Melancolia marca poemas de Marcelo Wilinski no livro “Pedra-placebo”

Em entrevista, escritor curitibano fala de como angústias e medos inspiraram os versos do livro que saiu pela editora Kotter 

No livro “Pedra-placebo”, o escritor Marcelo Wilinski reúne toda a sua produção poética até setembro de 2021. Tratam-se de versos inspirados numa “vida de angústias e medos”. Há uma melancolia que perpassa os poemas, como neste trecho de “Coletivo eremita”: “só, sem sombra/ fujo do sol/ pois sei de cor/ o meu caminho// o dono da banca/ sabe de cor/ o meu caminho// o segurança da loja/ sabe de cor/ o meu caminho// o porteiro do prédio/ sabe de cor/ o meu caminho// falta cor no meu caminho”. 

Esse curitibano, que se formou em medicina e hoje trabalha no Sistema Único de Saúde, diz que passou a enxergar sua cidade de modo diferente, à medida que ficou mais velho. “A minha visão em relação à cidade mudou bastante, antigamente tinha algo de romântico ao tratar de Curitiba, hoje é uma visão mais crítica e obscura”, diz Marcelo Wilinski.

Marcelo Wilinski

Na entrevista a seguir, ele fala das tristezas da vida (o Paraná Clube é uma delas), dos livros que o influenciaram e de quem o incentivou a escrever e publicar. O livro “Pedra-placebo” está disponível pela Kotter Editorial.

Quais são os temas que permeiam os poemas do livro “pedra-placebo”?
Por ser uma reunião de toda a minha (pequena) produção até aquele período, existem alguns temas que podem ser notados ao longo do livro. Inclusive, a divisão em capítulos respeita um pouco essa questão temporal. Algo que é recorrente nos poemas é uma melancolia no modo de ver as coisas, algo mais introspectivo e até apático. Além disso, passo por questões da infância, uma visão mais ingênua, além de muitas passagens por Curitiba e essa cidade que é conservadora até o último fio de cabelo. Chega até a ser engraçado, a minha visão em relação à cidade mudou bastante, antigamente tinha algo de romântico ao tratar de Curitiba, hoje é mais crítico e obscuro. Alguns poemas também falam sobre a minha relação com o Paraná Clube, um dos grandes motivos dessa melancolia!

Luci Collin

Que escritoras e escritores você diria que influenciaram a sua maneira de escrever?
Na adolescência, o primeiro escritor que me desconcertou foi Dalton Trevisan, tanto pela temática mais “suja”, digamos assim, quanto pelas ligações com a própria cidade. Outros que vieram na sequência: Ferreira Gullar, Luci Collin, Rodrigo Madeira, Oswald de Andrade, Paulo Leminski. Nos últimos anos, tenho lido tudo do Manoel Carlos Karam e me identifico muito com o lado mais nonsense dele, com o humor ácido que ele coloca nos textos dele.

Você poderia falar um pouco sobre as circunstâncias em que escreveu os poemas de “pedra-placebo”?
Desde sempre eu escrevo, mas nunca tive a visão mais prática da coisa, ficava apenas na ideia quase utópica de escrever e publicar e escrever mais. Por volta de 2019, iniciei uma oficina de poesia com a Luci Collin na Escola de Escrita. Essa oficina foi anual e passei todo esse período convivendo com a Luci, absorvendo tudo o que podia. Nesse período, produzi muita coisa e revivi muitas outras que tinha feito anteriormente. Esse processo foi muito incentivado pela própria Luci, que me deu um respaldo gigantesco para tirar o projeto do “pedra-placebo” da cabeça e organizar. Isso aconteceu durante a fase mais grave da pandemia de covid-19, em meados de 2020. Ainda acabei escrevendo mais alguns poemas nessa fase, chegando até a publicação em setembro de 2021.

Referências

Na sua opinião, ao escrever, qual é sua principal habilidade? E qual é sua maior dificuldade?
Dificuldades são duas, ao meu ver: ainda não consigo (da maneira que eu gostaria) ver o livro como uma unidade, com um tema central ou algo que o norteia, por exemplo. Mas acredito que isso venha com o tempo. Outra dificuldade é a de fugir de lugares comuns. Estou cada vez mais ficando atento a isso, mas volta e meia acabo caindo no clichê. Das habilidades, uma delas é a da criação de títulos para os poemas. Gosto muito dos meus títulos, vejo eles como parte essencial ao poema. Outra habilidade, acredito, seja a de conseguir misturar referências mais “eruditas” com outras mais “trash” e não soar estranho.

Se você fosse indicar seu livro para alguém, o que você diria a respeito dele?
Eu sou péssimo para fazer propaganda de mim mesmo! Acho que é um livro com muitas faces de um escritor apaixonado pela palavra, faces que transitam entre sarcasmo e desesperança. Garanto que não tem nenhum ensinamento filosófico ou algo para ficar para a eternidade.

Livro

“Pedra-placebo”, de Marcelo Wilinksi. Kotter Editorial, 132 páginas, R$ 49,70. Poesia.

Sobre o/a autor/a

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