de ganhar a vida acaba sendo um grande empecilho.

Um homem sério

Pelo que o filme deixa ver, Maycon parece ser um cara decente que tenta fazer as coisas direito. Além de ser extremamente sério. (Num país carnavalesco, um personagem sério, que ri pouco porque tem poucos motivos para rir, faz você pensar).

Como nada é tão ruim que não possa piorar, Maycon tem uma filha pequena, Malu, de quase dois anos. Um dia, ele chega para pegar Malu e descobre que a mãe da criança foi embora. Segundo a vó, ela fez isso porque “cansou”. Então Maycon se vê numa posição que, normalmente, é ocupada por mulheres. Porque é sempre a mãe que fica. Não o pai.

No papel do pai que fica, ele assume os cuidados de Malu. Mas não de um jeito edificante e heroico – este não é um filme do Will Smith. Maycon é resignado num primeiro momento e, depois, resiliente. Duas reações que parecem bastante saudáveis diante de uma realidade difícil de mudar.

“Mirador”

A atuação de Edilson Costa marca muito, principalmente pelo que ele não diz, mas deixa entrever. E uma parte considerável da força do filme está nas partes em que o ator contracena com a pequena Maria Luiza da Costa, que faz Malu.

Essa relação entre pai e filha dá o tom de “Mirador”, um filme que consegue ser sensível e humano, mas não sentimental. Sem dúvida, algo que merece muita atenção.

Onde assistir

“Mirador” está em cartaz no Cine Passeio com uma sessão diária às 20h e também na plataforma de streaming OlharPlay.

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